Fortalecendo ancestralidade, memórias e direitos nos territórios do Corredor Carajás
Turma da 4ª edição da Escola de Educação Popular no Corredor Carajás reunida no Quilombo Rampa: 40 integrantes, muitas histórias e uma só luta coletiva.
Nos dias 26 a 28 de setembro de 2025, o Quilombo Rampa, em Vargem Grande-MA, foi palco de mais uma etapa da Escola de Educação Popular no Corredor Carajás, iniciativa realizada em parceria pela Justiça nos Trilhos (JnT) e o Gedmma. Este foi o 5º encontro da escola, que chega à sua quarta turma, consolidando-se como espaço de formação, resistência e fortalecimento comunitário.
A escola é formada por 40 integrantes, indicados por lideranças de suas comunidades, com idade a partir de 16 anos. As atividades acontecem a cada dois meses, em finais de semana, em comunidades tradicionais, quilombolas ou terras indígenas, e são precedidas por um intenso processo de preparação e mobilização. O objetivo central é aprofundar os estudos, estabelecer contatos, conhecer e apoiar lutas locais, além de fortalecer a memória e a identidade de povos que, historicamente, foram pensados como destinados a desaparecer.
“Mais importante do que o que se mostra, é o que se esconde.” – Raimundo, Quilombo Rampa
Contos, cantos e o som do Tambor de Crioula marcaram os três dias de vivências: a acolhida do Quilombo Rampa ensinou sobre simplicidade, força e ancestralidade.
Durante os três dias de encontro, os integrantes se debruçaram sobre o tema “Ancestralidade, memórias, força dos territórios: Protocolo de Consulta Livre, Prévia, Informada e de Boa Fé”, conduzido pelos assessores Raimundo Quilombola (Quilombo Rampa) e Joercio Pires (Leleco, do Quilombo Santa Rosa dos Pretos). Entre contos, cantos, histórias e o som do Tambor de Crioula, o aprendizado ganhou força não apenas nos conteúdos, mas na experiência viva do território.
Integrantes da Escola de Educação Popular: aprendendo, trocando e construindo caminhos para a cidadania e os direitos da natureza.
O Quilombo Rampa é descrito por moradores como um “cantinho e centro do mundo”, um lugar onde a simplicidade, a entrega e a manutenção dos costumes reforçam a identidade comunitária. A acolhida calorosa e a energia do local foram sentidas por todos por meio dos sorrisos, brilho nos olhos e o sentimento de pertencimento marcaram a experiência.
Segundo Maju Silva, educadora popular na JnT, “é fundamental que as atividades aconteçam dentro das próprias comunidades dos cursistas e participantes. Esses encontros favorecem o intercâmbio e a troca de saberes. A Escola de Educação Popular, por meio das formações, busca potencializar os conhecimentos já existentes, fortalecendo a luta e a resistência nos territórios”.
Formação, resistência e pertencimento – cada rosto é um território de memória e futuro. Vídeo: Renata, do GEDMMA
O encontro reafirmou a importância da formação como ferramenta de resistência, permitindo que comunidades historicamente marginalizadas recuperem as histórias de reação e lutas de seus ancestrais. Nesse espaço, os integrantes buscam formas de levantar do chão e tornar pública sua existência, seus direitos ambientais e territoriais e sua vontade de continuar a ser e viver como são.
“Conhecer a história e a potência que o território Quilombo Rampa representa é energizante e renova os ânimos”, relatam participantes.
O 5º encontro reforça a missão da Escola de Educação Popular no Corredor Carajás: transformar conhecimento em ação, memória em mobilização e ancestralidade em resistência. A iniciativa não apenas fortalece lideranças locais, mas também cria uma rede de solidariedade, diálogo e aprendizado contínuo, mantendo viva a chama da cidadania, dos direitos humanos e dos direitos da natureza.
Com informaçõesRádio TV Quilombo Rampa – Raimundo Quilombola e GEDMMA
Terceira turma da Escola de Educação Popular em Piquiá de Baixo, Açailândia (MA).
Entre os dias 11 e 14 de abril, a comunidade de Piquiá de Baixo, em Açailândia (MA), sediou as discussões da terceira turma da Escola de Educação Popular. Dessa vez, jovens de diferentes territórios do Maranhão puderam aprender e conversar sobre a temática dos Fluxos Financeiros e Ilícitos no setor da mineração.
Com mediação de Larissa Santos e Renato Paulino, juntamente com os/as educadores/as populares Maju Nascimento, Alaíde Abreu, Joércio Pires e João Paulo Alves, da Justiça nos Trilhos (JnT), além do Grupo de Estudos: Desenvolvimento, Modernidade e Meio Ambiente (GEDMMA) da UFMA de São Luís, os jovens discutiram de forma teórica e prática os efeitos das manobras fiscais na cadeia da mineração e como elas implicam na diminuição de recursos da Compensação Financeira pela Exploração Mineral (CFEM) nos territórios violados pelos grandes empreendimentos.
Essa formação vem em um momento crucial da luta pelos direitos das comunidades violadas e por mais transparência fiscal no setor da mineração. Com essas discussões, os territórios podem reconhecer com mais facilidade as diversas estratégias empresariais utilizadas por empresas como a Vale S.A. no pagamento de menos impostos no Brasil.
Jovens discutem sobre o tema em dinâmica.Larissa Santos apresenta a pesquisa sobre Fluxos Ilícitos.
De acordo com Larissa Santos, coordenadora política da JnT, “precisamos conhecer outros tipos de impactos, a dizer os financeiros, que afetam igualmente nossas vidas e aumentam a desigualdade social nas comunidades que têm atividade ligada à cadeia da mineração. No Maranhão, com a prática financeira ilícita constatada na atividade mineral, o estado e municípios perdem principalmente com os valores que são repassados em decorrência da exploração mineral, ou seja, os recursos advindos da CFEM. Enquanto isso, as empresas lucram com o que deixam de pagar a esses municípios”, reforça ela.
A Formação Política é um projeto da Justiça nos Trilhos, em parceria com o GEDMMA, os/as estudantes, educadores e educadoras populares, comunidades, lideranças e pessoas violadas pela cadeia da mineração no estado do Maranhão. A primeira turma aconteceu em 2014, e há dez anos vem formando jovens lideranças. Dessa vez, aconteceu num terreno histórico para as lutas pelos direitos humanos, a comunidade de Piquiá de Baixo.
Piquiá da Conquista recebe os jovens da formação política.Flávia Nascimento, uma das lideranças de Piquiá de Baixo posa para a foto no Reassentamento Piquiá da Conquista.Empresas da siderurgia dividem a vizinhança com a comunidade de Piquiá de Baixo.
Para mais informações sobre a temática dos Fluxos Financeiros e Ilícitos no setor da mineração, acesse aqui a pesquisa completa sobre “O Paraíso Fiscal da Vale e seus efeitos nos municípios minerados: Preços de Transferência, CFEM e a Vale S.A.”.
O livro é resultado da parceria de pesquisa entre a Alternative Information & Development Centre (AIDC), o Asian People’s Movement on Debt and Development (APMDD), a Rede Igrejas e Mineração (RIyM), a Justiça nos Trilhos (JnT) e o grupo de pesquisa e extensão Mineração e Alternativas (MINAS) da Universidade Federal de Viçosa (UFV), no projeto Global South, que teve como objetivo investigar os fluxos financeiros ilícitos do setor mineral em diferentes países, e no Brasil, da mineradora Vale S.A., especificamente.
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