III Encontrão e Mostra Audiovisual da Jacá: Juventude, Comunicação Popular, Resgate Ancestral e Direitos Humanos no Maranhão

III Encontrão e Mostra Audiovisual da Jacá: Juventude, Comunicação Popular, Resgate Ancestral e Direitos Humanos no Maranhão

Piquiá de Baixo, Maranhão, Brasil: uma comunidade resistente que completou 19 anos de luta por reassentamento e reparação integral, enfrenta diariamente os impactos das grandes indústrias de mineração, atravessada pela Estrada de Ferro Carajás (EFC), com seus direitos humanos violados.

No entanto, falar de Piquiá de Baixo não se resume ao sofrimento. A comunidade é repleta de histórias, especialmente de mulheres guerreiras, território de um povo alegre que, ao longo de três dias, acolheu calorosamente os participantes do III Encontrão da Rede Jacá de Comunicadores e Comunicadoras Populares do Maranhão. A comunidade não apenas abriu suas portas, mas também compartilhou suas casas, suas mãos para alimentar, seus rios, seu tempo e suas histórias de lutas.

Simone Ferreira, moradora de Piquiá de Baixo e pertencente ao grupo da Horta para a Cozinha, que produziu a alimentação durante os dias do evento, expressa sua alegria em receber o evento em sua comunidade: – “Minha expectativa é boa, é muito bom receber outras comunidades, até a minha, e poder conhecer a história deles, e eles também conhecerem a minha comunidade, a minha história, a nossa história, né? Que é muito bonita”. Finalizou.

O evento, realizado há três anos, busca reunir comunicadores e comunicadoras populares do Maranhão, especialmente comunicadores de áreas impactadas pela mineração e pelo agronegócio. O evento também reúne artistas, midiativistas, ativistas, entre outros. Além de debates e oficinas, este ano contou com a I Mostra Audiovisual da Rede Jacá, exibindo produções dos comunicadores de cada território, mostrando o conhecimento e as habilidades dos participantes.

Mateus Adones, do município de Santa Rita e integrante do Coletivo Pinga Pinga e membro da rede Jacá, afirma: “O encontrão visa reanimar e estruturar a colaboração entre os participantes do movimento social, oferecendo um impulso, inclusive financeiro, para energizar as comunidades. Este evento não se limita apenas aos comunicadores, mas também apresenta produções audiovisuais das comunidades e coletivos, independentemente de financiamento. A mudança para realizá-lo dentro das comunidades é crucial, pois é lá que ocorrem as atividades relevantes, abordando a dificuldade de comunicação de dentro para dentro. Isso não apenas beneficia os comunicadores, mas também a comunidade em sua totalidade”.

Daniela Gavião, jovem da Comunidade Monte Alegre e integrante da coordenação da Tupi-Jê, descreve sua experiência no encontrão: “Essa organização ajuda os jovens a lutar pelos direitos e pelo território e estamos querendo trazer mais jovens para se envolverem.” Também destacou a hospitalidade e luta da comunidade de Piquiá de Baixo, inspirando a luta pelos direitos e território do Povo Indígena Gavião.

A comunicação popular no Maranhão tem sido essencial para proporcionar voz às comunidades impactadas, expondo os conflitos territoriais e seus impactos nos direitos humanos e da natureza. Esta forma de comunicação empodera as comunidades ao compartilhar autenticamente suas histórias e desafios, sendo o instrumento disponível para que elas possam expressar suas realidades de maneira significativa.

Encontrão da Rede Jacá desempenha um papel crucial ao proporcionar um espaço para troca de experiências entre comunicadores populares, fortalecendo laços e promovendo narrativas inclusivas e representativas, empoderando comunidades de coletivos e conscientizando sobre a importância dos direitos humanos e da preservação dos territórios.

TEXTO: Débora da S. Baima, João Victor Barbosa e Marcelo Durans

EDIÇÃO: José Carlos de Almeida

FOTOGRAFIAS: Antônio Marciel Pires, Fabiano Rocha, João Victor Barbosa, Marcelo Durans e Tayná Carvalho Vargem.

 “Honra Medonha”: Raimundo Quilombo na lista dos 50 jornalistas pretos mais admirados do Brasil

 “Honra Medonha”: Raimundo Quilombo na lista dos 50 jornalistas pretos mais admirados do Brasil

Raimundo utiliza a comunicação popular para falar da cultura de seu povo, e denunciar violações.

Raimundo José, licenciado em geografia pela Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), é jornalista quilombola e defensor da natureza e dos direitos humanos. O comunicador popular utiliza essa ferramenta para dar visibilidade e disputar as narrativas a partir de seu próprio povo, cultura e ancestralidade. Fundador da TV Quilombo Rampa, ele narra com a sua voz e criatividade, o dia-a-dia do Quilombo Rampa, localizado próximo ao município de Vargem Grande, no Maranhão. Recentemente, o maranhense saiu na lista dos +Admirados Jornalistas Negros e Negras da Imprensa Brasileira. O prêmio é uma iniciativa do Jornalistas&Cia em parceria com 1 Papo Reto, Neo Mondo e Rede JP de Jornalistas pela Diversidade na Comunicação, para homenagear e reconhecer o trabalho de jornalistas negros e negras da imprensa brasileira. É realizado por meio de uma eleição em dois turnos de votação aberta a todo o ecossistema do Jornalismo e da Comunicação. Em depoimento à Justiça nos Trilhos, o comunicador popular fala da comunicação como instrumento de sobrevivência e luta, e qual lugar que ela ocupa na sua vida e comunidade.

R.J.: “Fala, galera medonha! Raimundo Quilombo na voz da Rádio TV Quilombo Rampa. Eu ter ficado entre os 50 jornalistas pretos mais admirados da imprensa brasileira, para mim, foi uma honra medonha! Ainda mais porque a gente já está fazendo há tantos anos esse trabalho voltado para comunicação popular, de dar visibilidade para as comunidades, tanto na luta contra o racismo, contra o preconceito, contra todas as formas de violações de direitos.

Em uma luta que é a favor da saúde, da educação, a gente sempre levanta essa bandeira da comunicação popular. [Para mim], a Comunicação Popular é como uma ferramenta de transformação de vidas. Ela tem sido uma das formas que está mantendo as comunidades cheias de esperança: esperança de dias melhores, esperança de um presente melhor, esperança que passa por várias situações, entre as principais, o querer viver bem, o querer viver tranquilo em suas comunidades, em seus territórios, livre de perseguições políticas, livre de perseguições de empresas, do latifundiário, ou seja, todas essas práticas maldosas que atravessam nossos povos e comunidades tradicionais.

Então, para mim [o prêmio], soou como muito importante. A gente prega o uso da tecnologia, tecnologia ancestral, fazendo com que a tecnologia moderna se adapte a essa realidade e seja mais uma ferramenta que possa contribuir na nossa luta diária. Eu fiquei muito feliz, e um dos motivos da minha felicidade é saber que a comunicação popular está no caminho certo, e a gente tem feito esse trabalho, e cada dia mais isso nos motiva a permanecer nessa linha de atuação, que é vida, que é a comunicação do respeito, que é a comunicação como deve se comunicar; levando em consideração que tudo na comunidade pode ser visto, tudo pode ser mostrado. É respeitando também o que deve ser e o que não deve ser filmado, e denunciando mesmo aquilo que tem que ser denunciado e cobrado.

Então, para a gente que faz comunicação popular, estar entre os 50 jornalistas pretos da imprensa brasileira mais admirados do Brasil, nesse Brasil gigante, para nós muito importante, porque fortalece a nossa luta coletiva, para usar a comunicação popular como uma comunicação real que ela é, não como uma comunicação que o pessoal pensa que é secundária, que não tem relevância. A gente mostra a partir daí que a comunicação popular é uma potência e ela fala de realidade, porque fala na proteção de vidas.”

Na premiação, que aconteceu no dia 13 de novembro, o comunicador agradeceu ao prêmio em postagem no instagram: “Dedico a todas comunidades quilombolas, indígenas e povos e comunidades tradicionais que acreditam e tem a comunicação popular como uma importante e necessária ferramenta na luta contra as mais diversas violações de direitos”, finalizou.

Por Yanna Duarte e Lanna Luiza