Jangada Água Viva: Autogestão como fonte de resistência comunitária

Jangada Água Viva: Autogestão como fonte de resistência comunitária

“Temos que cuidar das nascentes de Jangada. Temos que cuidar do que ainda resta. A água sempre arruma um jeito para correr livre dessas sujeiras que a mineração produz, e é isso que me preocupa, porque pode ser que fiquemos todos sem água. A água é ‘sabida’ e vai dar um jeito de viver, mesmo que seja longe de nós”. É assim que o aposentado de 74 anos, Silvio Lima, morador que nasceu e vive até hoje em Jangada, zona rural de Brumadinho (MG), iniciou seu discurso no evento “Valorizando a Memória para ação presente: a Verdade pelas Águas e pela Vida – A história de resistência à mineração em Brumadinho 2010-2019”, realizado em parceria com a Campanha Janeiro Marrom, que também homenageou às 272 vítimas fatais do maior crime socioambiental, cometido pela Vale no Brasil. 

A preocupação de seu Silvio é a mesma das 200 famílias que moram na comunidade de Jangada, localizada a cerca de 15 km da barragem de rejeitos do Córrego do Feijão, em Brumadinho. Após um ano do crime que devastou grande parte da fauna e flora da região banhada pela bacia do Rio Paraopeba, 48 cidades, uma média de 1,300 milhão de habitantes, seguem com o uso da água do rio suspensa. O problema hídrico em Minas Gerais é assunto bastante abordado pelos comitês e associações que zelam pelo bem viver das comunidades afetadas pela cadeia da mineração no estado.

Antes da poluição com rejeitos de minério, o Rio Paraopeba era responsável por 30% do total de abastecimento da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), sendo os outros 70% abastecidos pela bacia do Rio das Velhas. Em janeiro de 2019, o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas alertou sobre os riscos: há em torno de 70 barragens de rejeitos ao longo do curso do rio, sendo que 40 estão com risco de rompimento, o que ameaça a água potável para beber, cozinhar e as demais atividades básicas do cotidiano de 5 milhões e meio de pessoas, na terceira maior região metropolitana do país.  

Nos últimos quatro anos, a Vale devastou o rio Doce e rio Paraopeba em Minas Gerais, espalhando cenas de destruição por todo Brasil e pelo mundo. Há sérios riscos de poluição de mais um rio no estado mineiro, um dos maiores afluentes do Rio São Francisco, o Rio das Velhas.

De acordo com dados da classificação da Agência Nacional de Mineração (ANM), o Brasil tem em média 200 barragens com alto potencial de dano. Minas Gerais é o estado que mais tem barragens com potencial de dano considerado alto. Entre as quase 200 catalogadas, 132 estão no estado. Para o resultado, a análise leva em conta perdas de vidas humanas e impactos sociais, econômicos e ambientais em caso de rompimento. No relatório, a barragem I do Córrego do Feijão em Brumadinho era considerada de risco baixo, o que demonstra que não há como mensurar de forma exata quais barragens estão realmente seguras e as devastações que um rompimento pode causar. 

A comunidade de Jangada e o Movimento Águas e Serras de Casa Branca, que atuam no monitoramento das operações do Complexo Paraopeba da Vale desde 2010, reafirmam o processo de enfrentamento se fortalecendo após o criminoso rompimento da barragem em Brumadinho. “Nossa água é inegociável, nossas vidas não estão à venda. Há anos também defendemos o direito de dizer Não à mineração”, afirma Carolina de Moura, coordenadora da Associação Comunitária de Jangada, agricultora, jornalista e moradora da região. 

Lugar onde a memória da água é viva 

A rede de abastecimento de água da Jangada foi construída e é administrada de forma comunitária. Historicamente, há mais de 100 anos, antes de qualquer mineradora chegar à região, a população capta e distribui a água para seu consumo diário nas nascentes do Córrego da Jangada. São pelo menos seis nascentes que sofrem sérias ameaças com avanço da mineração. A comunidade hoje possui um manancial de porte, com vazão de 62 litros por segundo (90 metros cúbico por hora).

Os moradores se organizam por meio da Associação Comunitária de Jangada, que foi fundada em 2007. A história de defesa das águas e serras na região tem sido protagonizada por um coletivo de pessoas e grupos, e não apenas pela Associação da Jangada. Em alguns momentos o enfrentamento vem sendo realizado de forma mais ampliada pelo Movimento Águas e Serras de Casa Branca, articulado com outros grupos e organizações do Brasil e do exterior. 

“Temos como pauta central a defesa da água como direito humano e essencial à vida. Em meio a um trauma intenso e muita dor, fomos obrigados a ampliar nossa pauta, e agora trabalhamos também por Verdade, Justiça, Reparação Integral e Garantias de Não Repetição. Queremos que ninguém, em lugar nenhum do mundo, passe pelo o que estamos passando,” destacou Carolina em entrevista exclusiva para a Campanha Água Para os Povos. Além da incidência política junto às instituições de justiça e órgãos licenciadores, algo relevante na história da organização dos moradores é o trabalho de cultura e educação popular: Tardes Festivas pelas Águas e Serras, cinema na praça, teatro na escola, seminários e debates públicos. 

Segundo Carolina de Moura, que coordenada as frentes de trabalho da Associação, desde 2013, após a comunidade de Jangada ter feito um insistente trabalho de incidência junto à Prefeitura Municipal de Brumadinho e ter adquirido o aporte de materiais para a reforma da rede de distribuição de água, os moradores, de forma organizada, fazem o controle de qualidade da água. Seu Silvio é um dos responsáveis pela manutenção da área de captação. “Isso foi uma grande conquista, pois conseguimos colocar canos mais grossos, o que melhorou significativamente a chegada de água na casa das pessoas”, exalta. 

Positivamente, a autogestão da água na comunidade de Jangada pode ser considerada fonte de inspiração para outras comunidades, que também enfrentam impactos da mineração no Brasil. Toda organização da comunidade em torno do cuidado com as nascentes, que podem ser destruídas com a cadeia da mineração no estado, tem fortalecido a consciência de ecologia integral e da importância da organização popular. Para eles, a autogestão comunitária da água significa autonomia sobre um item que é fundamental para a sobrevivência. “Não somos reféns do poder público nem de nenhuma empresa para a distribuição de água do bairro”, afirmam os moradores em seus encontros periódicos. 

“Tenho a impressão de que as pessoas não sabem que a gestão da distribuição da água pode ser feita dessa forma. Isso está previsto na Lei de diretrizes do saneamento básico (Lei Federal 11.445/2007). Creio que nossa experiência mostra de alguma forma a importância de as pessoas cuidarem do seu território e tomarem iniciativas coletivas para solucionar por elas mesmas alguns dos seus problemas,” completa Carolina. 

“Lutar pela defesa da água, das pessoas e da Casa Comum é algo necessário, digno e gratificante.”

“Creio que nossa história inspira porque nós não desistimos. Tínhamos problemas na rede de distribuição de água e batalhamos até conseguir construir uma nova rede.  Mesmo sabendo que a Vale é gigante e atua de maneira inescrupulosa para atingir seus interesses, nós não nos intimidamos e lutamos incansavelmente para impedir as renovações de licenças ambientais e projetos de expansão do Complexo Paraopeba. As derrotas que sofremos são resultado da irresponsabilidade e ineficácia de quem tem o dever de cuidar do interesse coletivo”, reafirma Carolina. 

Para os moradores de Jangada e Casa Branca, a organização comunitária e popular tem sido uma importante ferramenta de cura., “Depois do trauma que vivemos, das cenas de guerra e terror que enfrentamos, da doída saudade eterna de todas as vidas que perdemos e da paz e do sossego que desapareceram, nós seguimos, dia a dia, nos reinventando para transformar o luto em luta. A gente se reúne, debate, desabafa, se apoia, fortalece os afetos e segue em frente”, completa.  

E com o apoio técnico de parceiros, especialmente o Movimento pelas Serras e Águas de Minas (MovSAM) e o Movimento pela Preservação da Serra do Gandarela, os moradores se fortaleceram e passaram a compreender no processo que não é possível conciliar a expansão de atividades mineradoras com a garantia da segurança hídrica. O minério de ferro e a água estão na mesma camada geológica: o quadrilátero ferrífero é, também, quadrilátero aquífero. Em meio à explosão de uma grave crise hídrica e climática, cujas tendências para o futuro não são animadoras, as nascentes subterrâneas são preciosidades de valor inestimável para a sociedade. “Já está claro tanto do ponto de vista científico (teórica e analítica) como empírico (prática): ou os mananciais são preservados ou a mineração expande suas atividades. As duas coisas são incompatíveis, não é possível o consenso, é um ou outro, é uma disputa territorial. Meu território, meu corpo. A humanidade precisa estar ciente de que está fazendo uma escolha. Defenda sua vida. Defenda a água”, conclui e clama a coordenação.

Campaña “Enero Marrón” recuerda un año del crimen de Vale en Brumadinho y advierte sobre las constantes violaciones de empresas mineras

Campaña “Enero Marrón” recuerda un año del crimen de Vale en Brumadinho y advierte sobre las constantes violaciones de empresas mineras

En el próximo 25 de enero, se completará un año de uno de los mayores crímenes sociales y ambientales cometidos por la empresa minera Vale en Brasil: la presa de relaves de la mina Córrego do Feijão estalló en Brumadinho (MG), matando al menos a 259 personas ya identificadas, así como dos niños no nacidos, Lorenzo y María Elisa, quienes murieron en el vientre de sus madres. Once personas siguen desaparecidas.

La avalancha de unos 12 millones de metros cúbicos de lodo tóxico que enterró a mujeres, hombres, animales y vegetación también mató al río Paraopeba a 40 km de la presa rota, impactando a pueblos nativos, fauna y flora que dependían de él.

En 2015, Samarco, una subsidiaria de Vale y de la anglo-australiana BHP Billiton, había cometido el mismo crímen en Minas Gerais. La ruptura de la presa del Fundão en el municipio de Mariana mató a 19 personas y dejó un rastro de destrucción con 40 millones de metros cúbicos de lodo tóxico que arrasó animales, vegetación, comunidades, hogares, el Río Doce y parte de la costa brasileña.

Tanto Samarco como Vale conocían de antemano el riesgo real de la ruptura de las presas, pero no tomaron medidas para evitar las tragedias. Hasta ahora, nadie ha sido castigado por ninguno de los delitos.

La indignación con la impunidad, con la connivencia y la omisión del Estado y el poder de operación de las compañías mineras en Minas Gerais llevaron a los miembros del Movimiento por las Montañas y las Aguas de Minas (MovSAM) a crear la campaña “Enero Marrón”. El objetivo de la campaña, según Maria Teresa Corujo, miembro del movimiento y ambientalista en Minas Gerais, es recordar, durante todo enero, el crimen de Vale en Brumadinho y hacer visible el papel del estado y los aliados de las compañías mineras que también son responsables del crimen.

Además, existe el alerta “sobre la minería que mata y atormenta a las personas, destruye comunidades y biomas, vidas, fauna, flora, paisajes, calidad del aire y del suelo, manantiales, acuíferos y ríos, y avanza sin descanso por territorios tornando inviables otras formas de vida, viola los derechos y hace uso de las estrategias más diversas para tomar a la población como rehén ”, agrega María Teresa, quien también es parte del Movimiento para la Preservación de la Sierra do Gandarela y SOS Serra da Piedade.

Alianza entre ¡Agua para los Pueblos! y Enero Marrón

Durante el mes de enero, el capítulo brasileño de la campaña “¡Agua para los pueblos!” irá unirse a la campaña “Enero Marrón” publicando en este sitio reportajes sobre el crimen de Vale y contenido exclusivo en Twitter, Facebook e Instagram sobre Brumadinho y la resistencia de los pueblos y comunidades a violaciones cometidas por empresas mineras. Las tragedias de Mariana y Brumadinho muestran, de manera superlativa, las tragedias diarias de cientos de comunidades brasileñas como Piquiá de Baixo (Açailândia/MA) y Santa Rosa dos Pretos (Itapecuru-Mirim/MA), violadas por Vale y la minería durante décadas. A continuación, lea la entrevista dada por Maria Teresa Corujo al sitio. 

¿Qué es el “Enero Marrón” y cómo surgió?

Enero Marrón es una campaña de concientización y alerta, similar a Octubre Rosa y Noviembre Azul, que ahora forman parte del calendario anual de campañas. Surgió en diciembre de la idea de Guto quien, junto con otros miembros del Movimiento para las Montañas y las Aguas de Minas (MovSAM) en el que participa, desarrolló el plan inicial que se compartió con otros activistas para su realización.

¿En qué consiste la iniciativa?

La iniciativa consiste en una campaña a través de las redes sociales basada en la adhesión de organizaciones, movimientos y personas que se unen en un colectivo para abrazar y alcanzar su objetivo. A lo largo de enero, se publicará material que reúne datos, información, aclaraciones, reflexiones y noticias relevantes sobre la minería y sus impactos en las comunidades y el medio ambiente y cómo el Estado ha estado en silencio o coludiendo. La campaña también dará visibilidad a los actos, eventos y manifestaciones relacionados con el hito de un año de la ruptura el 25 de enero de 2019, como la primera peregrinación arquidiocesana para la ecología integral de Brumadinho.

¿Cómo pueden las personas, grupos y entidades apoyar a “Enero Marrón”?

Uniéndose a la campaña como ya está sucediendo con el uso del lazo marrón en las fotos de perfil en Facebook y logotipos de organizaciones y movimientos que ya participan en el Enero Marrón. Siguiendo a la campaña @janeiromarrom en Instagram y Twitter y compartiendo con amigos; grabar un video de apoyo de la campaña usando el [hashtag] #janeiromarrom (máximo 1 minuto), realizar acciones de Enero Marron en su municipio y enviar fotos / videos para ser publicado (janeiromarrom@gmail.com) y siguiendo las publicaciones del blog de la campaña.

¿En qué contexto se creó la campaña?

Enero Marrón fue creado porque estamos indignados con la impunidad con respecto a los crímenes de Samarco (2015) y Vale (2019) y la hegemonía y el poder que tiene la minería en Minas Gerais a pesar de los graves impactos y violaciones durante décadas. La verdad es que para las compañías mineras y la mayoría de las autoridades, gobiernos, municipios, políticos y el poder judicial, es como si nada hubiera sucedido en Brumadinho. Es como si 272 personas no hubieran muerto (dos bebés murieron junto con sus madres embarazadas), parte del río Paraopeba ha sido destruida y destruyeron la cuenca hidrográfica que abastecía a miles de personas. Es como si en 2015 el Río Doce y la costa no hubieran sido impactados como lo fueron, 19 personas no hubieran sido muertas, Bento Rodrigues y otras comunidades destruidas, el pueblo Krenak perdido su río Watu y miles de personas sufrido varios tipos de pérdidas.

Hemos visto al Estado respaldar repetidamente, con opiniones favorables, proyectos mineros donde hay represas que son “bombas de tiempo”. Por ejemplo, el 20 de diciembre de 2019, en una reunión del Consejo de Estado para Actividades Mineras (CMI) del Consejo de Estado para Política Ambiental, que duró 12 horas ininterrumpidas, se otorgó una Licencia de Operación para la elevación de la presa de Anglo American en Conceição do Mato Dentro (MG) que tendrá alrededor de 300 millones de metros cúbicos de relaves, incluso con comunidades en la llamada Zona de Auto Rescate (que llamamos Zona de Alto Riesgo de Muerte), que la Ley, conocida como el Mar de Lodo Nunca Más, prohíbe expresamente. Con opinión legal favorable del Fiscal General del Estado que no cumplió con una recomendación del Ministério Público del Estado. Diez de los doce consejeros votaran a favor de la otorga de la licencia mismo contra la ley

La posibilidad de nuevas rupturas de presas es muy real por la forma en que se aborda el problema porque las autoridades no hacen ninguna acción efectiva. Tenemos regiones en Minas Gerais como Itabira, Alto Rio das Velhas y Paracatu con presas de relaves con una gran cantidad de personas alrededor. En Itabira hay alrededor de 10,000 personas que viven en la Zona de Auto-Rescate de las 17 represas de relaves de Vale y en el Alto Río das Velhas hay más de 50 represas de relaves que, si se descomponen, van río abajo e interrumpen el suministro de agua de dos millones de personas de Belo Horizonte y su región metropolitana. Algunas presas con un volumen que puede destruir incluso el río São Francisco.

Estamos indignados y no nos gusta que las soluciones ofrecidas sean, por ejemplo, capacitar a las personas para salvarse mientras permiten que la minería continúe operando presas y expandiendo los complejos mineros donde se incluyen estas presas, sin mencionar las nuevas licencias. No aceptamos que las soluciones sean simplemente colocar sirenas, señales de ruta de escape y puntos de encuentro, mientras que el status quo de la minería continúa como si nada hubiera sucedido y las empresas mineras continúen con licencia. Y todavía tenemos lo que llamamos “terrorismo de presas” que ha estado evacuando a personas de los territorios alegando riesgos que no están confirmados y que aún justifican grandes trabajos de “emergencia” que causan graves impactos sociales y ambientales y se construyen después de las comunidades, lo que significa que de nada sirven, a excepción de los intereses de expansión o nuevas minas en estas regiones.

De ahí la necesidad de aumentar la conciencia de la población sobre la minería y revelar la verdad sobre esta actividad extractiva que es casi como una caja negra porque la industria protege y desarrolla estrategias de comercialización para que la población sea engañada. Una vez que la mayoría de la población sepa lo que los ambientalistas hemos sabido durante años, lo que las comunidades mineras circundantes han experimentado durante años, el sufrimiento y el impacto, tendremos mucha presión social para poner contra la pared estas empresas y autoridades. Es vergonzoso, cruel y violento lo que vivimos en Minas Gerais.

Brumadinho: 1 ano do maior crime socioambiental do Brasil foi relembrado com reivindicações

Brumadinho: 1 ano do maior crime socioambiental do Brasil foi relembrado com reivindicações

De 23 a 26 de janeiro foram realizadas em Brumadinho atividades para reivindicar justiça e reparação integral à natureza e às famílias impactadas.

“Dia 25 de janeiro é um dia difícil pra mim, viver esse processo de luta é se colocar em frente ao universo do outro, que muitas vezes é completamente diferente do meu. Isso pra mim tem sido a forma de cura mais profunda que pude viver”, é assim que Marcela Rodrigues, descreve o primeiro ano sem o pai, Denílson Rodrigues, levado pelo mar de lama tóxica da Vale, em Brumadinho (MG). 

O rompimento da barragem no Córrego do Feijão mudou completamente a rotina das famílias das 272 vítimas e das pessoas que vivem na cidade e comunidades no entorno, em especial, o povo indígena das etnias Pataxó e Pataxó Hã Hã Hãe, que teve seu modo de vida destruído pela morte do rio Paraopeba. 

Convicta de que é preciso ter garra e lutar pelo direito à vida na Terra, a jovem Marcela se uniu ao Movimento Águas e Serras de Casa Branca e a Arquidiocese de Belo Horizonte, para, em memória de seu pai, fazer justiça e construir uma nova forma de viver na região castigada pela mineração.

“Não podemos mais aceitar que a nossa Terra seja sugada, que os povos sejam expulsos da nossa região!” 

“Tentaram nos enterrar, mal sabiam que éramos sementes.” 

As frases de apoio e protesto ecoaram após a fala de Marcela, em um dos momentos de homenagem às vítimas. Para que jamais se esqueça do maior crime socioambiental do Brasil, cometido pela Vale S/A, foi realizada pelo Movimento Águas e Serras de Casa Branca e Associação Comunitária Jangada, de 23 a 26 de janeiro, uma série de atividades pela Verdade, Justiça, Memória e Reparação Integral em Minas Gerais, em especial, no município de Brumadinho. 

Marcela Rodrigues perdeu o pai Denílson Rodrigues, funcionário da Vale, que atuava na barragem da Mina do Córrego do Feijão 

Para não esquecer – O mês de janeiro de 2020 foi marcado por uma campanha de alerta e conscientização sobre os impactos da mineração: o Janeiro Marrom. Além de material específico para as redes sociais, a Campanha Água Para Povos participou das ações da Campanha Janeiro Marrom durante a semana da data do crime socioambiental em Brumadinho.

No dia 23 de janeiro, na Escola Municipal Carmela Caruso Alluoto, em Casa Branca, a atividade “Valorizando a memória para ação presente”, trouxe à tona, por meio de expressões artísticas e rodada de diálogo, a história de luta e resistência entre 2010 a 2019, frente à mineração. Moradores, defensoras e defensores do bem viver na região participaram da ação. “Nestes 10 anos, vimos inúmeras violações de direitos e muitas mentiras. Se nossas diversas denúncias e críticas qualificadas tivessem recebido a devida atenção das autoridades competentes, o crime Brumadinho poderia ter sido evitado”, afirma Carolina Moura, coordenadora geral da Associação Comunitária Jangada.  

Durante o evento, a Associação homenageou o Sr. Edvard Dantas, primeiro presidente da Associação Comunitária de Piquiá (Açailândia – MA), falecido na madrugada do dia 23, após 1 mês e 5 dias internado numa UTI, em Salvador (BA), por complicações resultantes da poluição a que esteve exposto durante mais de 30 anos. Morando em uma das comunidades afetadas pela Vale S/A no Maranhão, Sr. Edvard teve seus pulmões comprometidos pelas siderúrgicas que trabalham para manter o lucro da mineradora. 

“Bruma de Brumadinho se foi embora…”, narra a canção de Dom Vicente Ferreira, autor do livro “Brumadinho: 25 é todo dia”, lançado durante a programação da 1ª Romaria da Arquidiocese de Belo Horizonte pela Ecologia Integral. Nos dias 24 e 25, movimentos em defesa da vida em Minas Gerais e no Brasil estiveram reunidos para homenagear os familiares das vítimas. O clima de fraternidade entre as pessoas renovou as esperanças.

Durante os 365 dias, a mística da igreja católica manteve viva a chama da solidariedade entre as pessoas, que vivem até hoje às sombras de um dia que jamais terminou. 

Jorge Rasuck, diácono de Belo Horizonte (MG), ao celebrar a missa destacou a importância de manter o espírito de união. “Durante todos esses 365 dias, não faltou abraços e, foi exatamente isso que deu força para continuarmos fortes e resistentes. Que não esqueçamos disso. Abrace sua irmã e seu irmão ao lado. Dê a paz que essa comunidade precisa”, destacou o diácono.  

A aldeia Naô Xohã com cerca de 200 indígenas das etnias Pataxó e Pataxó Hã Hã Hãe, vai às ruas em solidariedade aos familiares das vítimas e para reivindicar a realocação para outro território. 

Segurando as fotos das vítimas, os familiares e pessoas de todo canto do país, desceram pelas ruas de Brumadinho relembrando o dia 25 de janeiro de 2019, com a mensagem: “Para que nunca se esqueça e nunca mais aconteça”. 

O teólogo Leonardo Boff, participou da Romaria e trouxe durante a caminhada, uma sábia reflexão sobre a manifestação e o cuidado coletivo que uma tragédia como essa nos convida a fazer.  “Assim como Jesus Cristo ressuscitou, a Terra precisa ressuscitar, e isso depende de nós. Depende de nossa capacidade inteligente de criar outras formas de utilizar os recursos naturais. Outro tipo de mundo, mais fraterno, bondoso e cuidadoso, onde podemos ter a discreta alegria de viver juntos.”

#Jangada Água Viva 

Mesmo com o crime socioambiental no Córrego do Feijão, em Brumadinho, a Vale S/A ameaça retornar e ampliar as atividades extrativas no município, diretamente ou por meio de sua subsidiária (MBR), e com isso, podendo expandir a mina de Jangada, e consequentemente destruir as nascentes da região. Foi realizado dia 26 de janeiro, o pré-lançamento da campanha Jangada Água Viva, que tem o objetivo de defender as fontes naturais de água da comunidade de Jangada, lugar onde os moradores fazem a autogestão da água. 

Ainda em clima de solidariedade após o evento de pré-lançamento da campanha #JangadaÁguaViva e em memória às vítimas do crime em Brumadinho, da sede do Movimento Águas e Serras de Casa Branca, as defensoras e defensores do bem viver, moradoras e moradores das comunidades em Brumadinho, seguiram em ato de manifestação até a praça São Sebastião, em Casa Branca.