Seja no Brasil, com o projeto Grão Pará-Maranhão, ou na cordilheira de Simandou, na Guiné, os grandes projetos de “desenvolvimento” da mineração demonstram sua capacidade de exploração e devastação da natureza, juntamente com a violência aos modos de vida das comunidades.
Nos últimos dias, uma delegação composta por cerca de nove pessoas da Guiné, ameaçadas pelo projeto que visa destruir uma cadeia de montanhas para a construção de uma mina de ferro a céu aberto no sudeste do país, passou por cidades de Minas Gerais, Pará e Maranhão para conhecer as estratégias de defesa da terra pelas comunidades brasileiras.
“As minas serão abertas na cadeia de montanhas explorada, que é uma zona de floresta muito densa, com muita biodiversidade. Para chegar ao porto, que fica do outro lado, será construído um caminho de ferro que atravessará todo o país até o oceano. Com 600 a 700 km de comprimento, esse caminho entre as minas, o trem e o porto, que formam os três componentes, impactará o meio ambiente, as terras agrícolas, as terras de pasto e também as zonas de terra”, diz Ibrahima Sory Kourouma.
A experiência de troca com os assentamentos Agroplanalto, João do Vale e Francisco Romão, próximos a Açailândia (MA), fez com que africanos e brasileiros se conectassem por meio da força da resistência, apesar das diferenças linguísticas aparentes.
Esse foi o conselho de Alzeneide Prates, mulher assentada e defensora da terra e dos direitos humanos: “Não podemos desistir daquilo que nos faz existir: a terra. Esses grandes projetos vêm para nos iludir, e depois voltamos à estaca zero. Que vocês não desistam da vida dentro dos territórios”.
Mais de cem mulheres se reúnem em frente à Secretaria Municipal da Mulher de Açailândia pela ‘Drenagem Já’.
Na manhã desta quinta (02), as mulheres de Novo Horizonte e Piquiá da Conquista realizaram uma caminhada pelas ruas de Açailândia (MA) exigindo a ‘Drenagem Já’! Na ocasião, foram entregues ofícios na Secretaria da Mulher, Ministério Público do Maranhão, Defensoria Publica e Prefeitura, conversando com os gestores e explicando a urgência do início das obras da drenagem.
Atualmente, tanto o bairro Piquiá da Conquista quanto Novo Horizonte, que são vizinhos, se veem duramente afetados com o atraso da drenagem pela prefeitura de Açailândia. Para as famílias de Piquiá de Baixo poderem se mudar para o reassentamento Piquiá da Conquista, a prefeitura tem que entregar, antes, a drenagem em Novo Horizonte.
De acordo com a presidente da Associação de Moradores de Novo Horizonte, dona Irasilda, a situação é tão séria que no período chuvoso, moradores tem que sair mais cedo de casa para chegar no trabalho, por conta dos buracos e ruas intrafegáveis. “Tem gente que levanta de madrugada e não sabe para onde ir porque a casa tá cheia de água”, afirma.
Segundo ela, desde o final de 2023, algumas crianças vem sentindo coceiras no corpo por conta da água suja que fica empossada nas ruas e que entra em contato com a pele delas ao brincarem.
Um questionamento da Associação dos Moradores do Pequiá (ACMP) ao então Secretário de Infraestrutura de Açailândia, Alan Nobre, nesta manhã, foi sobre o paradeiro do projeto de drenagem e a previsão de início das obras pelo poder municipal.
Em resposta, Alan concordou com a urgência das obras, mas explicou que fazer uma drenagem no período das chuvas é difícil. Segundo ele, a secretaria de infraestrutura de Açailândia tem como prioridade a drenagem em Novo Horizonte. No entanto, desde 2019 a situação vem sendo comunicada à prefeitura e aos demais órgãos responsáveis.
Mulheres de Piquiá e Novo Horizonte entregam ofício ao Secretário de Infraestrutura de Açailândia, Alan Nobre, no centro da foto.
Participaram da caminhada a Associação dos Moradores de Piquiá (ACMP), Associação dos Moradores de Novo Horizonte, Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais Sem Terra (MST) do Maranhão, Centro de Defesa da Vida e dos Direitos Humano Carmen Bascarán (CDVDHCB), Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Açailândia (STTR), Associação Casa das Mulheres Sementes da Terra de Francisco Romão, moradores/as e famílias dos bairros de Açailândia.
Conversa com a Secretaria da Mulher.Mulheres entregam ofício ao promotor Denys Lima.
Mulheres e crianças reunidas na Casa das Mulheres Sementes da Terra, no assentamento Francisco Romão (Foto: Yanna Duarte).
“A luta da mulher camponesa não é só trabalhar e viver no seu mundo fechado. A gente faz parte de muitas coisas dentro da comunidade, não é só na nossa casa”. Essas são as palavras de Solange Alves, lavradora e moradora da comunidade Francisco Romão, próxima ao município de Açailândia (MA), a respeito do trabalho da Associação Mulheres Sementes da Terra para que políticas públicas cheguem de fato à comunidade. Até pouco tempo atrás, as mulheres realizavam o exame ginecológico, entre outros, na escola de educação básica local, porque ainda não existe posto de saúde no território.
A missão aqui é acolher e buscar junto às mulheres formas de dar oportunidades e incentivar a autonomia no que diz respeito à questão econômica, vida pessoal e social, além de oferecer acolhimento e apoio às mulheres que sofrem violências. Para a presidente da associação, Alzeneide Prates, um sonho em comum é fazer com que todas as mulheres da região estejam interligadas umas às outras, para somar e buscar aquilo que o grupo deseja alcançar enquanto direito.
“Essa casa, essa estrutura física, ela acolhe mulheres que sofrem violências. Essa casa é para protegê-las. Ela está aqui pra ficar aguardando a Maria da Penha vir fazer o seu trabalho, se preciso for. Quando as mulheres recorrem a uma de nós, temos o poder e a obrigação de acolhê-las. Todas as mulheres que chegam aqui, eu digo, essa casa também é sua”, reforça Alzeneide.
O diferencial do grupo é que, antes de tudo, elas são mulheres do campo, e toda a identidade e luta acontecem a partir desse autoconhecimento. “Não temos idade definida, pode ser de criança até 120 anos. A casa é das mulheres mas abrange também quem faz parte da comunidade LGBTQIAP+,” diz Alzeneide. Para elas, o projeto vai além de uma estrutura física acolhedora, porque busca também significar a existência em comunidade.
“Nós também acolhemos homens que estão dispostos a entender a causa. Os homens também precisam de apoio e acolhimento. Independente de gênero, idade e raça.” Esse pensamento, para elas, fortalece a comunidade de um modo geral.
Novos desafios
No último sábado (20), o eixo de Comunicação e Fortalecimento Comunitário da Justiça nos Trilhos (JnT), por meio das comunicadoras Larissa Santos e Yanna Duarte, com o apoio do educador popular Alaíde Abreu, realizou uma oficina de mídia no assentamento para as mulheres da associação. O encontro tinha como objetivo criar a identidade visual da Casa das Mulheres Sementes da Terra.
O exercício reuniu mais de dez mulheres e crianças na estrutura física da associação, e colocou em prática os sentidos, a imaginação e a criatividade das mulheres no espaço. Conceitos teóricos foram apresentados e o encontro dialogou sobre a importância da construção de um símbolo que transmita a causa das mulheres, para que as pessoas possam entender a missão do projeto.
Dona Angelina, uma das mais antigas moradoras da comunidade, descreveu o seu desenho de uma rosa se abrindo. “Flor traz alegria, coragem, desobediência. Ela tá se abrindo igual a pessoa, um coração contrito com Deus. Estando fechada, só é desgosto, a gente não tem alegria”.
Dona AngelinaDona Maria
Dona Maria também descreveu o seu desenho: “a gente chegou o ar era puro, tínhamos as frutas nativas. Botei uma mulher grávida como símbolo da vida, que a árvore contém vida igual o ser humano que tá gerando uma vida”.
Moisés, um pequeno morador, também aproveitou para mostrar os elementos que descrevem o lugar onde mora. “Aqui é a casa do meu amigo e aqui é o besouro e uma preguiça que tipo é casa de abelha, uma caixa”, descreveu ele com as coisas que representam a comunidade.
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