Associação Sementes da Terra discute identidade visual do projeto que busca acolher mulheres assentadas na região de Açailândia (MA)
“A luta da mulher camponesa não é só trabalhar e viver no seu mundo fechado. A gente faz parte de muitas coisas dentro da comunidade, não é só na nossa casa”. Essas são as palavras de Solange Alves, lavradora e moradora da comunidade Francisco Romão, próxima ao município de Açailândia (MA), a respeito do trabalho da Associação Mulheres Sementes da Terra para que políticas públicas cheguem de fato à comunidade. Até pouco tempo atrás, as mulheres realizavam o exame ginecológico, entre outros, na escola de educação básica local, porque ainda não existe posto de saúde no território.
A missão aqui é acolher e buscar junto às mulheres formas de dar oportunidades e incentivar a autonomia no que diz respeito à questão econômica, vida pessoal e social, além de oferecer acolhimento e apoio às mulheres que sofrem violências. Para a presidente da associação, Alzeneide Prates, um sonho em comum é fazer com que todas as mulheres da região estejam interligadas umas às outras, para somar e buscar aquilo que o grupo deseja alcançar enquanto direito.
“Essa casa, essa estrutura física, ela acolhe mulheres que sofrem violências. Essa casa é para protegê-las. Ela está aqui pra ficar aguardando a Maria da Penha vir fazer o seu trabalho, se preciso for. Quando as mulheres recorrem a uma de nós, temos o poder e a obrigação de acolhê-las. Todas as mulheres que chegam aqui, eu digo, essa casa também é sua”, reforça Alzeneide.
O diferencial do grupo é que, antes de tudo, elas são mulheres do campo, e toda a identidade e luta acontecem a partir desse autoconhecimento. “Não temos idade definida, pode ser de criança até 120 anos. A casa é das mulheres mas abrange também quem faz parte da comunidade LGBTQIAP+,” diz Alzeneide. Para elas, o projeto vai além de uma estrutura física acolhedora, porque busca também significar a existência em comunidade.
“Nós também acolhemos homens que estão dispostos a entender a causa. Os homens também precisam de apoio e acolhimento. Independente de gênero, idade e raça.” Esse pensamento, para elas, fortalece a comunidade de um modo geral.
Novos desafios
No último sábado (20), o eixo de Comunicação e Fortalecimento Comunitário da Justiça nos Trilhos (JnT), por meio das comunicadoras Larissa Santos e Yanna Duarte, com o apoio do educador popular Alaíde Abreu, realizou uma oficina de mídia no assentamento para as mulheres da associação. O encontro tinha como objetivo criar a identidade visual da Casa das Mulheres Sementes da Terra.
O exercício reuniu mais de dez mulheres e crianças na estrutura física da associação, e colocou em prática os sentidos, a imaginação e a criatividade das mulheres no espaço. Conceitos teóricos foram apresentados e o encontro dialogou sobre a importância da construção de um símbolo que transmita a causa das mulheres, para que as pessoas possam entender a missão do projeto.
Dona Angelina, uma das mais antigas moradoras da comunidade, descreveu o seu desenho de uma rosa se abrindo. “Flor traz alegria, coragem, desobediência. Ela tá se abrindo igual a pessoa, um coração contrito com Deus. Estando fechada, só é desgosto, a gente não tem alegria”.
Dona Maria também descreveu o seu desenho: “a gente chegou o ar era puro, tínhamos as frutas nativas. Botei uma mulher grávida como símbolo da vida, que a árvore contém vida igual o ser humano que tá gerando uma vida”.
Moisés, um pequeno morador, também aproveitou para mostrar os elementos que descrevem o lugar onde mora. “Aqui é a casa do meu amigo e aqui é o besouro e uma preguiça que tipo é casa de abelha, uma caixa”, descreveu ele com as coisas que representam a comunidade.
Fotos: Larissa Santos e Alaíde Abreu.
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