Composto por comunicadoras e comunidadores populares de territórios afetados pela EFC, o coletivo participou da oficina Comunicação e Juventudes no Encontro Maranhense de Agroecologia
Neste sábado (17), o terceiro e último dia do IV Encontro Maranhense de Agroecologia (EMA), realizado pela Rede Maranhense de Agroecologia do Maranhão (RAMA), foi palco de um levante de vozes da juventude do Maranhão sobre os processos e experiências de comunicação. O espaço de troca de experiências foi responsável pelo fortalecimento da ideia de se comunicar a partir e pelo território.
OColetivo Pinga Pinga, representado no encontro pelos jovens comunicadores Mateus Adones (Santa Rita), Fran Silva (Taim) e Genilson Guajajara (TI Rio Pindaré), retoma o debate sobre a importância de instigar a comunicação popular e, com isso, democratizar os meios de comunicação, trazendo para a roda de conversa, durante a Oficina Comunicação e Juventudes, as diversas faces da comunicação popular desenvolvida no Maranhão.
Genilson Guajajara, fotográfo e comunicador popular da Aldeia Piçarra Preta, terra indígenaRio Pindaré (MA) e integrante do Coletivo, aproveitou o espaço para semear a comunicação, que tem como proposta o anúncio do Bem Viver, dos modos vida e a sabedoria do povo. “A cutia quando encontra um coco que esteja bom pra se alimentar, ali mesmo no pé da palmeira, ela bate um coco no outro para convidar outras cutias para se alimentar. As cutias se comunicam e se sentem representadas por essa forma de se comunicar. Pra mim, esse é um dos maiores ensinamentos sobre o que é comunicação e sobre o que comunicar. Esse ensinamento da natureza, me faz levar para o meu trabalho, a comunicação com o cheiro e o jeito do meu povo“, afirma Genilson.
Os ensinos do cantar do galo, os versos da terra e a necessidade de fazer as denúncias sobre as violações dos Direitos Humanos e os Direitos da Natureza chegarem mais longe, foram outros temas levantados pela comunicadora Fran Silva, da comunidade Taim, da zona rural de São Luís, e o pelo comunicador Mateus Adones, de Santa Rita, ambos do Coletivo Pinga Pinga. “Nosso grupo nasceu de uma brincadeira de jovens dos territórios que são afetados pela cadeia da mineração ao longo da Estrada de Ferro Carajás (EFC), nos espaços de formação política realizados pela Justiça nos Trilhos. Unimos nossas sabedorias e começamos a fazer comunicação. Depois do primeiro boletim feito, percebemos que seria necessário ocupar outros espaços. A folha chamex não cabia tudo que precisa ser dito“, ressaltou Mateus.
A comunicadora Fran Silva, compartilhou sobre a sua experiência com a produção do documentário A retomada da farinhada, divulgado também nos canais da Agência Zagaia, um território digital de comunicação popular feita por e para comunicadoras e comunicadores indígenas, quilombolas e de outros povos e comunidades tradicionais. A agência fomenta e deságua a comunicação popular, sendo um veículo de força e propulsão para iniciativas independentes dessas comunicadoras e comunicadores.
O documentário traz a diferença entre o extrativismo feito pelo povo e o extrativismo empresarial. “O nosso foco mesmo é de valorizar a memória da comunidade sobre a nossa casa de farinha, que com o passar do tempo e o declínio da produção em consequência dos impactos dos empreendimentos, teve que ser desativada, mas durante a pandemia, como forma de retomar a autonomia alimentar ensinada pelos ancestrais, reconstruímos casa de farinha coletiva”, compartilha Fran.
Pegar as redes sociais, pintar de povo e fazer a revolução
Jovens de outros territórios, como é o caso de Mateus Alves, da comunidade Centro dos Cocos em Alto Alegre, socializa a experiência da juventude no território digital, com sucesso na comercialização dos produtos da agroecologia pelas redes sociais. “A gente precisa descobrir no que somos bons. Porque acredito que somos bons em tudo da era digital, e podemos usar isso ao nosso favor”, ressalta o jovem.
Outras iniciativas também foram citadas, como por exemplo, a experiência da TV Quilombo, do Quilombo Rampa, em Vargem Grande (MA), onde a comunicação é feita com muita criatividade e inovação, onde a riqueza dos saberes e da histórias é contado pelos os comunicadores por meio de materiais ancestrais e improvisados, como a câmera de papelão e o bambu drone. O objetivo é valorizar a representatividade dando visibilidade à cultura quilombola através de conteúdo audiovisual.
O trabalho Memória Viva Guajajara com a exposição Tenetehar que será realizada na Casa do Maranhão, a partur do dia 21 de setembro às 17h30, também foi citado. A exposição TeneteharYwy Pinare Iwar Rehe Har visa fortalecer a (Re)existência da cultura Guajajara através de registros fotográficos e audiovisuais realizados pelos artistas Anthonyo Guajajara e Genilson Guajajara, a partir dos relatos dos anciãos do povo Tenetehar e do cotidiano da T.I., como as imagens da Festa da Menina Moça.
Além da oficina de Comunicação e Juventude, foram realizados outros espaços de partilhas e produção de conhecimento, como as oficinas: Mulheres e Agroecologia; Conflitos e Justiça Ambiental e Clima; Fracking no Maranhão.
Entre a luz suave da manhã e os ventos fortes que balançavam as árvores do espaço Fetaema, demos início ao IV Encontro Maranhense de Agroecologia, em São Luís. Aos poucos foram chegando representantes de diversas organizações e territórios, sendo recebidos em momentos de abraços, conversas e acolhidas.
Iniciamos a programação com a mística de abertura. Entre música e ciranda de boas vindas, foram levadas bandeiras, símbolos de ações, sementes e frutos de seus territórios, a fim de compor uma mandala ao centro da plenária. Dentre as organizações presentes do encontro e que compõem a Rede de Agroecologia do Maranhão está a Fetaema, Acesa, Tijupá, Assema, MST, MIQCB, CMTR, Moquibom, Justiça no Trilhos, GEDMMA, NEA Ifma e Monte Castelo, Cimi, ISPN, UAFMA, Carta de Belém, as Casas Familiares Rurais, entre outros.
Conforme nos conta Xóan Carlos, integrante da Justiça nos Trilhos e da coordenação executiva da rede, “a Rama é constituída por uma rede de mais de 20 entidades que constroem um movimento agroecológico a partir do conhecimento tradicional indígena, quilombola e camponesa. É um movimento político. E em nome de toda essa diversidade abrimos este encontro. Vamos fazer agroecologia!”, exclama.
A tarde seguiu com uma mesa de análise de conjuntura, onde o professor e pesquisador Horácio Antunes, do GEDMMA (UFMA), relatou os principais aspectos políticos e econômicos, desde o tempo da ditadura militar no país, que influenciaram e desaguaram nos cenários atuais. Ele relembra que foi durante os governos militares que se deu a implantação do Programa Grande Carajás, no Maranhão, e que hoje é um dos principais responsáveis pela destruição e violações de direitos em territórios tradicionais orquestrada pela Mineradora Vale S.A. Ele ressalta que mesmo após a redemocratização – e apesar de alguns ganhos expressivos com a Constituição de 88 – foi instaurado uma política neoliberalista, em que o estado intervém pouquíssimos no capital privado, gerando um aumento na política desenvolvimentista.
Nos anos 2000, mesmo diante de governos considerados “amigos”, Horário ressalta que não houve uma ruptura com a estrutura agrária que vem desde os tempos coloniais. “Até hoje o Brasil continua sendo campeão na concentração de terras”, pontua. Algo que se agravou com o atual governo federal com a expansão das políticas conservadoras e do agronegócio, desmonte das políticas públicas, ataques aos direitos humanos e agravamento dos conflitos do campo.
Diante de um processo eleitoral em curso, a Vanussa Guajajara, da Terra Indígena Rio Pindaré, trouxe a importância da resistência dos povos alinhada a uma ação de organização e ocupação política. “Porque apesar do território ser nosso, dos massacres, mesmo nossos sangues todo dia serem derramados, infelizmente nunca teve um indígena como presidente. Minha preocupação hoje é com a eleição do legislativo, não adianta gritar fora Bolsonaro e na urna não gritarmos outros fora.” Ela cita a Bancada do Cocar, projeto da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), que lançou mais de trinta candidatas e candidatos indígenas em 20 estados do país para a disputa deste ano.
Campanha de Combate Contra os Agrotóxicos
Além de discutir os principais conflitos e violência no campo, o primeiro painel do Encontro Maranhense de Agroecologia foi um espaço para fortalecer o debate sobre a Lei dos Agrotóxicos, em especial, sobre como barrar a pulverização de agrotóxicos no estado.“Precisamos estruturar uma ação mais efetiva em relação ao uso dos agrotóxicos no Maranhão. Já demos os primeiros passos em parceria com os estados do CE e RS, mas ainda é necessário ter em vigência em nosso estado uma lei”, ressalta o advogado Luís Antônio Pedrosa, que também resgatou em sua fala como os resquícios da colonização no Brasil ainda impedem os avanços no processo de regularização fundiária, espaço fértil para continuidade de conflitos e violência no campo.
Também integraram a roda de conversa, Jakeline Pivato e Nieves Rodrigues, ambas da Campanha Permanente dos Agrotóxicos e Pela Vida, trazendo elementos fundamentais para somar com a luta de quem planta na contramão do agronegócio e faz a agroecologia acontecer.
Apontaram os impactos causados pelos agrotóxicos e abordaram exemplos de iniciativas que a Campanha tem fortalecido ao longo de sua atuação. Como por exemplo, a plataforma que será lançada na próxima quarta-feira (21) às 16h pelas redes sociais da Campanha. “Nesse espaço virtual, daremos todo aparato para instruir quem deseja denunciar as violações de direitos humanos por agrotóxicos. Ele pode ser acessado pelo nosso site https://contraosagrotoxicos.org/ após o lançamento”, enfatizou a comunicadora da campanha, Nieves.
Para o segundo dia do encontro, está programado um intercâmbio em comunidades da zona rural de São Luís e outras experiências agroecológicas, painel sobre o enfrentamento às mudanças climáticas e um ato político da Agroecologia Nas Eleições.
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Cobertura pelo GT de Comunicação da RAMA. Fotos: Ingrid Barros e Edigeny (APA-TO).
O encontro organizado pela Rede de Agroecologia do Maranhão ocorrerá nos próximos dias 15 a 17 de setembro, de forma presencial, no espaço CESIR/FETAEMA, na região metropolitana de São Luís.
A Rede de Agroecologia do Maranhão (RAMA) realizará IV Encontro Maranhense de Agroecologia (EMA) entre os dias 15 a 17 de setembro, no espaço da CESIR/FETAEMA, na região metropolitana de São Luís. Com o tema “Agroecologia como estratégia ao enfrentamento dos conflitos e das mudanças climáticas no Maranhão”, o encontro tem previsão de reunir em torno de 100 pessoas de todas as regiões do estado, do campo e da cidade, comungando com as diversas bandeiras para fortalecimento da agroecologia e unificando as lutas de agricultores e agricultoras, quebradeiras de coco, pescadores artesanais, quilombolas, indígenas, mulheres e juventudes.
Após dois anos de pandemia, este é um momento em que a RAMA se encontra com toda a sua militância, parceiros e aliados e se fortalece enquanto rede, que tece aos longos dos seus 24 anos de existência, uma luta pautada pelo bem viver dos povos e comunidades tradicionais no Estado. “Esse ano o encontro tem como foco desenvolver debates e trocas de experiências numa perspectiva de construir e fortalecer a agroecologia no estado. Temos o interesse de dialogar sobre os diferentes tipos de conflitos no campo, da luta contra o uso de agrotóxico, assim como discussões acerca dos problemas ambientais e do clima que toda a amazônia maranhense tem enfrentado”, explica Raimundo Alves, coordenador executivo da Acesa e da RAMA.
A programação será composta por plenárias, painéis e mesas de debate sobre conflitos e violência no campo e os impactos dos agrotóxicos nos territórios; Agroecologia no enfrentamento às mudanças climáticas; oficinas com temáticas de Certificação Participativa e de conformidade com a produção orgânica; Mulheres e Agroecologia; Conflitos, Justiça Ambiental e Clima; além de intercâmbios, feiras de sabores e saberes, trocas de sementes e atos políticos. Ações que buscam alinhar as agendas das organizações do campo agroecológico num momento de crescente discussão dos problemas gerados pelas mudanças climáticas, no intuito de construir processos de resiliência e justiça climática junto às diversas vozes dos territórios, povos e comunidades tradicionais.
Na noite do dia 16, realizaremos um ato político da ação “Agroecologia nas Eleições”, organizada pela Articulação Nacional de Agroecologia-ANA, e pela RAMA. Temos como objetivo, pautar as demandas da agroecologia e da agricultura familiar aos candidatos e candidatas do nosso Estado, a se comprometerem com as propostas das políticas, programas e ações contidas na carta lançada por nós.
O IV EMA tem o apoio da Articulação Nacional de Agroecologia, do Programa Vozes Pela Ação Climática Justa, da Fundação Avina, Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida, e a Grassroots International.
Criada em 1998, a rede é formada por diferentes instituições e organizações comprometidas com a preservação e valorização dos meios e modos de vida de povos e comunidades tradicionais. Ao longo de sua trajetória, tem buscado fortalecer e difundir a agroecologia como um modelo capaz de fazer frente ao desenvolvimento adotado para o campo maranhense e que tem desestruturado inúmeros grupos cujas formas de vida estão pautadas em outras lógicas e não apenas mediatizadas pelo dinheiro.
A Rama se junta às tantas vozes que ecoam de todo o território maranhense denunciando as ameaças praticadas pelo agronegócio, a mineração, a agropecuária, os despejos forçados, e leis que tentam tirar os direitos dos PCTs e que tem ameaçado a existência de agricultores, indígenas, quilombolas, quebradeiras de coco babaçu e pescadores que encontram nas matas, rios e florestas. Tem realizado importantes ações de promoção da Agroecologia, intensificado o debate e atuado na criação de políticas públicas voltadas para a inserção produtiva de povos e comunidades tradicionais, com destaque para a Política Estadual de Agroecologia e Produção Orgânica do Maranhão (Lei 10.986/2018).
Suas ações buscam ainda mitigar os desafios enfrentados para a consolidação da agroecologia no Maranhão, os quais passam pelas ameaças aos modos de vida dos povos e comunidades tradicionais que encontram na agricultura uma de suas principais fontes de existência. A Rama tem apresentado estes problemas ao poder público e reivindicado de forma incisiva sua resolução.
Serviço
IV ENCONTRO MARANHENSE DE AGROECOLOGIA
15 a 17 de setembro de 2022
CESIR/FETAEMA, Rua Urucutia, n. 11- Araçagy, São José de Ribamar/MA.
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