Campanha “Resex Tauá-Mirim Já!” será lançada no Maranhão em defesa do território, da biodiversidade e dos povos tradicionais

Campanha “Resex Tauá-Mirim Já!” será lançada no Maranhão em defesa do território, da biodiversidade e dos povos tradicionais

Evento em São Luís busca fortalecer a luta histórica pela criação da Reserva Extrativista Tauá-Mirim e pelo reconhecimento das comunidades locais.

A conservação da floresta em Tauá-Mirim é fruto da relação ancestral entre povo e território. | Foto: Igor Cariman, 2025



No próximo dia 26 de abril, será lançada a campanha “Resex Tauá-Mirim Já!”, que visa reforçar a mobilização das comunidades da zona rural de São Luís, no Maranhão, pela criação da Reserva Extrativista (Resex) Tauá-Mirim. O evento acontecerá a partir das 8h, no Sindicato dos Bancários de São Luís, e reunirá lideranças comunitárias, movimentos sociais, pesquisadores e apoiadores da causa ambiental e dos direitos dos povos tradicionais.

A área pleiteada para a Resex Tauá-Mirim, que abrange mais de 16 mil hectares na costa amazônica do Maranhão, é habitat de cerca de 2.200 famílias. Entre as comunidades que fazem parte dessa região estão Taim, Rio dos Cachorros, Cajueiro, Limoeiro, Amapá, Jacamim, Tauá-Mirim, entre outras. As atividades econômicas locais incluem a pesca artesanal, a mariscagem, a agricultura familiar e o extrativismo vegetal — práticas que, além de garantir a subsistência das famílias, promovem a cultura, a sustentabilidade e a soberania alimentar.

Luta e resistência por mais de duas décadas

A mobilização pela criação da Resex Tauá-Mirim começou em 2003, com o apoio do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA). Após a conclusão de estudos favoráveis à criação da unidade, o processo foi encaminhado em 2007 ao Ministério do Meio Ambiente, mas até hoje não houve avanços no reconhecimento oficial da reserva. Sem a decretação da Resex, as comunidades permanecem vulneráveis ao avanço de grandes empreendimentos, como portos privados, ferrovias, rodovias e zonas industriais, muitos deles voltados ao escoamento de commodities do Matopiba — a região que abrange os estados de Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia.

Ao longo dessas duas décadas, as comunidades enfrentaram impasses jurídicos e diversos conflitos no território. A ameaça constante do grande capital, que busca transformar a zona rural da Ilha de Upaon-Açu em área industrial e portuária, coloca em risco o modo de vida dessas populações e a preservação ambiental da região. Em sua luta, as comunidades têm resistido com o apoio de movimentos sociais e ambientais, que defendem a importância de proteger a biodiversidade e os modos de vida tradicionais da região.

Pescadores artesanais da comunidade de Portinho mantêm viva a cultura e os saberes do território. | Foto: Luana Appel, 2024

“A luta pela Resex é também contra as mudanças climáticas”

Beto do Taim, pescador tradicional e membro do Movimento Nacional dos Pescadores (Monape), e da Comissão Nacional de Fortalecimento das Reservas Extrativistas (Confrem), explica que a criação da Resex é fundamental para proteger as atividades sustentáveis que garantem a alimentação e o sustento das populações locais. Ele destaca, ainda, os impactos ambientais causados pelo avanço da mineração e do agronegócio na região, que afetam diretamente a pesca e o extrativismo.

“A pesca tradicional e o extrativismo, fontes de alimento e vida para as populações da Resex e regiões próximas, sofrem os impactos de indústrias da mineração e do agronegócio voltadas à exportação. Estão transformando São Luís numa zona de sacrifício ambiental, marcada pela poluição e pela degradação. Proteger esse território é cuidar das raízes da cultura e da natureza, para o bem viver de hoje e das gerações futuras”, afirmou Beto.

Em 2015, as comunidades realizaram uma Assembleia Popular na comunidade do Taim, onde se autoproclamaram parte da Resex Tauá-Mirim e criaram um Conselho Gestor próprio, que desde então articula a defesa do território. Para as lideranças locais, é urgente a decretação oficial da reserva, que garantiria a proteção legal da área e da biodiversidade.

A Resex como refúgio de vida e cultura

Além da biodiversidade, a Resex Tauá-Mirim abriga a tradição cultural e espiritual de diversas comunidades. A região é morada de Encantados da tradição afro-indígena do Maranhão, que têm papel fundamental na preservação de florestas, manguezais e nascentes, essenciais para a regulação climática e para a manutenção da vida. Dona Maria Máxima Pires, liderança ancestral da região, costumava dizer que “a Resex é o pulmão de São Luís”, refletindo a importância vital da área para a saúde ambiental da capital maranhense.

A vida brota do território: em Taim, os moradores produzem alimento e pertencimento em diálogo com a natureza. | Foto: Fran Gonçalves, 2025

O lançamento da campanha

O lançamento da campanha “Resex Tauá-Mirim Já!” será um evento de mobilização e conscientização, com a apresentação da petição, apresentações culturais e comercialização de produtos das comunidades. O objetivo é envolver diferentes setores da sociedade na defesa da Resex e no fortalecimento da luta das comunidades tradicionais. A convocatória é clara: apoiar a campanha é apoiar a vida.

O fruto é semente e memória da floresta: em cada colheita, a vida se refaz em Tauá-Mirim. | Foto: João Victor, 2024


Como participar

  • Estar presente no evento no dia 26 de abril, a partir das 8h, no Sindicato dos Bancários de São Luís.
  • Divulgar a campanha em redes sociais e na imprensa (@resextauamirimja).
  • Cobrar das autoridades o reconhecimento da Resex Tauá-Mirim.
  • Apoiar as ações das comunidades em defesa do território.

O momento de ação é agora. O futuro das comunidades e do meio ambiente da região depende do apoio à criação da Resex Tauá-Mirim.

Junte-se à campanha e ajude a garantir a proteção deste território essencial para a vida e para o futuro de São Luís e da Amazônia Maranhense.


Papa Francisco: uma luz de solidariedade para Piquiá de Baixo

Papa Francisco: uma luz de solidariedade para Piquiá de Baixo


Em memória do Papa que ouviu o clamor dos povos sacrificados pelo lucro

Hoje, 21 de abril de 2025, o mundo se despede de um homem que ousou sonhar com justiça onde só havia abandono. Papa Francisco partiu, mas sua memória seguirá viva no coração das comunidades que ele escolheu escutar, acompanhar e defender. Entre elas, a comunidade de Piquiá de Baixo, em Açailândia (MA), carrega um testemunho profundo de gratidão e afeto.

Francisco foi o Papa que denunciou o “capitalismo predatório” e as suas violências contra a vida e a casa comum. Foi o Papa que acolheu os Missionários Combonianos e abraçou, com emoção e firmeza, a luta de um povo sufocado pela poluição e pela negligência do Estado e das empresas mineradoras.

Em 2015, quando recebeu no Vaticano representantes dos Combonianos em seu Capítulo Geral, o Papa posou com uma camisa que trazia a mensagem: “Piquiá de Baixo, Reassentamento Já!”. Um gesto singelo, mas carregado de significado. Naquela manhã, Francisco ouviu o clamor dos moradores que há anos resistem aos impactos do Programa Grande Carajás e do polo siderúrgico vizinho. Ali, ele se fez aliado da luta por dignidade, reparação e vida.

Anos depois, durante o Sínodo da Amazônia, o Papa voltou a escutar o grito de Piquiá de Baixo. Através da rede ecumênica Igrejas e Mineração, Francisco recebeu relatos da jovem Flávia Antônia, mãe e liderança comunitária, que denunciou os crimes ambientais cometidos contra sua comunidade. O Papa escutou e acolheu. Como sempre fez com os que vivem à margem do sistema que mata em nome do progresso.

Francisco abriu as portas da Igreja para as causas dos pobres, dos povos originários e das comunidades sacrificadas pela ganância. Ao lado da Justiça nos Trilhos, da Rede Igrejas e Mineração e de tantos movimentos que resistem à mineração predatória, ele foi voz profética. Com coragem, nomeou os pecados estruturais da economia global e convocou uma conversão ecológica profunda e verdadeira.

Sua solidariedade com Piquiá de Baixo não foi pontual, foi coerente com todo o seu pontificado. Francisco olhou nos olhos dos que sofrem e se recusou a virar o rosto. Ensinou que justiça não é caridade: é reparação, é escuta, é mudança.

Hoje, Piquiá de Baixo segue construindo seu novo bairro. E leva consigo a marca de um Papa que acreditou na luta e abençoou os caminhos de um povo que jamais se rendeu.

Que a memória de Francisco nos inspire a continuar denunciando o que destrói e anunciando o que constrói vida.
Porque, como ele disse: “Este sistema é insuportável. Os excluídos ainda esperam.”

Descanse em paz, Francisco.


Com amor e resistência,
Piquiá de Baixo, Justiça nos Trilhos e tantos que seguem sonhando com um mundo mais justo.

Com raízes firmes, Tauá-Mirim segue mobilizando pela criação da Resex

Com raízes firmes, Tauá-Mirim segue mobilizando pela criação da Resex

Comunidade na zona rural de São Luís reforça campanha por justiça ambiental e articula ações para o dia de lançamento e a Feira da Resex, mesmo diante dos impactos de grandes empreendimentos.

Fotos: Campanha Resex Tauá-Mirim Já

No último sábado, 5 de abril, a comunidade de Tauá-Mirim, na zona rural de São Luís (MA), recebeu uma visita de articulação e escuta como parte da mobilização pela campanha “Resex Tauá-Mirim Já”. A atividade teve como foco fortalecer o diálogo com os moradores sobre a urgência da criação da Reserva Extrativista e articular os preparativos da comunidade para a Feira da Resex, prevista para acontecer ainda neste mês.

A ação envolveu representantes de diversas organizações parceiras, entre elas o Grupo de Estudos: Desenvolvimento, Modernidade e Meio Ambiente (GEDMMA), a Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), a Associação Tijupá e a Justiça nos Trilhos (JnT).

A acolhida foi calorosa. Os visitantes foram recebidos pelos moradores e pelo padre Brayan, da Paróquia de Boa Viagem, que celebrava a missa naquele dia. Antes da celebração, foram distribuídos panfletos informativos da campanha. Ao final da missa, Alberto Cantanhede (Beto – Taim), pescador e integrante do Movimento Nacional dos Pescadores (Monape) e da Comissão Nacional de Fortalecimento das Reservas Extrativistas e Povos Tradicionais Extrativistas Costeiros e Marinhos (Confrem), compartilhou com os presentes os objetivos da campanha e reforçou o convite para o lançamento oficial, no dia 26 de abril, no centro de São Luís.

“Trata-se de um território historicamente ocupado por famílias que vivem do extrativismo, da pesca artesanal e da agricultura familiar. A criação da Resex é fundamental para proteger essas formas de vida e garantir justiça ambiental para os povos e comunidades tradicionais da Ilha”, destacou Beto.

A fala foi reforçada pelo padre Brayan, que relacionou a defesa da Resex com os princípios da Campanha da Fraternidade 2025, propondo uma reflexão profunda sobre a ecologia integral. Em sintonia com os apelos do Papa Francisco, o padre também gravou um vídeo de apoio à campanha.

Em paralelo, estão sendo realizados diálogos e visitas in loco às áreas produtivas onde se observam os impactos da poluição na produção de frutas nativas e cultivadas nos quintais, nos roçados, bem como na atividade pesqueira e na coleta de mariscos. As visitas revelaram a urgência de enfrentar os danos provocados por grandes empreendimentos nos territórios da zona rural da capital. Carlos Pereira, da Associação Tijupá, destacou os prejuízos diretos à produção de frutas na comunidade:

“Tauá-Mirim, a exemplo das demais comunidades da Resex, tem uma grande diversificação na produção, mas também é impactada pelos efeitos perversos da poluição provocada pelos grandes projetos nesse território. Observamos que ela tem sido uma das mais atingidas, especialmente em termos de perda na produção de frutas, tanto nas espécies plantadas — como os vastos bananais, que praticamente desapareceram devido a uma doença — quanto nas frutas nativas, muitas com perda total. Vale lembrar que, há pouco tempo, a comunidade levava polpa de frutas para a Feira da Resex. Hoje, infelizmente, isso já não é mais possível”, relatou.

Mesmo diante das dificuldades, os moradores receberam com entusiasmo a proposta de se reorganizar para a Feira da Resex, espaço de celebração da resistência e dos saberes tradicionais. Uma comissão local será formada para garantir que Tauá-Mirim esteja representada com sua memória viva — mesmo que muitos de seus frutos não estejam mais presentes.

A visita foi encerrada com uma foto coletiva e a gravação de vídeos em apoio à campanha. Com gestos simples e firmes, Tauá-Mirim reafirma seu lugar na história de luta pelo reconhecimento dos territórios tradicionais da Ilha, transformando dor em mobilização e cuidado em resistência.