Em memória do Papa que ouviu o clamor dos povos sacrificados pelo lucro
Hoje, 21 de abril de 2025, o mundo se despede de um homem que ousou sonhar com justiça onde só havia abandono. Papa Francisco partiu, mas sua memória seguirá viva no coração das comunidades que ele escolheu escutar, acompanhar e defender. Entre elas, a comunidade de Piquiá de Baixo, em Açailândia (MA), carrega um testemunho profundo de gratidão e afeto.
Francisco foi o Papa que denunciou o “capitalismo predatório” e as suas violências contra a vida e a casa comum. Foi o Papa que acolheu os Missionários Combonianos e abraçou, com emoção e firmeza, a luta de um povo sufocado pela poluição e pela negligência do Estado e das empresas mineradoras.
Em 2015, quando recebeu no Vaticano representantes dos Combonianos em seu Capítulo Geral, o Papa posou com uma camisa que trazia a mensagem: “Piquiá de Baixo, Reassentamento Já!”. Um gesto singelo, mas carregado de significado. Naquela manhã, Francisco ouviu o clamor dos moradores que há anos resistem aos impactos do Programa Grande Carajás e do polo siderúrgico vizinho. Ali, ele se fez aliado da luta por dignidade, reparação e vida.
Anos depois, durante o Sínodo da Amazônia, o Papa voltou a escutar o grito de Piquiá de Baixo. Através da rede ecumênica Igrejas e Mineração, Francisco recebeu relatos da jovem Flávia Antônia, mãe e liderança comunitária, que denunciou os crimes ambientais cometidos contra sua comunidade. O Papa escutou e acolheu. Como sempre fez com os que vivem à margem do sistema que mata em nome do progresso.
Francisco abriu as portas da Igreja para as causas dos pobres, dos povos originários e das comunidades sacrificadas pela ganância. Ao lado da Justiça nos Trilhos, da Rede Igrejas e Mineração e de tantos movimentos que resistem à mineração predatória, ele foi voz profética. Com coragem, nomeou os pecados estruturais da economia global e convocou uma conversão ecológica profunda e verdadeira.
Sua solidariedade com Piquiá de Baixo não foi pontual, foi coerente com todo o seu pontificado. Francisco olhou nos olhos dos que sofrem e se recusou a virar o rosto. Ensinou que justiça não é caridade: é reparação, é escuta, é mudança.
Hoje, Piquiá de Baixo segue construindo seu novo bairro. E leva consigo a marca de um Papa que acreditou na luta e abençoou os caminhos de um povo que jamais se rendeu.
Que a memória de Francisco nos inspire a continuar denunciando o que destrói e anunciando o que constrói vida.
Porque, como ele disse: “Este sistema é insuportável. Os excluídos ainda esperam.”
Descanse em paz, Francisco.
Com amor e resistência,
Piquiá de Baixo, Justiça nos Trilhos e tantos que seguem sonhando com um mundo mais justo.