Serra dos Carajás: como foi criada e como funciona seu processo de produção
12 de julho, 2016

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Onze de julho de 1967. Um helicóptero sobrevoa a região central do Pará, coberta pela densa floresta, procurando jazidas de manganês. De repente, a neblina tapa a visão. O piloto desce, aflito, na primeira clareira que aparece. O recém-formado geólogo Breno dos Santos, funcionário da mineradora americana US Steel, que também estava no aparelho, só ouviu um grito: “Breno, isso aqui tá muito sujo! Olha o rabo do aparelho! Avisa se está perto das árvores que eu cuido da frente”!

O pouso foi de emergência. E deu certo. Só que a clareira não era uma qualquer. O queixo de Breno quase caiu: a vegetação estranha e rala, quase inexistente, indicava, claramente, que ali estava uma “canga”, área com grande concentração de ferro perto da superfície. O ferro “estraga” o solo e impede as árvores de crescer. Imediatamente, o geólogo lembrou-se que havia avistado, do helicóptero, outras clareiras na região. Era uma concentração absolutamente incomum.

Breno tinha acabado de descobrir, nada mais nada menos do que a mais rica reserva de minério de ferro do mundo. Mais tarde, no que depois veio a ser conhecida como a Província Mineral de Carajás, foi encontrado ouro, prata, manganês, cobre, bauxita, zinco, níquel, cromo, estanho e tungstênio. Enfim, um verdadeiro Eldorado.

Na verdade, essa história começa muito antes de o helicóptero da US Stell pousar. Tudo foi cuspido do interior da Terra por centenas de vulcões, há 2,5 bilhões de anos. “A Província Mineral de Carajás, pela diversidade de seus recursos minerais e grandeza das jazidas, é única no planeta”, diz Breno dos Santos, hoje já não tão jovem, mas presidente da Docegeo, a empresa de pesquisa da Companhia Vale do Rio Doce, que explora a região. Você vai conhecer, agora, a receita do recheio de Carajás.

Ainda falta muito para descobrir
Em outubro de 1996, os geólogos da Docegeo deram de cara com um novo depósito de ouro em Carajás, chamado Corpo Alemão. Ainda não foi possível definir seu tamanho exato, mas espera-se que tenha muito mais de 100 toneladas do metal. A maior mina de ouro do Brasil, Serra Leste (também em Carajás), tem 150 toneladas e a maior do mundo, no Uzbequistão, tem 3 000 toneladas de ouro. As pesquisas em curso mostrarão a que profundidade o metal de Corpo Alemão está. Se estiver fundo, mesmo que em grande quantidade, sai muito caro explorar. Mas, segundo as primeiras amostras retiradas do solo, deve estar a cerca de 450 metros. Isso é pouco e muito bom. Há minas, na África do Sul, a 6 000 metros.

O tesouro de Carajás não é feito só de ouro. Mas a Vale não tem estimativa segura de quanto alumínio, estanho, zinco e cromo (veja mapa ao lado) existe lá dentro. Para fazer o cálculo, é preciso investir muito em prospecção. Já foram detectados 104 pontos promissores, onde as pesquisas preliminares mostraram que deve haver metal. Seria necessário gastar 12 milhões de dólares por ano em cada um desses sítios, 1,2 bilhão anuais no total, só para avaliar o potencial desses lugares.

Mais pesquisa
Numa tentativa de diminuir a ignorância sobre Carajás, a Vale assinou, em maio, um contrato de pesquisa com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O Banco vai investir 280 milhões de reais, durante cinco anos, e ficará com a metade do que a Vale descobrir nesse prazo. Em mineração as cifras são altas e o investimento arriscado. Uma área promissora, depois de pesquisada, pode desapontar. O conhecimento de uma província mineral depende também da experiência acumulada por gerações de geólogos. Carajás, com 30 anos, é nova se comparada com outras jazidas da África do Sul ou com o Quadrilátero Ferrífero, em Minas Gerais, descobertas há mais de um século.

“O investimento em tecnologia, feito nos últimos anos, vêm aumentando nosso conhecimento sobre os recursos da Província”, diz o geólogo Gilberto Meneguesso, da Docegeo. Entre as novidades tecnológicas estão a prospecção feita por sensores aéreos e espaciais, os novos softwares que interpretam os dados captados pelos sensores e métodos químicos como o mobile metal íon, que detecta quantidades mínimas de metais numa amostra de solo.

A técnica mais usada é a dos sensores instalados em satélites e aviões que varrem a região enviando sinais eletromagnéticos ao solo. Ao esbarrar em uma área com metal condutor de eletricidade, o sinal retorna com maior intensidade. Feito o registro, os técnicos vão até o local e retiram amostras do solo que são levadas para um laboratório onde identifica-se a quantidade de minério nelas.

A pesquisa do Corpo Alemão está nessa fase. Foram feitos vinte furos com 300 metros de profundidade para coletar amostras. Mas será necessário multiplicar essas perfurações por, no mínimo, dez para definir o tamanho da jazida.

Os vulcões metaleiros
Há 2,5 bilhões de anos, dois pedaços da crosta terrestre se chocaram. Como um deles era mais leve, entrou embaixo do outro. Desceu tanto que alcançou algumas camadas inferiores da Terra.

Com o atrito a temperatura e a pressão aumentaram nas profundezas, e uma parte das rochas derreteu. O material acabou subindo para a superfície, formando centenas de vulcões.

A lava dos vulcões era uma mistura de rochas derretidas e metais presos em regiões mais profundas. Mas eles não saíram todos de uma vez. Cada metal tem um ponto de fusão, ou seja, precisa de uma quantidade exata de calor para derreter.

O ouro é o primeiro a derreter e subir pelo buraco interno do vulcão. Muitas vezes nem chega a ser cuspido e para no interior do canal. Também costuma subir até a boca do vulcão e se infiltrar em fissuras das proximidades. É sempre mais fácil encontrar ouro perto de uma ex-cratera. Quase junto com o ouro vem o cobre. Por isso, eles geralmente aparecem próximos um do outro. Muitas jazidas misturam os dois metais. Depois, saem o zinco, o chumbo e o ferro. O manganês é o último a sair. É o que vai parar mais longe da boca do vulcão. Os metais foram esfriando e formando blocos no chão ou na montanha criada pelo vulcão extinto. Em Carajás, o processo da deposição dos metais levou mais ou menos 200 milhões de anos. Com a ação da chuva, do vento e do ambiente, a região foi sofrendo mudanças.

Algumas reservas, antes profundas, ficaram praticamente expostas e outras foram sendo enterradas pela deposição de sedimentos. Uma densa vegetação cresceu sobre toda Carajás, menos onde existe ferro.

Como funciona Carajás hoje

Infraestrutura 
Perfuratrizes, tratores, motoniveladoras e outros equipamentos são usados para preparar a mina para as escavações. Para facilitar o processo, às vezes são feitas detonações controladas usando Anfo, mistura de nitrato de amônia e óleo diesel. Dez mil funcionários trabalham na infraestrutura de Carajás.

Extração e Carregamento 
19 escavadeiras e 15 pás carregadeiras retiram o minério de ferro de bancadas de 15 metros de altura e carregam caminhões fora de estrada. Ao todo, 800 mil toneladas de material são movimentados ao dia, suficiente para encher o estádio do Maracanã em 24 horas. Destes, 450 mil toneladas possuem teor de ferro para utilização industrial. O resto é estéril, que é devolvido ao solo.

Transporte 
105 caminhões fora de estrada com capacidade para transportar até 400 toneladas (a carga de um Boeing 747, que leva, em média, 415 passageiros) carregam o minério para a britagem, a primeira etapa do processo de beneficiamento. Esses caminhões medem 8 metros de altura e 15 metros de comprimento. Só o pneu dele mede 3,3 metros.

Britagem 
A britagem tem como objetivo separar o minério de ferro em três tamanhos diferentes. Esse processo pode ser repetido até três vezes para atingir o tamanho pré-estabelecido.

Correias Transportadoras 
Depois de chegar de caminhão aos britadores, o minério passa a ser movimentado em esteiras conhecidas como correias transportadoras. A usina tem uma malha de 85 quilômetros de correias transportadoras, quase suficiente para cobrir a distância entre São Paulo e Campinas.

Peneiramento 
Primeira e maior unidade de produção de Carajás, ela usa dois tipos de peneiras para produzir três tipos de minério. São eles: Granulado, Sinter-Feed e Pellet Feed. São 17 linhas de peneiramento por onde passam 19 mil toneladas de minério de ferro por hora.

Estocagem 
O minério de ferro é levado para o pátio de estocagem em esteiras e empilhado. São quatro empilhadeiras e uma máquina que, além de empilhar, recupera o material. O pátio tem capacidade para estocar três milhões de toneladas de minério de ferro. São cinco pátios, cada um com um quilômetro de extensão e 60 metros de largura. O processo de beneficiamento para aqui.

Recuperação 
Três recuperadoras pegam o minério das pilhas na área de estocagem e colocam em correias transportadoras que levam para três silos de carregamento. O maior deles tem capacidade para armazenar 1,6 mil toneladas de minério.

Carregamento 
O trem de carga da Vale, com 330 vagões e aproximadamente 3,5 Km de comprimento passa por baixo dos silos com capacidade de armazenamento de 1,6 toneladas para ser carregado num processo que leva, em média, 2h30. Quando está carregado, com aproximadamente 40 mil toneladas, o trem percorre 892 km até São Luís, no Maranhão. É uma linha única com 57 pátios de cruzamento.

Viradores 
Em São Luís, o trem é descarregado por meio de quatro viradores, equipamento que tomba os vagões a 180 graus e descarrega o minério em silos. Daí ele segue para correias transportadoras que levam até o pátio de estocagem.

Embarque 
Quando o navio atraca, recuperadoras de caçamba enviam o minério estocado a correias transportadoras, que o descarregam nos porões do navio. Um dos navios é o Berge Stahl, considerado o maior do mundo, que só faz a rota Roterdã, na Holanda, e São Luís, no Maranhão. A carga transportada por ele é capaz de encher o estádio do Maracanã em duas viagens. A Vale vende o minério de ferro de Carajás para 30 diferentes países. Os navios que transportam esse minério medem cerca de 340 metros de comprimento e, em média têm capacidade para transportar 365 mil toneladas a uma velocidade média de 13 nós ( 25 km/h ).

Fonte: Blog Mineração do Ze Dudu, com informações de Ig, Super Interessante e Vale – 19.09.12