Comunidades tradicionais defendem seu modo de vida e a conservação ambiental em meio à luta pelo reconhecimento da Reserva Extrativista
No último domingo (23), lideranças comunitárias, entidades em defesa do Bem Viver, estudantes e ativistas se reuniram na comunidade Portinho, situada na Reserva Extrativista (Resex) Tauá-Mirim, em São Luís (MA), para a oficina “Produção e Comercialização de Alimentos na Resex Tauá-Mirim”. O encontro integra as mobilizações da campanha Resex Tauá-Mirim Já, que reivindica o reconhecimento definitivo da unidade de conservação e a garantia dos direitos das comunidades tradicionais que ali vivem há gerações.
A oficina foi um espaço de trocas sobre formas sustentáveis de produção e comercialização de alimentos, fortalecendo a autonomia das famílias extrativistas e a defesa dos modos de vida tradicionais. Pescadores, agricultores familiares, mulheres e jovens participaram ativamente, reafirmando o protagonismo das populações locais na construção de alternativas econômicas viáveis.
A luta pela Resex Tauá Mirim
O processo de criação da Reserva Extrativista Tauá-Mirim teve início em 2003, no Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) no Maranhão. Estudos realizados foram favoráveis à criação da Resex e, em 2007, o processo foi encaminhado ao Ministério do Meio Ambiente, em Brasília, onde permanece até hoje.
Há mais de 20 anos, as comunidades da Resex resistem ao avanço do grande capital, que ameaça transformar a zona rural em uma zona industrial e portuária, ignorando a importância dessas terras para a vida e a conservação da biodiversidade, não apenas para os moradores, mas para toda a cidade de São Luís.
Foi com esse entendimento e a necessidade de proteger a natureza que, em 2015, as comunidades realizaram uma Assembleia Popular na comunidade do Taim e auto proclamaram a Reserva Extrativista Tauá-Mirim, criando um Conselho Gestor. Desde então, essa organização tem sido fundamental para articular a luta e pressionar as autoridades.
No entanto, a oficialização por decreto do Estado é essencial para garantir a proteção do território e a conservação da biodiversidade.
Soberania alimentar e justiça climática
Para as famílias que vivem na Resex Tauá-Mirim, a relação com o território vai muito além da produção de alimentos. Trata-se de um modo de vida que equilibra sustento e preservação ambiental, transmitido por gerações e ameaçado pelo avanço da especulação imobiliária e da indústria portuária.
“Nós não estamos apenas defendendo um pedaço de terra, estamos defendendo nossa existência, nossa história e o futuro”, afirmou Beto do Taim, uma das lideranças presentes na oficina.
A luta pela regularização da Resex também é uma luta por justiça climática. As comunidades enfrentam diretamente os impactos das mudanças climáticas, como erosão costeira, alterações nos ciclos das marés e redução da biodiversidade local. Garantir a preservação da Resex significa manter um ecossistema equilibrado e respeitar o conhecimento ancestral sobre o uso sustentável dos recursos naturais.
Seguimos na luta!
A campanha Resex Tauá-Mirim Já continua mobilizando a sociedade e pressionando as autoridades para que os direitos das comunidades sejam reconhecidos e respeitados. A luta pela dignidade, pela justiça social e climática segue com a esperança de que as vozes dos povos tradicionais sejam finalmente ouvidas.
“Não há justiça ambiental sem justiça social. A Resex Tauá-Mirim é nossa casa e nossa vida, e vamos continuar resistindo”, reforça Fran Gonçalves, moradora e ativista da comunidade do Taim.
A mobilização segue firme porque a Resex Tauá-Mirim já é do povo!
A Resex Tauá-Mirim gera alimento, vida e cultura. É morada de diversos Encantados da tradição afro-indígena do Maranhão. Situada em uma região costeira amazônica, rica em águas e florestas, concentra importantes manguezais que sustentam as marés e o trabalho das comunidades tradicionais.
Como Dona Maria Máxima Pires dizia, “é o pulmão de São Luís”, pois a Resex está para nossa ilha como a Amazônia está para o Brasil e para o mundo!
Localizada na porção sudoeste da Ilha de Upaon-Açu, a Resex Tauá-Mirim abrange doze comunidades tradicionais que produzem vida e resistência. Este território costeiro amazônico é vital para a conservação da biodiversidade na ilha, com manguezais que amortecem as marés e florestas, rios e igarapés que sustentam a vida.