Há poucos dias, em debate no Globo, o prefeito do Rio, Eduardo Paes, disse que não moveria uma palha para trazer a CSA. “Dá um ganho zero para o município, pelas questões ambientais (…) Uma cidade quer ter uma marca sustentável, global, e tem um treco jogando fuligem pelo ar”, disse Paes. Com menos de um mês de operação, a siderúrgica recebeu multas de R$ 4,1 milhões e tem a licença definitiva ainda pendente. Com investimento recorde na América Latina R$ 15 bilhões, a ThyssenKrupp CSA quer mudar sua imagem, revela o presidente Herbert Eichelkraut, alemão. Ele admite o erro de avaliação: “Acreditamos que a criação daquela quantidade de empregos era suficiente para justificar a presença da empresa”.
Como é dirigir uma empresa que é desprezada pelo prefeito da cidade (Eduardo Paes) e com tanta reação da comunidade?
HERBERT EICHELKRAUT: Nossa intenção é esclarecer todas as críticas. Queremos que a empresa não seja vista só de forma negativa. É preciso ter a visão do que a empresa é, do que os empregados pensam dela. A imagem que prevalece hoje é essa. De uma empresa que não fala, da empresa que esconde. Há uma mudança de atitude a partir desse momento.
O que motivou essa mudança de postura?
EICHELKRAUT: Temos que admitir que tivemos erros. No começo, tínhamos a impressão de que a criação daquela quantidade de empregos que foram gerados durante a construção e, agora, que estão sendo gerados durante a operação, era suficiente para justificar a presença da empresa. Os números falavam por si só. Antes de viajar para o Brasil, trabalhava numa empresa muito semelhante em termos de tamanho e de operação à CSA. Mas essa empresa existe há cem anos. E os vizinhos estão na comunidade há mais de cem anos. Depois de morar tanto tempo próximo e convivendo, existe uma confiança mútua. Viemos com essa ideia de que, se lá funciona dessa forma, aqui também funcionaria. Foi isso que gerou esse equívoco. A mesma coisa que funcionaria lá, funcionaria aqui. Estamos reavaliando essa estratégia.
De que maneira?
EICHELKRAUT: Melhoramos e estendemos a comunicação com a comunidade. Queremos ressaltar que os empregos que estão sendo criados são sustentáveis e duradouros. São de longo prazo. Na siderurgia, com um investimento dessa magnitude, os postos de trabalho são permanentes. Queremos ter um bom relacionamento com a comunidade, investindo em educação. É uma necessidade básica de sobrevivência da nossa empresa. É importante que as pessoas do entorno tenham capacidade de trabalhar lá. (O prefeito Eduardo Paes havia dito que a CSA gera menos emprego que a Fashion Week)
São quantos trabalhadores na siderúrgica? Quantos são da região e quantos de fora?
EICHELKRAUT: São 2.700 diretos da CSA. Mas, com as empresas que atuam dentro da siderúrgica, serão 14 mil até o fim do ano. Temos quatro mil da Zona Oeste, além de mais quatro mil de pessoas que se mudaram para viver no entorno. O restante vem de outros municípios, como Volta Redonda e do próprio Rio de Janeiro.
Foram duas multas aplicadas pelo Instituto Estadual do Ambiente (Inea) no valor de R$ 4,1 milhões. A empresa vai pagar, vai recorrer? Quais medidas vai tomar?
EICHELKRAUT: Estamos em contato constante com a Secretaria de Meio Ambiente e o Inea nesse processo de licenciamento. É verdade que tivemos duas emissões que trouxeram inconvenientes para nossos vizinhos. Gostaria de ressaltar que, como pai de uma menina de 8 anos, em nenhum momento elas causaram dano à saúde de nossos vizinhos. Uma das autoridades mais respeitadas na questão de saúde ocupacional, doutor René Mendes, da USP, fez uma análise e constatou que não houve impacto na saúde.
Ele acompanhou as famílias atingidas?
EICHELKRAUT: Ele verificou as publicações existentes sobre emissões de grafite e chegou a essa conclusão. Esse acompanhamento não foi feito em relação às famílias. Ele analisou o material das estações de monitoramento do entorno. De acordo com a OMS, o índice está muito abaixo do que poderia causar qualquer dano à saúde. Mesmo nos casos dos dois incidentes, em nenhum momento a CSA violou os padrões limites da legislação brasileira. Uma coisa é o incômodo que causaram esses dois incidentes e pedimos desculpas, mas os padrões exigidos pela legislação brasileira não foram ultrapassados.
Se não foi ultrapassado qualquer limite, por que as casas vizinhas foram cobertas por fuligem branca e grafite? Não se ultrapassou os limites de emissão legais e, mesmo assim, aconteceu isso. Vão continuar existindo emissões deste tipo?
EICHELKRAUT: Temos que reconhecer que as pessoas não estavam acostumadas a a viver numa área próxima a uma siderúrgica. Quando acontece algum tipo de emissão, como no caso do grafite, um material visível, as pessoas ficam assustadas. Tem que haver uma desassociação da questão legal da questão do incômodo. Temos que entender que existe um inconveniente e trabalhar para diminuir ou para que isso não aconteça mais. Não vamos conseguir manter um relacionamento com a comunidade se existir esse medo que esses inconvenientes causem mal à saúde.
E por que houve a multa então se os limites legais não foram superados?
EICHELKRAUT: A legislação não vincula a penalidade somente ao caso de se exceder os limites. Há várias categorias. Se for comprovado que houve um distúrbio na comunidade, há uma penalidade para isso. E a segunda multa foi maior por causa desse inconveniente. (A primeira multa foi de R$ 1,8 milhão, baixando depois para R$ 1,3 milhão em agosto de 2010. A segunda foi em dezembro de R$ 2,8 milhões).
Como vão evitar que isso aconteça?
EICHELKRAUT: Depois da segunda ocorrência, o nosso Conselho de Administração aprovou recursos de US$ 100 milhões para aumentar e melhorar as pesquisas para que isso não volte a acontecer. Não é verdade, como andou saindo na imprensa, que a empresa estaria vindo para o Brasil para escapar da legislação restritiva da Alemanha. Isso definitivamente não é verdade. É um erro de percepção achar que as coisas aqui são mais fáceis do que na Europa.
Qual a emissão de CO2 da siderúrgica?
EICHELKRAUT: A literatura e todos os estudos indicam que, para cada tonelada de aço produzida, há, no mínimo, a emissão de 1,6 tonelada de CO2. É impossível ir mais baixo do que isso. Estamos numa faixa entre 1,65 a 1,69 tonelada. Portanto, estamos muito próximos do limite mínimo.
Quando vocês vão obter a licença definitiva de operação?
EICHELKRAUT: Estamos operando com licença prévia. Estamos sofrendo uma auditoria da Usiminas e do Inea. Estamos montando um plano de ação para obter a licença definitiva. Pretendemos atingir a capacidade máxima em setembro.
Quanto está sendo produzido e quanto está sendo exportado?
EICHELKRAUT: Já exportamos 1,2 milhão de toneladas. Vamos chegar a setembro com uma produção anual de três milhões de toneladas de aço. No segundo ano de operação, a expectativa é de cinco milhões de toneladas.
Fonte: O Globo – 21.04.11 – http://oglobo.globo.com/economia/mat/2011/04/21/presidente-da-csa-admite-erros-achamos-que-so-os-empregos-bastariam-924300588.asp#ixzz1KRuS6pay