Agricultores e representantes de movimentos sociais paralisaram na manhã de quinta-feira 19 de janeiro as obras que estão sendo realizadas pela mineradora Vale para ampliar a capacidade da Estrada de Ferro de Carajás, no Maranhão. Os moradores da zona rural de Açailândia (MA) e de localidades próximas afetados pela duplicação da ferrovia ocuparam uma estrada vicinal que dá acesso ao canteiro de obras, impedindo a passagem de ônibus com operários. Em nota, a Vale condenou o ato.
Mesmo com chuva, a mobilização reuniu famílias de camponeses e moradores de comunidades próximas afetadas pela passagem dos trens da Vale.
A manifestação aconteceu porque, segundo os participantes, a Vale não tem cumprido contrapartidas acordadas com base nos impactos da duplicação da ferrovia. As reivindicações imediatas são: construção de um posto de saúde; melhorias na escola local; construção de túneis para passagem de carros e passarelas de pedestres; valor justo de indenização para remoção das casas que terão que ser retiradas; recuperação de reservatórios de água da região; medidas para prevenção de incêndios; apoio em pesquisas para avaliar o impacto do uso de agrotóxicos em campos de cultivo de eucalipto próximos à plantação de assentamentos da região.
Essas medidas são consideradas, pela população e pelo próprio município de Açailândia, compensatórias pelos impactos provocados pela Vale na região: atropelamentos de pessoas e animais, danos ambientais e os incêndios provocados pela passagem da locomotiva. Os moradores também reclamam de poluição sonora, trepidação e até rachaduras nas casas. Veja aqui o posicionamento da Prefeitura de Açailândia após a reunião de negociação com a Vale.
Procurada pela reportagem, a assessoria de imprensa da Vale ficou de buscar um posicionamento da empresa sobre os problemas e as reivindicações dos manifestantes.
Reclamação ao IBAMA
Os problemas foram detalhados em uma representação enviada em dezembro ao Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos recursos Naturais Renováveis (IBAMA) por uma frente formada pelos Missionários Combonianos, Justiça nos Trilhos e Justiça Global (leia em arquivo formato pdf um relatório detalhado dos impactos – anexo).
A estrada de ferro é utilizada para escoar a produção do principal pólo de extração de minério de ferro do Brasil, que fica dentro da Floresta Nacional de Carajás, no Pará. Do município de Paraupebas (PA), o minério é transportado por 892 km pela ferrovia até o Porto do Itaqui, em São Luís (MA), de onde segue para o exterior.
Manifestantes reclamam que mineradora não cumpriu com contrapartidas acertadas
O ritmo com que o minério é retirado e comercializado é tão intenso que os trens que passam constantemente totalmente carregados chegam a ter mais de 3,9 km de comprimento, uma seqüência de 30 vagões puxada por 4 locomotivas. Agora, para ampliar a capacidade de escoamento, a Vale trabalha na duplicação dos trilhos.
Desde 1997, ano em que a Vale foi privatizada, a ferrovia é controlada pela empresa graças a uma concessão de 30 anos, que pode ser renovada por mais 30 anos. Segundo a Vale, a manifestação atrapalhou a circulação de trens, que chegou a ser momentaneamente interrompida. A empresa diz que, por conta dos prejuízos decorrentes da interdição da ferrovia, tomará medidas jurídicas contra os que participaram do ato. Os manifestantes negam que tenham interrompido a passagem dos trens.
Fonte: Reporter Brasil – Por Daniel Santini e Verena Glass – 19 de janeiro de 2012
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