Um idoso morreu na manhã do dia 9 de maio 2011 após ser atropelado por um trem de carga da empresa Vale, que viajava pela Estrada de Ferro Carajás (EFC) com destino a São Luís (MA). Joaquim Pereira Silva, 70 anos, tentou atravessar a estrada no quilômetro 729, perto de onde morava, no Bairro Nossa Senhora Aparecida, a Invasão da Coca-Cola.
Veja aqui a representação de Justiça nos Trilhos ao MPE contra atropelamentos; aqui encontra dados sobre a frequência de atropelamentos (na EFC a média de um morto por mês).
A mulher dele, Maria de Jesus Silva, conta que Joaquim saiu a pé de casa pouco depois das 9 horas, com destino a São Domingos, onde trabalhava como lavrador. “A gente mora aqui há dois ou três anos, e eu nunca pensei que fosse acontecer isso. Sempre que passava por ali, a gente olhava para os lados”, desabafou Maria, segundo quem Joaquim, devido a idade, já estava surdo. Os rodados do trem deceparam o pé esquerdo do idoso.
O maquinista do trem deixou o corpo da vítima para trás, depois de desengatar os vagões e evadir-se do local. O trem permaneceu parado, atrapalhando quem precisava passar pelos trilhos.
De acordo com João Irã, morador da Invasão da Coca, a Vale já realizou diversas reuniões com os moradores para tratar da construção de uma passarela no local, mas o projeto nunca deixou de ser “conversa”. “Vamos reunir a comunidade para chamar a atenção do Poder Público e da Vale. Queremos fazer a nossa passarela e, depois dessa [da morte de Joaquim], não temos mais como esperar”, declarou.
REVOLTA
A população ficou revoltada com o acidente. Moradores alegaram já ter presenciado situações graves sobre os trilhos, sem, contudo, atitude alguma para resolução do problema. “Sempre embromam a gente, dizendo que vão fazer essa passarela, e a gente continua a esperar que isso aconteça. Já vi muitos acidentes aqui. Recentemente, um carro foi arrastado. Isso aqui é um risco”, afirmou Nilde Barreto de Lima, moradora da invasão há cinco anos.
Os moradores sustentam que, se nada for providenciado, vão tentar obstruir a passagem do trem à altura da linha que passa no bairro. “Ou a Vale ou a prefeitura, quem quer se seja, se manifesta, ou nós vamos tentar parar a passagem do trem para chamar a atenção. Estamos cansados de fazer reuniões que não dão em nada. Desta vez, temos um fato real. Esse homem [Joaquim] está morto e já é o quarto ou quinto aqui”, acrescentou João Irã.
Para Jurandir Aguilar, a situação já deveria ter sido resolvida faz muito tempo. Ele teme pela vida do pai, também surdo, que vive no Bairro Nossa Senhora Aparecida. “Pode acontecer isso com o meu pai a qualquer momento ou com qualquer outra pessoa. Tem gente morrendo aqui e ninguém faz nada. Isso é uma vergonha. A gente quer preservar a vida”, reclama.
A moradora Aldenira dos Santos Rodrigues, há cinco anos no local, confirma que essa situação vem se arrastando há anos. “Desde quando moro aqui, vejo essa situação. É hora de dar um basta. Quando acontece uma situação dessas, os responsáveis pela estrada vêm e jogam conversa fiada. Agora a coisa vai pegar porque não dá pra continuar assim”, enfatiza.
VALE
Em nota distribuída à imprensa, a Vale informou que comunicou o fato à Polícia Civil de Marabá e aos peritos do Instituto Médico Legal (IML). A empresa esclareceu que investe constantemente em programas e ações socioeducativas que visam à conscientização das comunidades sobre os cuidados necessários para a convivência segura com a ferrovia, tais como não andar sobre os trilhos, respeitar as faixas de segurança e usar somente pontos de travessia próprios para o cruzamento da linha férrea.
Ainda de acordo com a nota, todo o atendimento à família da vítima está sendo realizado.(Luciana Marschall)
Fonte: Correio do Tocantins, 10/05/2011; http://www.ctonline.com.br/noticias_leitura.php?id=1528&id_caderno=7
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