Família tenta provar inocência de jovem negro preso injustamente em Açailândia (MA)
30 de março, 2022

Foto: José Carlos Almeida

Na manhã desta quarta-feira, (30), familiares do jovem negro, Janderson Cerqueira Castro, de 24 anos, ocuparam a rua de acesso ao Fórum do Município de Açailândia (MA), em protesto à prisão do jovem, que ocorreu no dia 07 de janeiro desse ano. O rapaz foi acusado de tentar matar um empresário na cidade.

A acusação foi sustentada com base em um depoimento contraditório da suposta vítima de Janderson, depoimento esse que não corresponde com as imagens de um vídeo registrado no momento da tentativa de homicídio, pois, conforme se vê nas imagens disponibilizadas, a pessoa que aparece na garupa da moto e efetua os disparos é de cor branca e o acusado é negro.

Família confirma que no momento da tentativa de homicídio, Janderson estava em casa
No vídeo, é possível ver duas pessoas numa moto por volta das 07h23 da manhã. O condutor do veículo estava de preto e o da garupa de camisa verde e manga curta, aparentemente com uma arma na mão. No momento em que ocorreu a tentativa de homicídio contra o empresário, a família de Janderson garante que ele estava em casa.

Janderson não tem antecedentes criminais, não possui nada que desabone a sua reputação e mantém endereço fixo. No entanto, isso não foi levado em conta pelo juiz da causa, que decretou sua prisão preventiva. O delegado e o juiz não analisaram as imagens das câmeras de segurança. Por essa razão, a defesa de Janderson pediu uma perícia nas provas juntadas ao processo, na esperança de provar a inocência do jovem, porém, enquanto isso não é realizado, o rapaz segue preso há três meses.

O que diz a família do acusado
Para a mãe de Janderson, Maria Castro Araújo, 57 anos, seu filho foi vítima de uma prisão injusta:
“No dia que tentaram matar o Moacir, eu e o Janderson estávamos em casa. Me levantei cedo, fiz o café, quando terminei fui olhar as redes sociais e me deparei com a notícia da tentativa de homicídio. Fiquei assustada e preocupada, pois eu conheço o Moacir, ele é meu vizinho. Em seguida, fui até o Janderson que estava no quarto e ficamos conversando sobre o atentado. Clamamos à Deus pela saúde do Moacir. Eu relatei isso no meu depoimento na delegacia, mas parece que não consideraram”.

A mãe de Janderson também nos revelou que Moacir conhece o acusado [Janderson] há muito tempo e que nunca houve nenhuma desavença entre eles. “É uma injustiça muita grande. Além de tudo, meu filho sempre tratou o Moacir muito bem. Eu espero que a justiça seja feita, que meu filho saia da cadeia”, completou.

O irmão de Janderson, Leonardo Figueredo, aponta que não há provas concretas: “Não tem prova material, não tem prova concreta e não encontraram nada com ele; roupas, moto, nada que relacione meu irmão ao crime. Mesmo assim, ele foi preso. A prisão dele se deu apenas com a palavra da vítima. Além disso, meu irmão é negro, e no vídeo é possível ver duas pessoas brancas. Ele tá tranquilo, pois sabe da sua inocência, e nós vamos seguir lutando pela sua liberdade”, afirmou Leonardo.

Imagem da câmera de segurança

O caso é acompanhado com preocupação pela sociedade civil organizada
O Caso de Janderson é acompanhado pelo Centro de Defesa da Vida e dos Direitos Humanos – Carmem Bascarán (CDVDH/CB), e pela Rede e Cidadania de Açailândia, ao qual a Justiça nos Trilhos faz parte.
“O Centro de Defesa está acompanhando o caso e nós acreditamos na inocência de Janderson. Prisões injustas são comuns no sistema penitenciário brasileiro e as vitimas em sua maioria são negras. A gente vê isso no caso de Janderson”, revela Yonná Luma, secretária executiva do Centro de Defesa.

Nesse sentido, a advogada Valdênia Paulino, educadora popular na Associação Justiça nos Trilhos e integrante da Rede e Cidadania de Açailândia, afirma que estamos diante de mais um caso de racismo:
“Acompanhamos esse caso porque acreditamos na inocência de Janderson e também porque esse é um caso que traz fortes indícios de racismo institucional. Trata-se de um jovem negro que não estava na cena do crime, sem antecedentes criminais, podendo inclusive responder ao processo em liberdade, e isso não ocorreu, sendo que até hoje os agressores de Gabriel da Silva, que tem vídeo, repercussão nacional e os acusados, brancos, permanecem circulando pela cidade”, concluiu.

O que o caso de Janderson Cerqueira e Gabriel da Silva tem em comum?

Contraditoriamente, o mesmo judiciário que prende injustamente e sem provas o jovem Janderson Cerqueira, rapaz sem antecedentes criminais e com endereço fixo, até hoje, não prendeu os agressores de Gabriel da Silva, que foi vítima de uma tentativa de homicídio no final do ano passado, e seus autores circulam livremente, mesmo com a existência de provas concretas da autoria dos agressores. No caso de Gabriel, um dos agressores atropelou e matou um idoso em 2013, e isso não foi considerado, muito menos a repercussão do caso que foi nacional.

“O que nós, sociedade sentimos, é que estamos tendo dois pesos e duas medidas para os casos que envolvem jovens negros em Açailândia. O que nós queremos é uma justiça de verdade que seja respeitosa com todas as raças, credos e orientações sexuais de forma imparcial”, finalizou Valdênia Paulino.

Por José Carlos Almeida e Yanna Duarte