Na quarta-feira (13), data dedicada a Santa Luzia, a comunidade de São Luís (MA) e as organizações populares que compõem o Movimento de Defesa da Ilha, os grupos de ativistas ambientais e dos direitos humanos choraram a perda de uma de suas principais lideranças, Dona Máxima Pires. Seu nome, que ecoa como um grito de resistência, está intrinsecamente ligado à luta contra a especulação imobiliária e a defesa das comunidades tradicionais na Ilha de Upaon-Açú.
Dona Máxima, grande símbolo de luta no Maranhão, se ancestralizou, mas deixa sementes abundantes de amor, de firmeza e determinação em defesa da natureza e dos direitos humanos. Certo dia, em uma participação sua na Escola de Educação Popular, ela cantarolou a toada de Humberto de Maracanã: “Maranhão, Meu Tesouro, Meu Torrão”, e enfatizou junto aos versos do cantador do Bumba Meu Boi de Maracanã, que a natureza sempre foi inspiração, e que preservá-la requer de nós o exercício de atenção aos saberes de quem veio antes.
“Meu pai conhecia e sabia dos mistérios da encantaria e respeitava. E é isso que devemos fazer: pedir licença e benção. Humberto também conhecia e trouxe isso na toada que brincamos no São João. Um dia disse a ele que a matraca e o pandeiro fazem tremer o chão, mas os territórios juntos em luta também fazem tremer o chão de uma forma grandiosa”, ressalta.
O Movimento de Defesa da Ilha, formado em 2015, uniu organizações populares para resistir ao plano diretor da cidade de São Luís, que, segundo os ativistas, favorecia a especulação imobiliária em áreas urbanizadas e ameaçava expulsar comunidades tradicionais na zona rural. Um dos pontos cruciais dessa resistência é a batalha do Cajueiro Resiste, onde moradores e apoiadores enfrentaram a imposição de um porto pela empresa WTorre, que resultou na demolição de casas e no desmatamento da região.
Dona Máxima, além de ser uma voz ativa nessa luta, foi uma defensora incansável das famílias da Resex Tauá-Mirim, incorporando em sua trajetória o respeito à natureza e às tradições. Sua dedicação ecoava o compromisso com a justiça social, dignidade e bem-viver. A comunidade perdeu não apenas uma líder, mas uma guardiã dos encantos naturais e uma fonte inesgotável de sabedoria.
A mensagem do Grupo de Estudos: Desenvolvimento, Modernidade e Meio Ambiente (GEDMMA), que pode ser conferida aqui, ressoa como um tributo à vida de Máxima: “Dona Máxima é semente e fará brotar uma floresta.” Esse reconhecimento reflete não apenas a importância dela para as comunidades locais, mas também seu impacto global como uma defensora incansável da natureza.
A União das Comunidades Negras Rurais Quilombolas de Itapecuru Mirim (Unicquita), em nota conjunta com Encontros Marginais e Gedmma, expressou que, nas palavras de Máxima, está o cerne de sua missão: “Resistência, rio, mata, mar, caminhos de vida na luta por justiça social, dignidade e bem viver.” Seu legado é perpetuado na resistência contínua dos ativistas que assumem a responsabilidade de dar continuidade à sua obra.
Lamentamos a sua partida para o outro plano, mas a nossa admiração pelo seu legado segue regando nossa missão e paixão pela defesa da vida. Nós, da Justiça nos Trilhos (JnT), nos solidarizamos com a família, amigos e companheiros de caminhada neste momento de luto.
O velório de Máxima ocorre em sua casa na comunidade Rio dos Cachorros, local onde ela lutou e permaneceu até sua partida. O enterro está marcado para o fim do dia desta quinta-feira (14).
Diante dos atuais desafios ambientais e sociais, o legado de Máxima é mais do que uma lembrança; é um chamado à ação. Sua voz, que ecoa pelo tempo e ressoa nos corações daqueles que a conheciam, serve como inspiração para as futuras gerações. A mensagem de Dona Máxima transcende sua presença física, incitando todos a persistirem na luta em defesa da vida, do bem viver e da natureza. Dona Máxima não apenas resistiu; ela plantou as sementes de um futuro mais justo e sustentável.
Texto por José Carlos e Lanna Luz
Revisão: Yanna Duarte