O reconhecimento, concedido pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, celebra o trabalho da organização na promoção da justiça socioambiental e na proteção de comunidades impactadas pela mineração e pelo agronegócio
No coração da Amazônia, Larissa Santos e Pe. Dário Bossi recebem homenagem no 14º Muticom. Duas trajetórias que se cruzam para reafirmar: comunicar é também cuidar da terra e proteger a vida. | Foto: Claudia Pereira
Mais de 400 comunicadores, agentes de pastoral, religiosos e jornalistas participaram do 14º Mutirão Brasileiro de Comunicação (Muticom), realizado entre os dias 25 e 28 de setembro em Manaus (AM). Promovido pela Comissão Episcopal para Comunicação Social da CNBB, em parceria com a Arquidiocese de Manaus, o evento trouxe como tema “Comunicação e Ecologia Integral: transformação e sustentabilidade”, propondo reflexões sobre o papel da comunicação na defesa da casa comum.
Durante a cerimônia, Larissa Santos, coordenadora política da Justiça nos Trilhos (JnT), recebeu com emoção a homenagem à organização. Ela lembrou que a JnT começou como uma campanha de comunicação liderada pelos Missionários Combonianos e que hoje conecta comunidades, pesquisadores e agentes pastorais em torno da Ecologia Integral, fortalecendo a luta pelos direitos humanos e pela preservação da Amazônia.
O Muticom, principal encontro de comunicação da Igreja Católica no Brasil, debate temas como comunicação, justiça socioambiental e Ecologia Integral, reunindo comunicadores, estudantes, pesquisadores e agentes pastorais. A homenagem à JnT reconheceu sua trajetória na defesa dos direitos humanos, da natureza e no fortalecimento de experiências comunitárias responsáveis pela preservação da Amazônia. Segundo Larissa, a ocasião também foi uma oportunidade de refletir sobre a importância de continuar a missão em tempos desafiadores, diante das ameaças da mineração e do agronegócio.
Da palavra que ecoa nas comunidades à articulação política que constrói caminhos coletivos. Larissa Santos iniciou sua caminhada na Justiça nos Trilhos como comunicadora e, no 14º Muticom, em Manaus, recebeu a homenagem em nome da associação. Sua trajetória mostra que comunicar é também semear resistência e futuro. | Foto: Claudia Pereira
A cerimônia contou com a entrega do prêmio para Larissa Santos (JnT) e para pe. Dário Bossi, que representaram a JnT, entregue pelos arcebispos e bispos presentes. O texto da homenagem, inscrito em um pedaço de cerâmica, dizia:
“A Comissão Episcopal para a Comunicação Social da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil e a Arquidiocese de Manaus, no contexto do 14º Mutirão Brasileiro de Comunicação, rendem homenagem à Justiça nos Trilhos (JnT), pelo trabalho em defesa das comunidades atingidas pelos impactos da mineração, pela promoção dos direitos humanos e da natureza, e pelo compromisso permanente com a justiça socioambiental no Brasil. Manaus, setembro de 2025.”
Para Larissa, a homenagem representa a importância do trabalho da JnT com as comunidades impactadas pela mineração e pelo agronegócio no Maranhão, mas também destaca sua conexão com outras experiências de defesa da natureza no Brasil e no mundo. “Esse reconhecimento nos motiva a continuar divulgando não apenas as ameaças e violações sofridas pelos territórios, mas também as transformações que vêm deles. A comunicação é essencial para multiplicar essas vozes como alternativas para o bem viver”, afirmou.
A coordenadora enfatiza que a defesa dos territórios é inseparável da vida das pessoas e da natureza. “Já estamos defendendo a vida há muito tempo – denunciando, anunciando, articulando politicamente e buscando reparação integral. Esse reconhecimento nos fortalece, mas precisamos valorizar ainda mais as experiências que salvam o mundo e apoiar comunidades e lideranças ameaçadas”, declarou.
O reconhecimento também celebra a interdisciplinaridade e a articulação coletiva da JnT. Comunicação, Assessoria Jurídica, Fortalecimento Comunitário e Alternativas Econômicas trabalham juntas para transformar realidades locais. Um exemplo é a luta da comunidade de Piquiá de Baixo pelo reassentamento Piquia da Conquista, que se tornou inspiração nacional. “A luta por direitos é feita cotidianamente e só é possível mediante a articulação coletiva. A forma de atuar da JnT foi muito importante para que ela recebesse esta homenagem”, reforça Larissa.
Em um momento em que a Amazônia enfrenta pressões crescentes da mineração e do agronegócio, a homenagem à JnT no Muticom representa uma celebração da resistência, da solidariedade e da esperança, reafirmando que a comunicação pode ser um caminho potente para o bem viver.
Fortalecendo ancestralidade, memórias e direitos nos territórios do Corredor Carajás
Turma da 4ª edição da Escola de Educação Popular no Corredor Carajás reunida no Quilombo Rampa: 40 integrantes, muitas histórias e uma só luta coletiva.
Nos dias 26 a 28 de setembro de 2025, o Quilombo Rampa, em Vargem Grande-MA, foi palco de mais uma etapa da Escola de Educação Popular no Corredor Carajás, iniciativa realizada em parceria pela Justiça nos Trilhos (JnT) e o Gedmma. Este foi o 5º encontro da escola, que chega à sua quarta turma, consolidando-se como espaço de formação, resistência e fortalecimento comunitário.
A escola é formada por 40 integrantes, indicados por lideranças de suas comunidades, com idade a partir de 16 anos. As atividades acontecem a cada dois meses, em finais de semana, em comunidades tradicionais, quilombolas ou terras indígenas, e são precedidas por um intenso processo de preparação e mobilização. O objetivo central é aprofundar os estudos, estabelecer contatos, conhecer e apoiar lutas locais, além de fortalecer a memória e a identidade de povos que, historicamente, foram pensados como destinados a desaparecer.
“Mais importante do que o que se mostra, é o que se esconde.” – Raimundo, Quilombo Rampa
Contos, cantos e o som do Tambor de Crioula marcaram os três dias de vivências: a acolhida do Quilombo Rampa ensinou sobre simplicidade, força e ancestralidade.
Durante os três dias de encontro, os integrantes se debruçaram sobre o tema “Ancestralidade, memórias, força dos territórios: Protocolo de Consulta Livre, Prévia, Informada e de Boa Fé”, conduzido pelos assessores Raimundo Quilombola (Quilombo Rampa) e Joercio Pires (Leleco, do Quilombo Santa Rosa dos Pretos). Entre contos, cantos, histórias e o som do Tambor de Crioula, o aprendizado ganhou força não apenas nos conteúdos, mas na experiência viva do território.
Integrantes da Escola de Educação Popular: aprendendo, trocando e construindo caminhos para a cidadania e os direitos da natureza.
O Quilombo Rampa é descrito por moradores como um “cantinho e centro do mundo”, um lugar onde a simplicidade, a entrega e a manutenção dos costumes reforçam a identidade comunitária. A acolhida calorosa e a energia do local foram sentidas por todos por meio dos sorrisos, brilho nos olhos e o sentimento de pertencimento marcaram a experiência.
Segundo Maju Silva, educadora popular na JnT, “é fundamental que as atividades aconteçam dentro das próprias comunidades dos cursistas e participantes. Esses encontros favorecem o intercâmbio e a troca de saberes. A Escola de Educação Popular, por meio das formações, busca potencializar os conhecimentos já existentes, fortalecendo a luta e a resistência nos territórios”.
Formação, resistência e pertencimento – cada rosto é um território de memória e futuro. Vídeo: Renata, do GEDMMA
O encontro reafirmou a importância da formação como ferramenta de resistência, permitindo que comunidades historicamente marginalizadas recuperem as histórias de reação e lutas de seus ancestrais. Nesse espaço, os integrantes buscam formas de levantar do chão e tornar pública sua existência, seus direitos ambientais e territoriais e sua vontade de continuar a ser e viver como são.
“Conhecer a história e a potência que o território Quilombo Rampa representa é energizante e renova os ânimos”, relatam participantes.
O 5º encontro reforça a missão da Escola de Educação Popular no Corredor Carajás: transformar conhecimento em ação, memória em mobilização e ancestralidade em resistência. A iniciativa não apenas fortalece lideranças locais, mas também cria uma rede de solidariedade, diálogo e aprendizado contínuo, mantendo viva a chama da cidadania, dos direitos humanos e dos direitos da natureza.
Com informaçõesRádio TV Quilombo Rampa – Raimundo Quilombola e GEDMMA
Hoje é o último dia para apoiar a petição que visa proteger 16 mil hectares de manguezais, rios e florestas na Amazônia Maranhense, ameaçados por grandes empreendimentos.
Cada fruto é herança viva da relação ancestral com a terra. Foto: Luana Appel, 2024
Hoje (30) é o último dia para apoiar a petição que pede a criação da Reserva Extrativista (Resex) Tauá-Mirim. Esse território é fundamental para proteger a vida dos povos tradicionais, preservar a biodiversidade e conter a destruição causada por grandes empreendimentos.
Localizada na zona rural de São Luís, Maranhão, a Resex Tauá-Mirim abrange mais de 16 mil hectares e um perímetro de 71,21 km, integrando a Amazônia Legal. As comunidades Taim, Rio dos Cachorros, Limoeiro, Porto Grande, Cajueiro, Vila Maranhão, Portinho, Jacamim, Amapá, Embaubal, Ilha Pequena e Tauá-Mirim vivem no território, somando cerca de 2.200 famílias.
A região é rica em florestas tropicais, rios extensos e manguezais, ecossistemas essenciais que atuam na captura de carbono e gases de efeito estufa. Os manguezais também funcionam como berçário natural para aves, peixes e crustáceos, sendo classificados como Zona Úmida de Proteção Internacional.
As principais atividades econômicas das comunidades incluem pesca artesanal, agricultura familiar e extrativismo vegetal, práticas sustentáveis que contribuem diretamente para a conservação ambiental. A oficialização da Resex garantiria uso sustentável do território e melhores condições de vida para as famílias locais.
Desde 2003, essas comunidades lutam contra grandes empreendimentos, como portos, rodovias, ferrovias e indústrias de alumínio voltadas à exportação de commodities, que provocam poluição, degradação ambiental e adoecimento. A morosidade do Estado na decretação da reserva favorece a expansão desses projetos, ameaçando todo o ecossistema da ilha de São Luís.
Pela proteção dos manguezais, águas e florestas, a mobilização da sociedade civil é crucial. Cada assinatura na petição é uma voz em defesa da Amazônia Maranhense e dos direitos das comunidades tradicionais.
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