A chuva é um fenômeno impressionante! É a natureza conversando com a gente e dizendo que fazemos parte dela e estamos nela. Chuva é bem para nós, é bem para a terra. É comum que o anunciar da chuva nos faça olhar para o céu a espera de água, água limpa. Em Piquiá de Baixo não é bem assim…
Em Piquiá de Baixo a chuva é carregada de poluição, de pó de ferro que vem das siderúrgicas, que vem dos vagões dos trens da Vale. A criança e o jovem do presente não esperam mais a água limpa que cai do céu. Em Piquiá de Baixo, há a normalidade de colocar um copo no tempo e esperar água preta. É água com pó de ferro. É água que encontra no caminho imensas quantidades de poeira preta, de minério de ferro. Quando chove, o que o povo de Piquiá sente é a certeza de um lugar poluído.
A chuva é passageira. O pó de ferro é diário. E tem sido assim há mais de três décadas… Mas, em Piquiá de Baixo também permanece a esperança da mudança. O Piquiá da Conquista [um projeto de reassentamento] é a luta das gerações mais velhas e o futuro das novas. O futuro no Piquiá da Conquista será o da espera da chuva limpa que cai do céu, que vai para a terra, para as plantas, para os rios e igarapés e que banha o corpo de cada morador e moradora. O Piquiá vai conquistar o direito de sentir o cheiro de terra molhada quando os primeiros pingos de chuva anunciarem uma nova estação. E depois de cada chuva, o céu vai aparecer e o sol vai brilhar ou a noite vai chegar sem serem encobertos pelo pó de ferro.