Quando a escrita vira território de luta
9 de julho, 2025

Em lançamento no Pará, livro-manifesto transforma vivências de mulheres em luta contra o extrativismo e afirma a escrita como defesa dos corpos-territórios.

Lançamento do livro Mulheres em Defesa do Território – Corpo – Terra – Águas, celebrando a força e a luta das mulheres pela proteção da vida e do planeta. Foto: Yanna Duarte

Nos dias 1º e 2 de julho de 2025, mulheres afetadas pela mineração e pelo agronegócio no Pará se reuniram em Nova Marabá para o lançamento do livro Mulheres em Defesa do Território – Corpo – Terra – Águas. A publicação reúne relatos de mulheres de diversas regiões do país sobre suas vivências e resistências diante do avanço do capitalismo extrativista. A atividade integrou a agenda de retorno das autoras aos territórios, com momentos formativos e apresentação da obra em espaços de diálogo e articulação coletiva.

O lançamento do livro ocorreu durante dois eventos: o Seminário de Abertura da UNIFESSPA/FECAMPO, realizado em 1º de julho no auditório do Campus 3 da universidade, e a II Plenária de Mulheres Amazônidas, realizada em 2 de julho na Fundação Social Agroambiental Cabanagem. Os encontros reuniram lideranças sociais, pesquisadoras, estudantes e mulheres de diferentes comunidades da região, em atividades que integram o calendário popular de mobilização rumo à COP30.

Mais do que o lançamento de uma publicação, o momento foi marcado pela escuta, troca de experiências e fortalecimento de vínculos entre mulheres que resistem cotidianamente às múltiplas formas de violência provocadas pelos grandes projetos em seus territórios. A obra nasce do acúmulo dessas trajetórias e se consolida como uma ferramenta política que articula memória, denúncia e mobilização.

Momentos de troca, inspiração e fortalecimento entre mulheres durante o lançamento do livro Mulheres em Defesa do Território – Corpo – Terra – Águas. Juntas na luta e na resistência! Foto: Yanna Duarte

Organizado por Elisangela S. Paim e Fabrina P. Furtado, Mulheres em Defesa do Território – Corpo – Terra – Águas reúne relatos poderosos de mulheres quilombolas, indígenas, camponesas e urbanas que enfrentam os impactos da mineração, do agronegócio e de outros projetos capitalistas em seus territórios. A obra articula feminismo, justiça ambiental e direitos dos povos tradicionais, evidenciando como a exploração da natureza se conecta às violências contra os corpos das mulheres.

Com prefácio da intelectual feminista Silvia Federici, o livro afirma a resistência coletiva como caminho de cuidado, denúncia e reexistência. Mais do que uma denúncia, é um manifesto vivo por outras formas de viver e conviver com a terra. A publicação está disponível para acesso gratuito no site da Fundação Rosa Luxemburgo: rosalux.org.br/livro/mulheres-em-defesa-do-territorio-corpo-terra-aguas.

Uma homenagem às guardiãs que lutam pela proteção dos corpos, da terra e das águas, reafirmando o poder da mulher na defesa da vida e do nosso planeta. Foto: Yanna Duarte

A Justiça nos Trilhos (JnT), organização que atua na defesa dos direitos das comunidades impactadas pela cadeia da mineração no Corredor Carajás, também participou ativamente das atividades. Com presença de integrantes que acompanham o cotidiano das lutas nos territórios, a JnT contribuiu para as reflexões sobre os efeitos do extrativismo nas vidas das mulheres e para a articulação coletiva em torno da justiça climática. Sua atuação no encontro reforçou a importância das alianças entre movimentos, organizações e populações locais na construção de estratégias de resistência e cuidado.

Mulheres em Defesa do Território – Corpo – Terra – Águas é uma obra que reúne vozes femininas que protagonizam a luta pela proteção dos corpos, da terra e das águas. No lançamento, elas se conectam e compartilham saberes, resistência e esperança. Foto: Yanna Duarte

Para Larissa Santos, coordenadora política da JnT e uma das participantes do processo, o lançamento do livro com os grupos de mulheres foi um momento de fortalecimento coletivo. “O livro nasce de um processo de escuta e escrita compartilhada. Ao mesmo tempo em que registramos essas histórias, reinterpretamos, junto com as próprias autoras, os caminhos de resistência. Com seus corpos e práticas cotidianas, essas mulheres se contrapõem às injustiças que atingem seus territórios. Registrar essas experiências é uma forma de luta compartilhada.”

Larissa Santos, coordenadora política da JNT e uma das autoras do livro Mulheres em Defesa do Território – Corpo – Terra – Águas, compartilhando sua luta e inspiração. Foto: Yanna Duarte

Larissa destaca ainda o papel do livro na construção da memória coletiva: “Sentir os impactos da exploração da natureza como uma extensão da exploração dos nossos corpos é um saber profundo das mulheres. Reconhecer isso e transformar em escrita nos ajuda a buscar alternativas, reafirmar nossos modos de vida e denunciar o que está sendo violado.”

Durante a mesa de abertura do seminário da UNIFESSPA, participaram da discussão Elisangela Paim, coordenadora do Programa Latino-Americano de Clima e Energia; a professora Fabrina Furtado (UFRRJ); e o professor Daniel Nogueira (UNIFESSPA), aprofundando os debates sobre a financeirização da natureza e os enfrentamentos na Amazônia. No dia seguinte, a II Plenária de Mulheres Amazônidas reuniu mulheres indígenas, quilombolas, ribeirinhas, camponesas e urbanas para compartilhar estratégias de resistência frente à crise climática e aos megaprojetos que ameaçam os territórios.

Mulheres em Defesa do Território – Corpo – Terra – Águas é, portanto, mais do que um livro. É um manifesto vivo, escrito a muitas mãos, que afirma a potência das mulheres na defesa de seus modos de vida, suas memórias e seus territórios.

Com informações Yanna Duarte