Fotógrafo formado em cinema indígena e comunicador popular, durante a palestra “Demarcando telas através da imagem” define a sua aldeia como fonte de sabedoria ancestral e compartilha saberes sobre a força da fotografia para a luta indígena
Com essa afirmação, Genilson Guajajara, natural da Aldeia Piçarra Preta, da Terra Indígena Rio Pindaré, em Bom Jardim (MA), deu início a palestra “Demarcando telas através da imagem”, um evento realizado no dia 23/05, no auditório da Universidade Federal do Maranhão – UFMA (Campus Imperatriz), pelo Love – Laboratório de Comunicação Visual e Edição Criativa e Justiça nos Trilhos (JnT), com apoio do curso de Jornalismo da UFMA, onde ele conduziu um momento singular com mais de 100 pessoas, entre estudantes de Jornalismo, de outros cursos, professores e participantes presentes.
A originalidade da arte de Genilson é sentida logo no primeiro contato. Antes de mostrar as fotografias ao público, o jovem fotógrafo teceu reflexões sobre o seu encontro com essa linguagem. “O meu primeiro contato com a câmera foi numa oficina dentro da Escola de Formação Política, realizada pela Justiça nos Trilhos e GEDMMA, onde jovens de comunidades indígenas e povos tradicionais, que são afetados por grandes empreendimentos da mineração e agronegócio, compartilham suas experiências”, afirma.
“Aquelas conversas me abriram os olhos. Percebi que muita coisa que acontecia na aldeia, e que para mim era normal, mas não tinha nada de natural. Descobri ali que minha arma de luta seria a fotografia”, relembra Genilson. Na palestra, Genilson aproveita para contar como demarca sua cultura produzindo imagens, compartilhou a profundidade de suas experiências, a intensidade emocional e a essência espiritual que transparece em suas fotografias.
A presença das fotografias de Genilson Guajajara em exposições e em grandes indicações a premiações no Brasil e no exterior também foi ressaltada. Em 2021 foi indicado ao Prêmio Pipa, a janela para arte contemporânea brasileira, ficando em 4° lugar. Nesses espaços, Genilson tem compartilhado com o mundo, o seu olhar sobre rituais ancestrais, o cotidiano de seu povo, a luta pelo preservação do território. Ele deu início a sua jornada, registrando a Festa da Menina Moça, um momento repleto de emoção e significado para sua comunidade.
“Meu território é uma universidade”
Saberes sobre sua performance com a fotografia foram partilhados: “Observei na minha aldeia, que quando um caçador se prepara para caçar, ele segura a respiração para mirar e soltar a respiração junto com a flecha. Assim eu faço com a minha fotografia. Solto a minha respiração junto com o clique.”
Genilson reforçou a plateia que o seu trabalho tem a missão de “fotografar o invisível, a espiritualidade. Minha fotografia busca atravessar a carne e tocar o espírito. Entendo também que foto é arma, é minha ferramenta de luta.” Lembrou o momento que essa ferramento foi aliada a luta: “Teve uma missão de demarcação, que fomos todos ao Lago da Bolívia, um espaço sagrado pra nós, mas também disputado. Ao chegarmos lá, fomos recebidos a tiros, e filmei tudo. Fotogrei. Esses registros foram o suficiente para mostrar o conflito que enfrentamos todos os dias. Serviu de prova após ser divulgado nas redes sociais”, ressaltou.
Semente de um sonho
“Desenhar sempre foi meu sonho, desde criança. Com a fotografia descobri que posso desenhar as pessoas, o meu povo, com a luz“, reflete Genilson ao compartilhar com os integrantes do grupo LoveLabCom, o porque fazer um livro fotográfico com a história do seu povo tem sido a sua missão.
Pela manhã foi realizado um encontro que marca o início da parceria Genilson Guajajara + Justiça nos Trilhos (JnY) + LoveLabCom. Na imersão na proposta do livro fotográfico sobre os modos de vida do povo Guajajara na Aldeia Piçarra Preta – T.I Rio Pindaré, estiveram presentes, Genilson Guajajara da Mídia Guajajara, os alunos vinculados ao Grupo de Pesquisa LoveLabCom, professora Yara Medeiros e os comunicadores da JnT, Lanna Luiza, José Carlos e Yanna Duarte.
O encontro imersivo teve 3 blocos: 1) Uma rodada de apresentação, logo depois, Genilson apresentou algumas fotos ao grupo; 2) Introdução a modelos de livros de fotografia, projeto gráfico e proposições de narrativa visual. 3) Oficina do Futuro, conhecida como Árvore dos Sonhos, onde cada participante pode reflorestar a árvore de ideias, ou seja, cada folha tinha ideias para o livro de Genilson Guajajara.