Entrega das Chaves: A continuidade da resistência de Piquiá de Baixo no novo bairro Piquiá da Conquista
14 de novembro, 2024

A entrega das chaves do reassentamento Piquiá da Conquista é o marco de uma trajetória de resistência e esperança, celebrando a força coletiva do povo de Piquiá de Baixo e sua busca por dignidade e justiça.

Solenidade de Abertura da Entrega das Chaves em Piquiá da Conquista | Fotos: Wenner Davisson

No dia 25 de outubro de 2024, um evento aguardado por mais de duas décadas finalmente aconteceu: a entrega das chaves do reassentamento Piquiá da Conquista para 312 famílias, marcando o encerramento de um ciclo de luta histórica do povo de Piquiá de Baixo. Embora o novo bairro tenha um nome diferente, para cada morador ele é, e sempre será, a continuidade de Piquiá de Baixo, simbolizando a união do povo pelo povo, a preservação de suas raízes e de sua força coletiva.

O evento, que estava previsto para começar às 15h, só teve início às 18h com a chegada das autoridades. Esse simbolismo da espera não passou despercebido pelos moradores, que há anos enfrentam batalhas e desafios em busca de dignidade e justiça ambiental. Com lágrimas e abraços, cada chave entregue representou o fim de uma longa espera e o início de uma nova fase, sem deixar para trás a história e a resistência de Piquiá de Baixo.

Andrea da Silva Machado, integrante da Associação Comunitária dos Moradores de Piquiá (ACMP), representou o sentimento coletivo ao ler uma carta-manifesto durante a cerimônia. Suas palavras expressaram gratidão aos parceiros, mas também reforçaram que a luta continua até que a reparação plena seja alcançada. A carta, entregue simbolicamente ao Ministro das Cidades, Jader Filho, e às demais autoridades presentes, foi um ato de afirmação de que a história de Piquiá de Baixo não termina com o novo bairro, mas se expande em Piquiá da Conquista.

Mikaell Carvalho, que passou parte de sua infância em Piquiá de Baixo e hoje atua como coordenador da Associação Justiça nos Trilhos (JnT), destacou o caráter simbólico desse dia de entrega das chaves: “É um dia em que temos também a presença do Estado e das empresas, os mesmos que foram responsáveis pelas violações que a nossa comunidade sofreu. Hoje, retomamos nossa voz e nossa força para dizer a eles que nossa luta por direitos humanos é válida, que esse reassentamento, essa conquista, só foi possível pela nossa resistência. Colocamos todos eles na mesa para construir isso aqui, e agora esperamos que assumam suas responsabilidades, que respondam por suas ações.”

Antônia Flávia, moradora de Piquiá da Conquista, relembrou a importância da união: “O movimento social é a base de tudo. A prova disso está aqui, na união dos moradores de Piquiá da Conquista – que também é Piquiá de Baixo. Se não fosse pela força coletiva, pelo abraço, pelo apoio de cada um, nada disso estaria de pé hoje. Há vinte anos, sonhamos juntos e seguimos lado a lado, com uma fé profunda, mãos dadas, sempre em harmonia.” Ela completou: “Essa luta não se construiu sozinha. Foi moldada na união, na força da fala, no choro, no riso, no afeto. Cada idoso, cada criança, cada jovem, todos juntos nessa caminhada, conectados e determinados a fazer Piquiá da Conquista existir. Como comunidade, aprendemos que a união é o que nos sustenta.”

Após a cerimônia, representantes da ACMP, da Justiça nos Trilhos, dos Missionários Leigos Combonianos e de outras organizações envolvidas nessa trajetória participaram da entrega das chaves e de kits com itens essenciais para as novas casas. Cada entrega foi um ato carregado de significado e de laços fortalecidos ao longo dos anos, um lembrete de que, mais do que um novo bairro, Piquiá da Conquista representa a união de um povo que se manteve firme, preservando sua identidade e construindo, coletivamente, um futuro digno.

Dona Francisca Tida, como é carinhosamente conhecida a presidente da ACMP, expressou sua emoção ao vivenciar esse momento marcante na vida dos moradores de Piquiá de Baixo: “O pessoal está todo aqui, na zoada, esperando para pegar a chave. Meu coração dispara de alegria e felicidade, porque cada pedacinho disso aqui é fruto da nossa luta, uma luta que foi só nossa, das famílias de Piquiá de Baixo.”

E ela ressalta: “Dá uma emoção tão grande, porque quando é a luta do povo, quando é a força da comunidade, as coisas realmente acontecem. Quando a gente se une, com paz e amor, Deus abençoa, e as portas se abrem para a gente.”

Assim, enquanto Piquiá da Conquista começa a tomar forma, ele guarda em seu solo as histórias, memórias e resistências de Piquiá de Baixo, mantendo viva a essência de um povo que, de fato, é e sempre será “Piquiá pelo povo e para o povo.”

Para a moradora Joselma de Oliveira, a mensagem cantarolada em muitos espaços – “Essa luta é nossa, é do povo” – é um exemplo e inspiração para que outras comunidades também se organizem, se unam e lutem pelos seus direitos, garantindo que aquilo que é delas por direito se torne realidade.