Dez anos da morte de Raimundo dos Santos Rodrigues: a impunidade que persiste no Maranhão
5 de setembro, 2025

Assassinado em 2015, ambientalista segue sem justiça; Maranhão lidera em conflitos e desmatamento na Amazônia Legal

Raimundo Rodrigues dos Santos e a esposa. Foto: ICMBIO.

No Dia da Amazônia, 5 de setembro, o Maranhão relembra a luta e o legado de Raimundo dos Santos Rodrigues, ambientalista assassinado há dez anos em Bom Jardim. Sua morte, em 25 de agosto de 2015, é um símbolo da impunidade e da violência que ainda ameaçam defensores ambientais no estado e em outras regiões da Amazônia Legal.

Raimundo atuava como conselheiro da Reserva Biológica do Gurupi e colaborava com o ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade), combatendo a exploração ilegal de madeira e denunciando crimes ambientais. Mesmo diante de constantes ameaças, manteve sua atuação, deixando um legado de coragem e compromisso com a preservação da Amazônia.

O Maranhão como epicentro da violência ambiental

O Maranhão é um dos estados mais perigosos do país para defensores ambientais. Entre 2019 e 2022, dez líderes indígenas foram assassinados na região. Entre 2023 e 2024, foram registrados 132 conflitos agrários, representando 26,7% do total nacional.

O desmatamento também segue em níveis críticos: em 2024, o estado perdeu cerca de 218 mil hectares de vegetação nativa, o pior índice do país pelo segundo ano consecutivo, de acordo com o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM).

No país, entre 2023 e 2024, ocorreram 55 assassinatos de defensores de direitos humanos, sendo 80,9% ambientalistas e defensores territoriais, segundo levantamento da Justiça Global e Terra de Direitos. O Brasil ocupa a segunda posição mundial em assassinatos de defensores ambientais, atrás apenas da Colômbia.

O caso de Raimundo: anos de impunidade

O assassinato de Raimundo ocorreu em uma emboscada enquanto retornava para casa, acompanhado de sua esposa, que sobreviveu ao ataque. O crime foi investigado, e dois suspeitos foram identificados, mas apenas um deles foi pronunciado, e sua ida a julgamento no Tribunal do Júri foi determinada mais de nove anos após o crime.

No entanto, o julgamento foi suspenso duas vezes: a primeira por questões logísticas da cidade e a segunda a pedido da defesa, que alegou erro processual. Com recursos aos tribunais superiores, o caso segue paralisado na Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça, evidenciando a negligência do Estado e a demora na responsabilização de autores de crimes contra defensores ambientais.

Campanha #10AnosDosSantos: memória e mobilização

É nesse contexto de impunidade e descaso institucional que surge a Campanha #10AnosDosSantos, que busca:

  • Lembrar o legado de Raimundo;
  • Denunciar a negligência do Estado;
  • Mobilizar a sociedade civil por justiça e proteção efetiva a defensores ambientais.

Organizações como o Justiça nos Trilhos (JnT), a Justiça Global e, em parceria com a Sociedade Maranhense de Direitos Humanos (SMDH), acompanham o caso, promovem visibilidade e exigem medidas concretas de proteção.

O retrato da Amazônia e a urgência de proteção

A morte de Raimundo é simbólica de um problema que extrapola o Maranhão. A Amazônia brasileira continua sob ameaça de desmatamento, conflitos agrários e violência contra defensores da floresta. A cada ano, novos casos mostram que o país ainda falha em garantir proteção, segurança e justiça para quem atua pela preservação ambiental.

No Dia da Amazônia, relembrar Raimundo dos Santos Rodrigues é também refletir sobre a urgência de políticas públicas eficazes, responsabilização dos autores de crimes ambientais e proteção real aos defensores da floresta e das comunidades tradicionais.

Contato para imprensa:
Lanna Luz – Assessoria de Comunicação – Justiça nos Trilhos (JnT)
lanna@justicanostrilhos.org | (99) 98165-8666