Justiça nos Trilhos acompanha de perto o sofrimento das famílias e lideranças de Buriticupu, interior do Maranhão, por mais um bárbaro assassinato que ameaça os defensores dos direitos humanos. As comunidades de Buriticupu estão sendo acompanhadas pela rede JnT em busca de alternativas econômicas para além do modelo de escoamento da ferrovia.
“O povo que ousa sonhar constrói um Brasil popular”! “Cabeça, fecharam a tua boca e não calaram a tua voz”. Esses foram os gritos dos trabalhadores rurais de Buriticupu (MA) na manhã dessa sexta-feira (20) durante um ato público. A manifestação foi organizada pelo Fórum de Políticas Públicas de Buriticupu com o objetivo de cobrar justiça pela morte de Raimundo Borges, conhecido como “Cabeça” que foi assassinado no dia 14 desse mês por representar as famílias rurais em conflitos fundiários. Estavam presentes representantes da Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Estado do Maranhão (FETAEMA), Comissão Pastoral da Terra (CPT), Movimento Sem Terra (MST), Igreja Católica, Igreja Evangélica, INCRA e o Partido dos Trabalhadores do Estado do Maranhão (PT), na pessoa do deputado Bira do Pindaré, a Rede Justiça nos Trilhos (JnT) e Centro de Defesa da Vida e dos Direitos Humanos (CDVDH) também apoiaram a manifestação.
Cantando o Pai Nosso dos martirizados e muitas outras músicas que falam da luta de minorias por justiça, a caminhada do povo de Buriticupu percorreu as principais ruas do município, parando em frente às instituições políticas e em ruas onde outros trabalhadores já foram assassinados. Crianças, jovens, idosos, pais e mães de famílias, muitas pessoas enfrentaram o sol até meio dia para manifestarem indignação pela morte de uma importante liderança comunitária da região e cobrarem investigação pelo poder judiciário.
A caminhada foi guiada por uma carroça que levava uma cruz e um caixão, representando não só a morte do trabalhador rural que foi assassinado, mas também a morte do poder político e da justiça que não se faz presente no município. “É o crime que precisa morrer, não o povo trabalhador. Cabeça deixou sua família chorando, órfã. Precisamos que o estado se manifeste, através de seus órgãos. Estamos aqui para dizer que o poder judiciário precisa cumprir o seu papel estando presente na cidade para fazer justiça pelos trabalhadores rurais que lutam em favor do povo. A cidade está órfã de Cabeça, órfã de justiça, de políticas públicas, de saúde e de educação”, afirmou Marlúcia Azevedo, coordenadora do Fórum de Políticas Públicas de Buriticupu (MA).
O ato público encerrou ao meio dia como uma concentração na rodovia BR – 222, onde filhos e amigos da vítima assassinada encenaram o crime que ocorreu na última semana, deixando a população triste e com medo. Os organizadores da manifestação cobram agora uma assembleia pública para discutir o assassinato de Raimundo Borges e a situação da pistolagem no município. As lideranças comunitárias que ainda residem na cidade temem que aconteça o mesmo com outras pessoas.
A morte de Cabeça e os conflitos por terra em Buriticupu
Raimundo Borges foi assassinado com cinco tiros na tarde de sábado (14) próximo à Vila Casa Azul, em Buriticupu. Os tiros foram disparados por dois homens que estavam de moto, vestidos com roupas pretas e usando capacetes. Esse tipo de crime é muito comum no estado do Maranhão, principalmente na cidade de Buriticupu. Desde a década de 70 mais de 27 pessoas foram mortas com essas características na cidade.
Cabeça, como era conhecido, morava em Buriticupu há 27 anos e sempre trabalhou pela reforma agrária e contra as ocupações irregulares de áreas de assentamento. Esteve a frente de vários movimentos denunciando injustiças, a omissão de autoridades e por isso participou de muitos conflitos que culminaram na sua morte. “É um exemplo de cidadão. Ele não bebia, não fumava, não andava em festas, o vício dele era lutar, ele nunca se dava como derrotado”, relata o amigo da vítima, ex deputado estadual Luís Vila Nova.
As pessoas que lutam em defesa do meio ambiente e de uma reforma agrária decente incomodam quem vive concentrando terras e oprimindo trabalhadores, num contexto que envolve grandes fazendeiros e madeireiros. De acordo com o secretário de políticas agrárias do estado do Maranhão, Raimundo Nonato Sousa, a morte no campo é tema de discussões em todo o país e principalmente no nordeste. Recentemente, além do assassinato de Raimundo Borges em Buriticupu, dois trabalhadores foram mortos nos estados da Paraíba e Pernambuco.
Hoje, as entidades que apoiam a luta desses trabalhadores cobram agilidade e trabalho dos órgãos competentes para que outras mortes não aconteçam e os direitos humanos sejam assegurados. Para o povo de Buriticupu, Cabeça teve a boca fechada, mas ainda tem uma voz que está multipicada nas pessoas que lutam contra a violência.
Fonte: assessoria de imprensa JnT, 21 de abril de 2012