Organizado pela Rede Justiça nos Trilhos, Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Açailândia, o seminário realizado no dia 08 de agosto, discutiu sobre os principais impactos da duplicação dos trilhos da mineradora Vale nas comunidades de Novo Oriente, Francisco Romão, Planalto I e II e acampamento João do Vale, no município de Açailândia/MA.
Diante das falas dos moradores dessas comunidades ficou evidente que a Vale não tem feito melhorias de contrapartidas diante de suas obras, que muda a rotina das comunidades,“a empresa melhorou a estrada, mas foi para o seu próprio beneficio, por onde já passam seus carros e caminhões”, reclama Lenilson Gonçalves Silva, do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Açailândia.
Dona Maria Nascimento realmente reclama do aumento de carros que começaram a trafegar pela estrada que dá acesso às comunidades, “antes raramente passava um carro, hoje eles passam o dia inteiro, tirou nosso sossego”.
Sem contar, que especificamente em Novo Oriente, um canteiro de obras da Odebrecht, empresa responsável pela obra, já foi estabelecido e a comunidade viu chegar da noite para o dia cerca de 500 homens.
“Como temos acompanhado em outras comunidades, vimos que a chegada desses homens acentua a prostituição e a exploração sexual de menores”, ressaltou um dos coordenadores da rede Justiça nos Trilhos, Padre Dário Bossi.
Mas, outro agravante ronda os assentamentos, a remoção das casas próximas aos trilhos, algo que amedronta Dona Maria do Nascimento, “Isso dá muito medo eu já estou nessa comunidade há trinta anos, e agora essa igreja que era um sonho para nós que conseguimos realizar há pouco tempo está ameaçada pela Vale, além dessas casas que margeiam aqui os trilhos”, diz.
Padre Dário, em uma de suas falas no seminário, alertou aos moradores que negociassem com a Vale apenas coletivamente. “Sabemos que a empresa tem adotado na duplicação dos trilhos vias judiciais que prejudicam os moradores, uma prática da Vale, tem sido negociar individualmente com moradores contratos de clausulas confidenciais, ou seja, nada poderá ser falado sobre o que foi acordado entre a mineradora e o morador para nenhum vizinho ou sequer para um advogado, sendo duvidoso, pois ela estipula os preços das terras a que está interessada, sem deixar que as famílias procurem saber o quanto realmente teriam de direito com indenizações por estar perdendo suas terras e casas”, revela.
Duplicação dos problemas
Nos assentamentos cortados pelos trilhos da Vale, os moradores levantaram uma série de problemas que devem se acentuar com a duplicação da linha férrea, como o índice de atropelamento de pessoas e animais, trepidação e rachadura das casas, além do aterro de poços com a passagem do trem, poluição sonora, aumento do trafego de carro, o envenenamento das terras da comunidade pelo veneno jogado nas plantações dos eucaliptos que cerceiam os assentamentos, devastação ambiental e constantes incêndios provocados pelo trem.
Assim, os assentamentos acertaram um patamar de negociação que abranja todas as comunidades, que será entregue à prefeitura de Açailândia e a mineradora Vale. O vice prefeito, Antonio Erismar (PT-MA), presente no seminário assegurou: “a prefeitura de Açailândia fará o que for preciso para ajudar as comunidades diante das injustiças da mineradora nas negociações”.
Dentre os principais itens das reivindicações levantados no seminário, em processo de elaboração, estão melhorias na escola, construção de túneis para passagens de carros e passarelas para travessia de pedestres sob a estrada de ferro, valor justo de indenização para remoção das casas, recuperação dos reservatórios de água, trabalho de prevenção a incêndio, apoio às experiências ambientais, pesquisas para avaliar impacto dos agrotóxicos vindo do eucalipto, na plantação dos assentamentos e um posto de saúde.
Desproporcional
Para a dirigente nacional do MST no Maranhão, Divina Lopes, esses assentamentos estão muito vulneráveis aos projetos da Vale, “Essas comunidades estão aqui há aproximadamente 27 anos e não avançou quase nada, pois não há preocupação do Estado, não temos créditos em assentamentos, investimentos, pesquisas, estudos, assim qualquer melhoria que a Vale traga a essas comunidades, é percebido como algo bom e a empresa passa a ser bem vista”, diz.
Até os empregos precarizados, de baixo salário destinados aos moradores desses assentamentos poderiam ser evitados. “Se nós tivéssemos condições de produção de nossos lotes nós nem precisaríamos submeter-se a empregos desses grandes projetos”.
Ainda na visão da dirigente do MST, a agricultura familiar sofre uma concorrência desleal diante dos grandes projetos do campo, “Enquanto o agronegócio, os projetos de mineração, recebem grande quantia de dinheiro do governo, nós mal conseguimos recursos para arrumar uma estrada para escoar, por exemplo, nossa produção”, conclui.
Por Márcio Zonta, Justiça nos Trilhos