Melhor seria perguntar: por que somos? De onde nasce a urgência de protestar e lutar contra as ações de uma das empresas mais poderosas do mundo?
Se hoje nos unimos, é porque já conhecemos de perto o que existe para além da propaganda da Vale. Se nos articulamos, trocamos experiências e lutamos em conjunto, é porque percebemos que por trás do discurso da empresa está a sua agressividade e seu poder destrutivo. Sabemos, por exemplo, que o papo de “sustentabilidade” tenta esconder os irreversíveis impactos causados ao meio ambiente; que a história de “responsabilidade social” é contada para ocultar o desrespeito aos direitos das comunidades atingidas pelos empreendimentos da Vale; que a divulgação da imagem de funcionários satisfeitos não apaga o desrespeito a leis trabalhistas nem a intransigência e a arrogância no trato com trabalhadores sindicalizados.
No verso do bonito quadro vendido na TV e nas revistas, atrás da empresa compromissada com a vida e com o “desenvolvimento” do país, encontramos a obsessão transnacional pelo lucro e pela máxima concentração de riquezas. Encontramos desrespeito, injustiça, pobreza, sofrimento, morte.
É por isso que somos.
Somos famílias inteiras desrespeitadas, sem acesso a alguns dos direitos mais fundamentais;
somos trabalhadores explorados em minas de ferro, carvão, níquel, cobre;
somos sindicalistas, ambientalistas, feministas, políticos;
somos estudantes, somos professores;
somos indígenas, quilombolas, ribeirinhos, pescadores, camponeses;
somos migrantes, refugiados, homens, mulheres e crianças arrancados do chão que pariu e alimentou suas famílias;
somos cidadãos enganados, desempregados, favelados, marginalizados, doentes;
somos sem terra, sem teto, sem trabalho.
Somos brasileiros, chilenos, peruanos, argentinos, moçambicanos, canadenses, indonésios… Indignados com o saque cotidiano de riquezas que pertencem a nossos povos.
Somos todos lutadores sociais em busca de um desenvolvimento que alcance de forma igualitária a todos os cidadãos e respeite verdadeiramente o meio ambiente, os direitos humanos e a vontade própria das comunidades tradicionais.
E juntos trabalhamos intrumentos e estratégias comuns para expor a verdadeira Vale, contestar seu poder absoluto e fortalecer os trabalhadores e todas as populações atingidas por suas ações.
No final de 2007 uma coordenação de movimentos, associações e cidadãos começou a interrogar-se sobre a maneira mais eficaz e justa para cobrar da Vale do Rio Doce uma justa compensação pelos danos causados ao meio-ambiente e à população que vive nas áreas atravessadas pela sua ferrovia.
Através de muito diálogo, estudo e confrontação de idéias, nasceu a campanha internacional “Justiça nos Trilhos”, cujos objetivos estão resumidos no texto-base anexado abaixo. A coordenação da campanha é composta pelas seguintes entidades:
- – Missionários Combonianos
- – Fórum Carajás
- – Fórum ‘Reage São Luís’
- – Sindicato dos Ferroviarios de Maranhão, Tocantins e Pará
- – GEDMMA (Grupo de Estudo Modernidade e Meio Ambiente – UFMA)
- – MST
Aderem à campanha também:
Rede Brasileira de Justiça Ambiental, GT de Combate ao Racismo Ambiental, GT Articulação Siderurgia, Sociedade Maranhense dos Direitos Humanos, Caritas Regional Maranhão, CUT Maranhão, Instituto de Políticas Alternativas para o Cone Sul, ECOA, Movimento pelas Serras e àguas de Minas, FAOR (Fórum Amazônia Oriental), Comitê Dorothy Belém, Fórum Social Maranhense, Associação Juízes para a Democracia, Dioceses de Imperatriz e Viana, Cáritas Regional Pará, Núcleo de Assessoria Jurídica Popular São Luís, CPT Marabá, MAB Marabá, CEPASP Marabá, Sociedade Paraense de Direitos Humanos, alguns docentes das universidades UEMA, UFMA e UFPA.
Especialmente depois do Fórum Social Mundial, a campanha Justiça nos Trilhos mantém relações com vários grupos de atingidos pela Vale em outros países, e com associações e entidades que defendem o Direitos Humanos, Sociais, Econômicos, Culturais e Ambientais em numerósas nações do mundo:
- Observatorio de Conflictos Mineros en America Latina (OCMAL)
- Mines and Communities
- Observatorio Latinoamericano de Conflictos Ambientales – OLCA (Chile)
- Red de Organizaciones Sociales de la Provincia del Choapa (Chile)
- Agrupación de Defensa Valle Chalinga (Choapa, Chile)
- Comité de Defensa Valle Chuchiñi (Choapa, Chile)
- Organización Ambiental de Salamanca – OCAS (Choapa, Chile)
- Grupo de Formación e Intervención para el Desarrollo Sostenible – GRUFIDES (Cajamarca, Peru)
- Comunidad Campesina San Martin de Sechura (Piura, Peru)
- Asamblea Popular por el Agua (Mendoza, Argentina)
- Asociación Amigos del Lago Izabal (Guatemala)
- United Steelworkers (Canadá)
- Mining Watch (Canadá)
- Sandy Pond Alliance (Newfoundland, Canadá)
- Port Colborne Residents (Ontario, Canadá)
- Liga de Justiça Ambiental (Moçambique)
- Sindicato Nacional dos Trabalhadores da Indústria de Construção Civil, Madeiras e Minas – SINTICIM (Moçambique)
- Centro para a Integridade Política – CIP (Maputo, Moçambique)
- Associação Comunitária de Apoio e Assistência Jurídica (Tete, Moçambique)
- Jaringan Advokasi Tambang / Mining Advocacy Network – JATAM (Indonesia)
- Kanaks (Nova Caledônia)
- Centro Nuovo Modello di Sviluppo (Itália)
- Agronomi Senza Frontiere (Itália)
- FIM-CISL (Itália)
(confira os contatos na página dos links)
A campanha é reconhecida e apoiada também por várias testemunhas importantes da vida sócio-política do Maranhão e Pará:
- o jornalista Lúcio Flávio Pinto
- o juiz Fernando Mendonça
- o juiz Douglas de Melo Martins
- o advogado Guilherme Zagallo
Bibliografia sugerida:
Alfredo Wagner Berno de Almeida, “Carajás, a Guerra dos Mapas” Marcos Kowarick, “Amazônica / Carajás – Na Trilha do Saque”
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