Mudança na Vale é evidência de uma onda nacionalista | Justiça nos Trilhos
2 de dezembro, 2011

presidentes-9256121A demissão de Roger Agnelli da presidência executiva da gigante da mineração Vale SA, sob pressão do governo brasileiro, é a mais recente de uma série de medidas de governos de países emergentes para intervir nas altamente lucrativas e cobiçadas produtoras de recursos naturais de seus países.

Algumas dessas medidas incluíram a rejeição dos esforços de empresas estrangeiras para adquirir participações substanciais em empresas locais de mineração e de produção de recursos naturais. Grandes mineradoras que buscaram aquisições mundiais, como a BHP Billiton, a Rio Tinto e a Xstrata PLC, não quiseram comentar a mudança no comando da Vale, em que a presidente Dilma Rousseff forçou a saída de Agnelli. As grandes mineradoras afirmaram apenas que não preveem que a mudança na Vale altere seus planos de expansão, que já levam em conta a onda crescente de nacionalismo e os esforços dos governos para aumentar seus impostos.

De fato, muitas mineradoras estão recuando ou reduzindo o tamanho das aquisições no exterior para evitar medidas defensivas dos governos. Em alguns casos, elas estão abandonando projetos gigantescos de exploração, que são caros e podem acabar beneficiando mais os governos locais que os acionistas ou clientes.

“Tanta volatilidade é um obstáculo a grandes investimentos”, diz Francisco Blanch, um economista especializado em commmodities do Bank of America Merril Lynch. “Muitas mineradoras estão se perguntando: “Por que eu deveria levar adiante esse investimento enorme?” O resultado é que [os governos] estão desestimulando o investimento nos mercados de commodities, extremamente necessário para obter uma oferta estável de aço, carvão, cobre e petróleo.”

A Rio Tinto, terceira maior mineradora do mundo, já anunciou que vai limitar seus investimentos a projetos de pequeno e médio porte que custem menos de US$ 10 bilhões. Ela notou que os governos estão buscando aumentar os impostos e os royalties, e que os projetos maiores ficaram muito arriscados e caros por causa da incerteza tributária.

A América Latina, rica em commodities, tem encabeçado a tendência de maior controle governamental sobre os recursos naturais, como petróleo e outras matérias primas. A Venezuela e a Bolívia já nacionalizaram ativos de petróleo e gás, enquanto o Equador começou a cobrar impostos de 70% do que considera lucro excessivo. Depois que o Brasil descobriu jazidas gigantescas na costa do Sudeste, o país mudou as regras de seus leilões de direitos de exploração para dar a maior parte das concessões à estatal Petróleo Brasileiro SA. Em muitos casos as mudanças representam uma reviravolta em relação aos anos 90, quando países necessitados de recursos abriram suas economias para o investimento estrangeiro, gerando um boom de exploração.

Mas o protecionismo se estende até a outros países. A BHP Billiton, maior mineradora do mundo, já assistiu a vários de seus projetos de mineração serem derrubados por governos estrangeiros. O Canadá bloqueou seu plano de comprar a Potash Corp. por US$ 38 bilhões e, meses antes disso, a Austrália criou tantos obstáculos para um projeto de joint-venture de mineração de ferro com a Rio Tinto que as mineradoras abandonaram os planos.

A BHP afirmou que não ia comentar os acontecimentos na Vale e citou declarações feitas por seu presidente do conselho em novembro.
“O mundo está mudando”, disse a acionistas o presidente do conselho da BHP, Jac Nasser, pouco antes da tentativa de comprar a Potash fracassar. “Chame de protecionismo ou nacionalismo, certamente há uma tendência de o processo ficar mais difícil quando se trata de grandes transações entre fronteiras.”

Enquanto aumenta a tensão entre governos e mineradoras sobre o futuro do desenvolvimento, da venda e dos lucros dos recursos naturais subterrâneos da Terra, também fica indefinido o futuro da oferta contínua e confiável desses minérios e metais.
O cobre está ficando cada vez mais difícil de achar e mais caro de extrair. O carvão e o minério de ferro, embora relativamente abundantes, são vistos pelos governos como oportunidades suculentas de cobrar impostos e regulamentar para poder encher os cofres locais com mais dinheiro oriundo da mineração.

África do Sul, Zâmbia, Austrália e Colômbia anunciaram recentemente planos de aumentar os impostos sobre metais e minérios produzidos em seus países.

Fonte: Valor Econômico – 06/04/2011, traduzindo Robert Guy Matthews | The Wall Street Journal (Colaborou John Lyons)