A equipe do JN no Ar foi ao Amapá para ver de perto os efeitos do crescimento da migração, apontado no Censo do IBGE. O grupo teve a oportunidade rara de testemunhar praticamente o começo, o surgimento de uma cidade no centro-oeste do estado, com brasileiros que saem de suas cidades pensando em ter uma vida melhor na região.
Cem quilômetros de asfalto e mais cem de buraqueira. A equipe do Jornal Nacional foi à mesma estrada que, em média, dez brasileiros percorrem a cada semana pensando em melhorar de vida. É Pedra Branca do Amapari.
Uniformizados do Maranhão, de Goiás, do Pará, de Minas, de praticamente todo o Brasil, a caminho do trabalho.
Só contando esse movimento migratório, a população de Pedra Branca do Amapari cresceu 24% em cinco anos e chegou a quase 11 mil habitantes. Mas a cidade não se preparou para isso.
“A população chega em um determinado local e quer que a presença do estado esteja ali. Só que o estado não está preparado para atender toda aquela população”, revela o tenente da PM Alex Sandro Chaves.
O município, que tem só dois policiais por turno, não costumava saber de mais do que um homicídio por ano. Desde janeiro, já foram nove.
Pedra Branca vai ganhar sua primeira praça, mas não sabe o que é saneamento básico. Faz seis dias que ninguém tira o lixo da frente das casas, mas a prefeitura segue com a obra para transformar a minúscula câmara de vereadores em uma supercâmara.
O ajudante geral Marcelo de Souza chegou ao lugar pensando em juntar dinheiro e voltar para o Maranhão. “Não sei se volto mesmo, só o homem lá de cima sabe”, diz ele.
A força do minério
Mas o que faz com que tantos brasileiros saiam de suas cidades, viajando às vezes dois ou três dias pelas estradas para começar tudo de novo em Pedra Branca do Amapari? A resposta está debaixo da terra.
A cidade foi fundada há 20 anos, mas só passou a existir para valer há sete anos, quando uma empresa de mineração se instalou no local. Em 2011, chegou mais uma.
O que para os que não conhecem parece pura terra, pode ter até 60% de minério de ferro. Além disso, até três gramas de ouro em cada tonelada que caminhões retiram do lugar.
Entre 2005 e 2010, a migração foi responsável por um aumento de 3,3% na população do Amapá. Esse movimento aconteceu em 15 dos 16 municípios do estado.
Em Macapá, só a expectativa de que velhos geradores sejam trocados por hidrelétricas animou muita gente a se mudar para o lugar. O estado do Amapá até hoje não tem uma linha de transmissão para levar energia do continente. Mesmo assim, na última década, foi o segundo estado brasileiro que mais cresceu em termos proporcionais.
Natanael chegou como empregado há seis anos, mas depois que virou dono já mandou buscar mais 20 conterrâneos na Paraíba. “Eu ganhei tudo aqui, em Macapá. Hoje, sou o que sou por causa dessa terra abençoada”, elogia.
Fonte: Jornal Nacional, por Rodrigo Alvarez, 01 de novembro 2012