Marabá: Siderúrgicas já falam em férias coletivas
12 de abril, 2010

Produção de gusa se amontoa nos pátios das siderúrgicas e alto fornos estão quase parando as atividades por conta da crise. O mercado econômico de Marabá já sente os primeiros reflexos da crise internacional desencadeada nos Estados Unidos e que atingiu por tabela o mundo inteiro. Nesse mar de turbulência, as 11 siderúrgicas instaladas no Distrito Industrial de Marabá viram de uma hora para a outra a venda do ferro-gusa despencar para os Estados Unidos, principal importador do produto. Mas o mercado asiático também freou sua produção e a compra do produto. O problema ocasionou um efeito dominó na cadeia produtiva do ferro-gusa. Como a oferta de carvão vegetal passou a ser maior do que a procura, e as siderúrgicas temem armazenar o produto, o valor do metro cúbico do carvão caiu cerca de 25%. “Estamos em um momento de crise no setor e esperamos que passe rápido”, desabafou o dono de um escritório de compra e venda do produto, que não quis se identificar com medo de fiscalização de órgãos ambientais. Ontem à tarde, o comprador de carvão de uma das mais novas siderúrgicas do Distrito Industrial de Marabá explicou que as siderúrgicas estão em processo de desligamento de alto fornos e que por conta disso, há excesso de oferta de carvão. “Não há nenhuma expectativa de negociação de ferro gusa desde julho deste ano. Compramos o metro cúbico de carvão atualmente por 110 reais, mas está todo mundo apreensivo, sem saber se esse preço é rentável”, explica. A Usimar e Sidenorte estão entrando em processo de paralisação de seus alto fornos, enquanto as demais estão com pressão reduzida, ou seja, com produção menor, porque não conseguem negociar o ferro gusa que industrializam com nenhuma empresa. “Apenas a Sidepar estaria operando com sua capacidade normal”, explicou o informante. Sindicom Ouvido pela reportagem do CT na última quinta-feira, o economista e presidente do Sindicom (Sindicato da Indústria e Comércio de Marabá), Paulo César Lopes, explicou que as siderúrgicas já prevêem demissão em massa. “O preço do dólar cresceu, é verdade, mas isso não é tudo. Acontece que o princípio de recessão americana faz com que o povo não compre. Com isso, a indústria diminui seu ritmo e a venda do ferro-gusa caiu cerca de 25%”, observa. Na ponta do lápis, Paulo Lopes mostra que para quem está importando, está ganhando com dólar atual. Mas muitas empresas fecharam contratos anteriores e se queimaram. “A sorte nossa é que hoje não exportamos apenas para os Estados Unidos, mas para a Ásia também”. Por conta do efeito dominó, algumas siderúrgicas já se preparam para dar férias coletivas para parte de seus funcionários. “Esse efeito cascata vai atrapalhar o comércio, porque os cerca de 6 mil funcionários do setor não vão comprar. Se isso demorar muito, começa a ter demissões pra valer”, alerta. Na avaliação do presidente do Sindicom, o mercado de alimentos será o último a ser atingido nesse efeito cascata. A carne que puder ser exportada será mantida no mercado interno com preço mais baixo. “A crise chegou em Marabá e é irreversível. Alguns acham que é passageira, mas acredito que é só o começo. O governo está injetando dinheiro, mas até quando vai poder fazer isso?”, questiona o economista. Por: Ulisses Pompeu

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