Pelo menos 600 homens da Força Nacional de Segurança foram convocados na quinta-feira 17 de março para conter a revolta dos trabalhadores da construção da usina hidrelétrica de Jirau, no Rio Madeira, em Rondônia. Em nota, o MAB explica que os mais de 15 mil operários da obra estão em situação de superexploração, com salários extremamente baixos, longas jornadas e péssimas condições de trabalho; existe epidemia de doenças dentro da usina e não há atendimento adequado de saúde.
Cerca de 100 homens da Força Nacioanl já estão nos canteiros da obra, e outros 500 serão levados ao local em aviões da Força Aérea Brasileira (FAB). O pedido para o envio dos homens da Força Nacional foi feito pelo governador Confúcio Moura (PMDB) aos ministros da Justiça, José Eduardo Cardozo, e da Defesa, Nelson Jobim, e à secretária Nacional de Segurança Pública, Regina Maria Filomena de Luca Miki.
Hoje, um novo quebra-quebra pela manhã destruiu toda a estrutura de um dos dois canteiros de obra da usina, a maior obra em construção do país, conduzida com recursos do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). Ontem, segundo a Secretaria de Estado da Segurança, Defesa e Cidadania (Sesdec), os trabalhadores já haviam queimado 45 ônibus, 15 carros de passeio, 35 alojamentos e outras 30 instalações do canteiro localizado na margem direita do rio.
Hoje pela manhã, o que havia sobrado –cerca de 65 alojamentos e instalações– também foi destruído, mesmo com a presença de policiais. Mais de 20 mil operários trabalham na obra, que deve ser entregue em março de 2012 e custará aproximadamente R$ 11 bilhões. A implementação de Jirau, conduzida com recursos do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) é a maior obra em construção do país.
Conforme pedido do governador, o Exército ficará responsável pela segurança dos paióis de explosivos, que existem em grandes quantidades no canteiro de obras. A Marinha fará a vigilância no rio Madeira. Por fim, a Aeronáutica deverá enviar helicópteros para o monitoramento aéreo. Além do canteiro de obras, o distrito de Jacy-Paraná, a vila de Nova Mutum e o presídio federal serão monitorados.
De acordo com o órgão, os 12 mil operários do canteiro deixaram o local e tentam ir a Porto Velho, que fica a 150 km, pois estão sem local para dormir. Além das forças armadas, 160 policiais militares –80 do Comando de Operações Especiais (COE)– 36 bombeiros e oito policiais civis, além de agentes da Polícia Federal e da Polícia Rodoviária Federal estão nos canteiros da usina.
Como começou a revolta
O estopim da revolta teria sido uma briga entre um motorista de ônibus com um funcionário do empreendimento por volta de 18h20 (horário de Brasília) de ontem, segundo a Sesdec. A partir daí, pelo menos 50 trabalhadores começaram a depredar as instalações do canteiro. Os protestos se espalharam para o outro canteiro de obras, que fica na margem esquerda do Rio, nesta manhã. Pelo menos 31 pessoas foram detidas.
Os trabalhadores se queixam das condições de trabalho oferecidas na obra e exigem aumento salarial. Acusam ainda o consórcio ESBR (Energia Sustentável do Brasil) –formado pelas empresas Chesf, Eletrosul, Suez e Camargo Corrêa–, responsável pela obra, de não oferecer infraestrutura adequada para tratar um surto de malária que atinge o canteiro de obras.
O Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), que acompanha as obras em Jirau, afirma que as empresas construtoras da usina foram denunciadas no relatório de violação dos direitos humanos elaborado pela Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana –órgão subordinado à Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República– no final de 2010.
Entre as irregularidades apontadas no relatório, estão as más condições de trabalho a que os operários estariam sendo submetidos nas obras.
Por meio de nota, a assessoria de imprensa da Camargo Corrêa afirma que hoje retirou os trabalhadores da obra por questões de segurança e que “não há qualquer reivindicação trabalhista no empreendimento”.
“As cenas de destruição são resultado da ação de vândalos, que agiram criminosamente”, diz o texto. A empresa não sabe o motivo que levou o grupo de trabalhadores a destruírem as instalações da obra.
Fonte: Guilherme Balza, do UOL Notícias
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Nota do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) sobre a revolta dos operários na Usina Hidrelétrica de Jirau, em Rondônia
Nesta semana acompanhamos a revolta dos operários na Usina Hidrelétrica de Jirau contra as empresas que controlam a barragem. Existem informações de que os mais de 15 mil operários da obra estão em situação de superexploração, com salários extremamente baixos, longas jornadas e péssimas condições de trabalho, que existe epidemia de doenças dentro da usina e não existe atendimento adequado de saúde, que o transporte dos operários é de péssima qualidade, sofrem com a falta de segurança e que mais de 4.500 operários estão ameaçados de demissão. Esta é a realidade da vida dos operários.
Esta situação tem como principal responsável os donos da usina de Jirau, o Consórcio formado pela transnacional francesa Suez, pela Camargo Corrêa e pela Eletrosul. As revoltas dos operários dentro das usinas tem sido cada vez mais frequentes e isso é fruto da brutal exploração que estas empresas transnacionais impõem sobre seus trabalhadores.
Há pouco tempo houve revolta na usina de Foz do Chapecó, também de propriedade da Camargo Corrêa, em 2010 houve a revolta dos operários da usina de Santo Antonio e agora temos acompanhado a revolta dos operários da usina de Jirau.
As empresas construtoras de Jirau são as mesmas que foram denunciadas em recente relatório de violação de Direitos Humanos, aprovado pelo Governo Federal, que constatou que existe um padrão de violação dos direitos humanos em barragens e de criminalização, sendo que 16 direitos têm sido sistematicamente violados na construção de barragens. Os atingidos por barragens e os operários tem sido as principais vítimas.
A empresa Suez, principal acionista de Jirau, é dona da Barragem de Cana Brava, em Goiás, e Camargo Corrêa é dona da usina de Foz do Chapecó, em Santa Catarina. Essas duas hidrelétricas também foram investigadas pela Comissão Especial de Direitos Humanos em que foi comprovada a violação. Estas empresas tem uma das piores práticas de tratamento com os atingidos e com seus operários.
Em junho de 2010, o MAB já havia alertado a sociedade que em Jirau havia indícios e denúncias, que circularam na imprensa local, de que as empresas donas da Usina de Jirau haviam contratado ex-coronéis do exército para fazer uma espécie de trabalho para os donos da usina de Jirau e não seria surpresa se estes indivíduos contratados pelas empresas promovessem ataques ou sabotagens contra os operários e atingidos, para jogar uns contra os outros e/ou criminalizar nossas organizações e sindicatos.
A revolta dos operários é reflexo desse autoritarismo e da ganância pela acumulação de riqueza através da exploração da natureza e dos trabalhadores. Prova desse autoritarismo e intransigência é que estas empresas se negam a dialogar com os atingidos pela usina e centenas de famílias terão seus direitos negados. As consequências vão muito além disso, pois nesta região se instalou os maiores índices de prostituição e violência.
Em 2011, O MAB completa 20 anos de luta e os atingidos comemoram a resistência nacional, mas também denunciam que estas empresas não tem compromisso com a população atingida e nem com seus operários. Recebem altas taxas de lucro que levam para seus países e o povo da região fica com os problemas sociais e ambientais.
O MAB vem a público exigir o fim da violação dos direitos humanos em barragens e esperamos que as reivindicações por melhores condições de trabalho e vida dos operários sejam atendidas.
Água e energia não são mercadorias!
Coordenação Nacional – Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB)