A Companhia Vale do Rio Doce inaugurou no dia 27 de março de 2009 em Moçambique um dos maiores projetos de carvão do mundo, mas é na geração de energia do país africano que a mineradora deverá investir mais. O ministro de Energia de Moçambique, Salvador Namburete, revelou que a empresa pode injetar até US$ 2,8 bilhões na construção de um grande central complexo de energia térmica próxima à mina de carvão, para aproveitar parte da matéria-prima e gerar receita com a exportação da energia para a vizinha África do Sul. A empresa confirma a construção da térmica, mas não informa o valor do projeto. Se confirmar, os investimentos dos dois projetos da mineradora nos próximos anos no país alcançarão cerca de 40% de todo o Produto Interno Bruto (PIB) gerado pelos moçambicanos em 2008.
O projeto Carvão Moatize terá US$ 1,3 bilhão em investimentos e capacidade para produzir 11 milhões de toneladas do insumo por ano. Localizada na província de Tete, a mina tem previsão de início em 2011. A Vale lança hoje a pedra fundamental do projeto. A ministra de Recursos Minerais de Moçambique, Esperança Bias, estima que o país possui 10 bilhões de toneladas de carvão, cujas reservas estão concentradas em Tete e Niassa. O dado, porém é preliminar, conforme ponderou a ministra.
As obras da Vale em Tete já atraíram cerca de 20 empresas brasileiras, inclusive as construtoras Odebrecht e Camargo Corrêa. Esta, por sua vez, vai erguer uma hidrelétrica de US$ 2 bilhões, com capacidade de geração de 1,5 mil megawatts (MW). O projeto já tem nome e confirmação da Camargo Corrêa. Chama-se Mphnda Nkuwa e está na fase de estruturação.
A ministra de Recursos Minerais de Moçambique contou a alguns jornalistas brasileiros que a térmica da Vale poderá ter capacidade de geração de 600 MW a 2,4 mil MW, dependendo do número de módulos que a mineradora decidir construir. A companhia informou que os números ainda não foram definidos e o projeto terá que passar pelo crivo do Conselho de Administração.
Além da Vale e da Camargo Corrêa, a australiana Riverdale também está de olho no setor elétrico, segundo os ministros. A empresa deve erguer uma térmica na mesma região. E o governo trabalha com mais investidores para erguer outra hidrelétrica. A falta de energia é um dos maiores gargalos no continente. Os investidores terão como contrapartida a construção de um linhão de transmissão capaz de aumentar a capacidade de distribuição elétrica do local de produção, na província de Tete, até o centro consumidor industrial, na capital, Maputo, e redondezas. O objetivo é exportar a maior parcela da energia e atender a indústria local.
Construída pelos colonos portugueses, a hidrelétrica existente, Caborabaça, atende prioritariamente aos vizinhos. Depois de pagar US$ 950 milhões pela usina, o governo moçambicano decidiu ampliar a exportação, mas também mirou na produção de energia para o consumo dos moçambicanos, por meio de novos projetos. O governo lançou o programa de eletrificação rural e dobrou o acesso a energia pela população em apenas quatro anos. Mas a taxa ainda é pequena: 14% da população tem energia elétrica. “Do ponto de vista de soberania é uma grande debilidade não poder escoar nossa própria energia”, disse o ministro de energia de Moçambique, Salvador Namburete.
Um dos insumos usados na geração elétrica, o carvão térmico deve representar cerca de 30% da mina da Vale. Outros 70% seriam de carvão metalúrgico, usado por siderúrgicas na produção de aço.
A Vale está no país desde 2004, quando adquiriu direitos para pesquisar a área de Moatize. Trabalham no processo cerca de dois mil empregados, dos quais mais de 90% são habitantes locais. O projeto exige a retirada de mais de mil famílias da região, o que levou a empresa a construir novas casas, além de executar obras sociais. Serão investidos mais de US$ 170 milhões em saúde, educação, cultura, lazer e infra-estrutura. A empresa já reabilitou o hospital da região, construiu um orfanato e reformou outro, entre outras ações. Programas de capacitação de mão-de-obra também foram providenciados, conforme contou a coordenadora de sustentabilidade da empresa no país, Camilla Lott.
Fonte: Gazeta Mercantil