Fotografia indígena – olhar de Genilson Guajajara encanta plateia
16 de junho, 2023

Na palestra o fotógrafo indígena apresentou imagens únicas que serão publicadas em livro

Olhares atentos e reflexivos marcaram as reações expressas pela plateia durante a palestra “Demarcando Telas Através da Imagem”, com o fotógrafo Genilson Guajajara. Natural da Aldeia Piçarra Preta, da Terra Indígena Rio Pindaré, no Maranhão, Genilson é comunicador popular e formado em cinema indígena. No evento, compartilhou o seu trabalho de forma clara e objetiva, e os acadêmicos puderam apreciar as imagens fotografadas por ele e entender um pouco do seu olhar único e tocante. Suas imagens são um trabalho de expressão voltado aos rituais ancestrais e o cotidiano do seu povo.

Com os registros da Festa da Menina Moça, um rito de passagem emocionante para a vida adulta das meninas indígenas, Genilson demonstrou sua aptidão e talento artístico. Para Genilson, a fotografia é importante porque mostra a resistência do seu povo e os papéis diferentes que cada um possui dentro do seu território, além de mobilizar as pessoas para cuidar desse espaço. Ele também busca desconstruir o pensamento das pessoas de fora em relação ao modo de vida dos indígenas, através da sensibilidade do seu olhar. Para ele a sua foto é arma. É a sua ferramenta de luta.

 “A gente conseguiu dar o primeiro passo, que é mostrar o olhar do indígena, do Guajajara, pro seu próprio povo e também pro público não indígena, então isso acaba trazendo uma transformação e desconstrução ao mesmo tempo”, enfatizou. Pela manhã, o fotógrafo participou ainda de uma oficina para a construção das ideias em torno do projeto gráfico do livro.

Dentro das suas vivências e do seu modo de pensar, Genilson externa uma comparação sobre as técnicas usadas por um caçador e um fotógrafo.  “Observei na minha aldeia, que quando um caçador se prepara para caçar, ele segura a respiração para mirar e solta a respiração junto com a flecha. Assim eu faço com a minha fotografia. Solto a minha respiração junto com o clique.”

Em tom de denúncia, expôs os cliques das queimadas e de brigadistas que ajudam a apagar incêndios provocados de forma criminosa na terra indígena. Nas fotos do dia a dia da aldeia, a plateia pôde ter contato com momentos únicos da cultura Guajajara. Em 2021, ele foi indicado ao prêmio PIPA – A janela para a arte contemporânea brasileira, ficando em quarto lugar. Na palestra, o fotógrafo apresentou fotos da época da pandemia, cliques que levaram sua arte para o Brasil e outros países.

O encontro aconteceu em 23 de maio, na terça-feira (23), no Auditório da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), campus Imperatriz. A jornada como fotógrafo começou com um curso de fotografia oferecido pela Justiça nos Trilhos (JnT), por meio das iniciativas de comunicação popular.

A parceria Justiça nos Trilhos e o grupo de pesquisa Love

Para a publicação de seu primeiro livro fotográfico sobre o povo Guajajara, o artista conta com uma parceria com a Justiça nos Trilhos, que já dura anos, e com o grupo de pesquisa Laboratório de Comunicação Visual e Edição Criativa Love, da UFMA Imperatriz, coordenado pela professora Yara Medeiros.

“Tá sendo incrível a construção desse livro, pois é o meu sonho. E ter 90% dele feito é muito importante, porque ele é inspirador, eu me dediquei muito, dei o melhor de mim para fazer belas imagens sobre a história, sobre os rituais e o território, e ter isso em mãos é maravilhoso, espero que ele entre em vários espaços e consiga motivar outras pessoas”, explica Genilson. O trabalho tem textos e fotos e foi escrito em parceria com o antropólogo indígena Francisco Apurinã.

A professora Yara ressaltou a relevância de produzir um livro: “O laboratório tem essa intenção de trabalhar o design editorial de um modo que leve os assuntos de importância social além, produzindo um design a partir da troca de saberes que contribua com a transformação social”. A professora também expressou a satisfação de estar na mesa com dois alunos que sempre foram parceiros e agora retornam com essa proposta de trabalho inspiradora e com tanta relevância.

Estiveram também presentes na mesa de abertura a coordenadora do Love, a professora doutora Yara Medeiros, a coordenadora de projeto e da comunicação da Justiça nos Trilhos, Lanna Luiza, e o assessor e comunicador popular também da Justiça nos Trilhos, José Carlos Almeida. Ele voltou a ser aluno do curso de Jornalismo, depois de uma pausa para cursar Direito. Em sua fala, ressaltou o sentimento de poder voltar na universidade como membro da Justiça nos Trilhos e continuar lutando pela melhora da educação, do espaço de formação e da sociedade. “Isso tudo é importante, é uma troca de saberes que vai resultar em um livro que vai registrar a história do povo Guajajara, da T.I Rio Pindaré, que também vai ser um espaço de aprendizado para estudantes de Jornalismo”, ressaltou ele.

Em sua fala, Lanna Luiza explicou sobre o trabalho da Justiça nos Trilhos e pediu o compartilhamento de notícias publicadas no site e redes sociais @justicanostrilhos, sobre as causas sociais e ambientais. Lanna é egressa do curso de Jornalismo e relembrou a greve de alunos de 2014 que ajudou a organizar e resultou em melhorias para o curso. “Para mim, é motivo de muito orgulho voltar para a universidade e fazer um recorte mínimo, mas grandioso, sobre o trabalho que a gente executa, como também como entusiasta da comunicação popular poder contribuir com um evento importante como esse, que traz em sua essência os saberes ancestrais”, afirmou ela.

A palestra “Demarcando Telas Através da Imagem” foi uma realização do Love e da Justiça nos Trilhos, com apoio do curso de Jornalismo da UFMA. A palestra foi gratuita, para toda comunidade acadêmica e para quem tinha interesse no tema.

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Por Larissa Silva