Continua a articulação dos movimentos contra as mazelas da Vale na região de Parauapebas.
Justiça nos Trilhos divulga a ata de um dos vários encontros dos atingidos na região.
Aos dias vinte e seis do ano de dois mil e nove reuniram-se no salão paroquial da igreja católica da vila Bom Jesus município de Canaã dos Carajás oitenta e seis pessoas para tratarem sobre as mazelas do projeto de mineração Sossego da Companhia Vale do Rio Doce – Vale.
Além dos trabalhadores e trabalhadoras rurais presentes participaram também o sr. José Batista pela CPT, Raimundo Gomes da Cruz pelo CEPASP, José Luis e Jefersom pela Copserviços, Sebastião e Cláudia pela FETAGRI, José Ribamar(Pichilinga) pelo Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Canaã dos Carajás e o pastor Joaquim Rosa.Várias pessoas se pronunciaram para falar das mazelas.
O sr. José Anicassio falou dos ruídos durante todos os dias e noites, de máquinas, equipamentos e dos explosivos, da poeira, dos veículos, na vila Bom Jesus, que prejudicam 600 estudantes da escola, e projudica toda a população. As pessoas não podem mais usar o rio Parauapebas, a vale se diz dona do rio. Os guardas da Vale prendem as pessoas e leva para a delegacia de polícia, lá o delegado cobra fiança para soltar as pessoas.
Teve um senhor que falou que teve que pagar dois mil reais pela liberação de seu filho, o delegado queria seis mil. Com a compra de lotes e desvio de estradas, proprietários da VS-40 ficaram isolados. Na vila de Serra Dourada os moradores ficaram cercados por um proprietário e as áreas compradas pela Vale, até o poço onde pegam água, fica na área da Vale. As pessoas não tem terra e nem serviço, estão passando grande necessidade.
Seu Juvenal Rodrigues confirma a situação da VS-40 e afirma também que até a energia elétrica que era para chegar através do programa “Luz para Todos” foi paralisado. São 20 famílias prejudicadas.
Seu Jailsom Manoel afirma que ninguém da vila consegue trabalhar na Vale, estão discriminados e são considerados pela empresa como ladrões. Seu José Barros diz que só podem pescar até o meio do rio, se passarem do meio são presos. Seu Otabiano reclama que as plantações estão sendo atingidas pelos animais que são afugentados da área da Vale.
São todos humilhados pela empresa, as pessoas estão saindo do município em busca de trabalho. Os guardas andam encapuzados e sem distintivo na farda. A água que provocou alagação das áreas dos agricultores, este ano, é devida ao represamento feito pelos diques que foram construídos e à montanha de rejeitos.
O povo está na área desde 1983, era tudo muito bom, depois da chegada da Vale acabou a tranquilidade. Dona Maria de Lourdes, presidente da Associação de Mulheres da Vila Bom Jesus, diz que já fizeram muitas reuniões com a Vale mas as reivindicações não são atendidas. Falou que quando explodem as bombas, as casas estremecem, causando queda de telhas e rachaduras nas paredes. E que não aguentam mais esta situação, que o governo dê um jeito.
O pastor Joaquim Rosa falou das perdas de arroz, milho e mandioca com a alagação das áreas. Do odor e poeira causados pelos explosivos. Prender o pessoal da vila virou um comércio porque tem que pagar fiança. Existe perda da capacidade reprodutiva dos animais. Também os peixes pescados no rio Parauapebas apodrecem rápido.
Não havendo mais para tratar no momento, foi encerrada a reunião e lavrada a ata, assinada por várias pessoas que participaram do encontro.