“Não abrimos mão, em nenhuma hipótese, da segurança e do respeito à vida. Pessoas são mais importantes do que resultados e bens materiais. Se tivermos de escolher, escolhemos a vida”.
Esse proclama do site institucional da Vale, multiplicado pelo poder mediático de quase 180 milhões de R$ por ano investidos em propaganda, revela-se totalmente vazio quando alguém visitar as comunidades impactadas ao longo dos trilhos.
Vamos hoje visitar Alto Alegre do Pindaré, no Maranhão. O pároco, pe. Denys Perret, há anos trabalha na região. Sua indignação, porém, não diminuiu com o tempo: o padre não se conforma ao ver como, a cada dia, as crianças de Alto Alegre para ir para escola devem… passar debaixo do trem!
“Imaginem a dificuldade que as crianças enfrentam todos os dias, na hora de ingressar à escola, entre 7:00 e 7:30 hs, no momento em que estacionam dois trens quase todos os dias, devendo as crianças passar debaixo deles, com os riscos que isso representa, bem como para os adultos, e a falta de respeito à dignidade da pessoa devendo se baixar e até se sujar ou arriscando de se machucar!”
Em outubro do ano passado, exasperado, o padre organizou uma caminhada dos “missionários mirins”: crianças de todas as idades fizeram manifestação no local onde querem que a Vale construa uma passarela. Recolheu um abaixo-assinado das crianças e entregou-o ao Ministério Público. A partir dessa provocação e da pressão da rede Justiça nos Trilhos, o comitê de diálogo com as comunidades da Vale se acionou, prontamente. Visitou a comunidade, dialogou, escutou, prometeu, deu prazos e números de celulares para contatos seguintes.
O tempo passou, já quase dois meses, os prazos venceram, mas nenhuma resposta chegou. E aos celulares… ninguém está respondendo!
Outro ofício do padre, outras pressões ao Ministério Público, outro posicionamento da rede Justiça nos Trilhos… até quando essa brincadeira de esmolar os próprios direitos deverá continuar?
Dois anos antes, num município vizinho, o juiz Douglas de Melo Martins explicava ao povo o conceito de “responsabilidade objetiva da ferrovia” e todos os deveres que cabem à companhia que recebeu em concessão do Estado a estrada de ferro.
Justiça nos Trilhos reivindica urgentemente, junto à comunidade de Alto Alegre – Vila Fufuca, a construção de uma nova passarela no local, de uma largura suficiente para permitir o atravessamento também de motos e carroças.
Afinal, como diz a Vale, “pessoas são mais importantes do que resultados e bens materiais”…