Entre a luz suave da manhã e os ventos fortes que balançavam as árvores do espaço Fetaema, demos início ao IV Encontro Maranhense de Agroecologia, em São Luís. Aos poucos foram chegando representantes de diversas organizações e territórios, sendo recebidos em momentos de abraços, conversas e acolhidas.
Iniciamos a programação com a mística de abertura. Entre música e ciranda de boas vindas, foram levadas bandeiras, símbolos de ações, sementes e frutos de seus territórios, a fim de compor uma mandala ao centro da plenária. Dentre as organizações presentes do encontro e que compõem a Rede de Agroecologia do Maranhão está a Fetaema, Acesa, Tijupá, Assema, MST, MIQCB, CMTR, Moquibom, Justiça no Trilhos, GEDMMA, NEA Ifma e Monte Castelo, Cimi, ISPN, UAFMA, Carta de Belém, as Casas Familiares Rurais, entre outros.
Conforme nos conta Xóan Carlos, integrante da Justiça nos Trilhos e da coordenação executiva da rede, “a Rama é constituída por uma rede de mais de 20 entidades que constroem um movimento agroecológico a partir do conhecimento tradicional indígena, quilombola e camponesa. É um movimento político. E em nome de toda essa diversidade abrimos este encontro. Vamos fazer agroecologia!”, exclama.
A tarde seguiu com uma mesa de análise de conjuntura, onde o professor e pesquisador Horácio Antunes, do GEDMMA (UFMA), relatou os principais aspectos políticos e econômicos, desde o tempo da ditadura militar no país, que influenciaram e desaguaram nos cenários atuais. Ele relembra que foi durante os governos militares que se deu a implantação do Programa Grande Carajás, no Maranhão, e que hoje é um dos principais responsáveis pela destruição e violações de direitos em territórios tradicionais orquestrada pela Mineradora Vale S.A. Ele ressalta que mesmo após a redemocratização – e apesar de alguns ganhos expressivos com a Constituição de 88 – foi instaurado uma política neoliberalista, em que o estado intervém pouquíssimos no capital privado, gerando um aumento na política desenvolvimentista.
Nos anos 2000, mesmo diante de governos considerados “amigos”, Horário ressalta que não houve uma ruptura com a estrutura agrária que vem desde os tempos coloniais. “Até hoje o Brasil continua sendo campeão na concentração de terras”, pontua. Algo que se agravou com o atual governo federal com a expansão das políticas conservadoras e do agronegócio, desmonte das políticas públicas, ataques aos direitos humanos e agravamento dos conflitos do campo.
Diante de um processo eleitoral em curso, a Vanussa Guajajara, da Terra Indígena Rio Pindaré, trouxe a importância da resistência dos povos alinhada a uma ação de organização e ocupação política. “Porque apesar do território ser nosso, dos massacres, mesmo nossos sangues todo dia serem derramados, infelizmente nunca teve um indígena como presidente. Minha preocupação hoje é com a eleição do legislativo, não adianta gritar fora Bolsonaro e na urna não gritarmos outros fora.” Ela cita a Bancada do Cocar, projeto da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), que lançou mais de trinta candidatas e candidatos indígenas em 20 estados do país para a disputa deste ano.
Campanha de Combate Contra os Agrotóxicos
Além de discutir os principais conflitos e violência no campo, o primeiro painel do Encontro Maranhense de Agroecologia foi um espaço para fortalecer o debate sobre a Lei dos Agrotóxicos, em especial, sobre como barrar a pulverização de agrotóxicos no estado.“Precisamos estruturar uma ação mais efetiva em relação ao uso dos agrotóxicos no Maranhão. Já demos os primeiros passos em parceria com os estados do CE e RS, mas ainda é necessário ter em vigência em nosso estado uma lei”, ressalta o advogado Luís Antônio Pedrosa, que também resgatou em sua fala como os resquícios da colonização no Brasil ainda impedem os avanços no processo de regularização fundiária, espaço fértil para continuidade de conflitos e violência no campo.
Também integraram a roda de conversa, Jakeline Pivato e Nieves Rodrigues, ambas da Campanha Permanente dos Agrotóxicos e Pela Vida, trazendo elementos fundamentais para somar com a luta de quem planta na contramão do agronegócio e faz a agroecologia acontecer.
Apontaram os impactos causados pelos agrotóxicos e abordaram exemplos de iniciativas que a Campanha tem fortalecido ao longo de sua atuação. Como por exemplo, a plataforma que será lançada na próxima quarta-feira (21) às 16h pelas redes sociais da Campanha. “Nesse espaço virtual, daremos todo aparato para instruir quem deseja denunciar as violações de direitos humanos por agrotóxicos. Ele pode ser acessado pelo nosso site https://contraosagrotoxicos.org/ após o lançamento”, enfatizou a comunicadora da campanha, Nieves.
Para o segundo dia do encontro, está programado um intercâmbio em comunidades da zona rural de São Luís e outras experiências agroecológicas, painel sobre o enfrentamento às mudanças climáticas e um ato político da Agroecologia Nas Eleições.
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Cobertura pelo GT de Comunicação da RAMA.
Fotos: Ingrid Barros e Edigeny (APA-TO).